Natureza íntima de Deus

Francisco Muniz
(publicado originalmente na edição n.° 19 - Ano II - Dezembro de 1999)

"O homem pode compreender a natureza íntima de Deus?", pergunta Allan Kardec ao mensageiros do Espírito de Verdade, na décima questão de O Livro dos Espíritos. Os autores invisíveis da Doutrina Espírita responderam que não, que falta ao homem, para tanto, um sentido. Kardec, em seguida, dirige-se aos amigos espirituais nestes termos (questão 11): "Será um dia permitido ao homem compreender o mistério da Divindade?" A resposta nos esclarece que sentido seria esse que nos falta para nos facilitar essa compreensão: "Quando seu espírito não estiver mais obscurecido pela matéria, e por sua perfeição tiver se aproximado dela, então a verá e compreenderá".
Em decorrência de tal resposta, o Codificador faz o seguinte comentário: A inferioridade das faculdades do homem não lhe permite compreender a natureza íntima de Deus. na infância da humanidade, o homem o confunde muitas vezes com a criatura, cujas imperfeições lhe atribui; mas, à medida que seu senso moral se desenvolve, seu pensamento penetra melhor o fundo das coisas, e ele faz então, a seu respeito, uma ideia mais justa e mais conforme com a boa razão, embora sempre incompleta. Mas "se não podemos compreender a natureza íntima de Deus, podemos ter uma ideia de algumas de suas perfeições?", Kardec volta a indagar, ao que os Espíritos Superiores o informam positivamente: "Sim, de algumas (perfeições). O homem as compreende melhor à medida que se eleva sobre a matéria; ele as entrevê pelo pensamento".
Tudo isso quer dizer, simplesmente, que, embora estejamos ainda ,longe de penetrar a essência mesma de Deus, podemos tentar compreendê-la e pelo exercício da razão lograr esse intento, ainda que distantes da verdadeira realidade divina. Houve um tempo - e ele começa a se desvanecer por força da inteligência do homem - em que a Religião nos impunha um Deus semelhante ao homem (o conceito teológico que faz do homem criado à semelhança da Divindade é expressão dessa ideia). No discurso feito por ocasião do sepultamento do corpo que animou Allan Kardec, Camille Flammarion exclama, conforme transcrito em Obras Póstumas: "A Natureza abrange o Universo, e o próprio Deus, feito outrora à imagem do homem, a moderna Metafísica não o pode considerar senão como um espírito na Natureza".
Assim sendo, será necessário sempre fazer uso da razão para, primeiro, compreendermos quem somos e, de posse desse conhecimento, conseguirmos chegar à compreensão de Deus. Em sua primeira investida nas páginas de Visão Espírita, o escritor mineiro Henrique Rodrigues causou certa comoção ao declarar sua visão particular "disso a que chamamos Deus". O homem erra antropomorfizando Deus, dizia Rodrigues em eu artigo, mas, ressaltamos, sem parâmetros que nos levem a uma definição próxima da Verdade, a melhor maneira de nos aproximarmos da essência divina é trazendo-a para perto de nós, vendo-a e glorificando-a como a causa primária de tudo que é.

Comentários

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Gostei muito do artigo. Mas qualquer definição de Deus, na nossa condição, será precária.

    ADEMAR AMANCIO

    ================================

    Caro Ademar, muita paz.

    Agradeço-lhe pela visita, pelo elogio e pela reserva.
    Grande abraço.

    Obs.: Eu cliquei no lugar errado e, sem querer, deletei seu comentário original. Perdoe-me.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Abra sua alma!