Morando na filosofia

Francisco Muniz


Veio-me por inspiração, momentos antes de acordar nesta sexta-feira, a indicação de que a música de Monsueto Menezes "Mora na filosofia", composta em parceria com Arnaldo Passos e famosa pela interpretação de Caetano Veloso no disco "Transa" (vídeo acima), trata de um tratamento desobsessivo. Vejamos:

Mora na filosofia
(Monsueto)
Eu vou lhe dar a decisão
Botei na balança, você não pesou
Botei na peneira e você não passou
Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor?
Mora na filosofia
Pra que rimar amor e dor?
Se seu corpo ficasse marcado
Por lábios ou mãos carinhosas
Eu saberia, ora, vai mulher
A quantos você pertencia

Não vou me preocupar em ver
Seu caso não é de ver pra crer
Tá na cara

(Basicamente, são só esses versos, porque os restantes são mera repetição.)

Vamos à interpretação, que nos leva a buscar referência no episódio do Novo Testamento que fala da mulher referida por Jesus que fora atormentada por "sete demônios", situação que, no âmbito do Espiritismo, configura um quadro de obsessão espiritual.

Consideremos que de algum modo Monsueto conhecia (ou foi inspirado a isso) os meandros dos labores espíritas, uma vez que a Doutrina codificada por Allan Kardec no séc. XIX é uma filosofia espiritualista, daí ele sugerir o "mora" na filosofia. Não se trata de uma forma do verbo morar, mas da gíria corrente entre os anos 1960 e 1970, significando "observar, prestar atenção". Costumo dizer que ninguém precisa ser espírita, mas todos devemos conhecer o Espiritismo, a fim de identificarmos, compreendermos o que nos acontece e então tomarmos algumas providências preventivas ou profiláticas.

Monsueto pergunta "pra que rimar amor e dor?" não para falar da pobreza vocabular de certos poetas, mas para questionar o fato de nos ambientes espiritistas de então se proclamar que as pessoas adentram uma casa espírita por um de dois motivos: a dor, mais frequentemente, ou o amor, em raras ocasiões. Agora já se admite que muitos vão pela dor, premidos por alguma aflição de natureza física ou mental que os médicos não lograram diagnosticar, mas ficam pelo amor, porque os esclarecimentos doutrinários despertaram o senso de responsabilidade quanto à condução da própria vida.

Mas é a Ciência que dá a primeira palavra nos quadros enfermiços que amiúde acometem a maioria de nós, não importa a latitude onde nos encontremos. A Ciência ortodoxa, porém, só observa a realidade material, imediata e objetiva, sem condições de avaliar a alma dos enfermos. Contudo, se o profissional tem algum conhecimento dos processos de ordem transcendental, ou transpessoal, verá que o "caso não é de ver pra crer", pois os instrumentos científicos, que pesam e peneiram, foram incapazes de encontrar a causa da aludida enfermidade, de modo que "tá na cara" que o caso é da alçada do Espírito imortal.

Por isso é feita a recomendação ("eu vou lhe dar a decisão") de se procurar ajuda espiritual - no terreiro, no templo religioso, na casa espírita. Não podemos dizer nada dos primeiros, mas no ambiente dos centros vinculados à Doutrina Espírita não somente se faz o tratamento desobsessivo quanto se propõe o estudo de si mesmo, com as ferramentas que a Doutrina põe à disposição dos interessados. Essa disciplina, que ao mesmo tempo esclarece e consola, leva à transformação íntima da pessoa pelo autoconhecimento, afetando tanto o encarnado (obsidiado) quando o desencarnado (obsessor), conforme o saudoso escritor baiano João Ubaldo Ribeiro comentou numa deliciosa crônica falando de sua experiência.

Monsueto, por fim, trata da terapêutica desobsessiva espírita, que se utiliza do verbo esclarecedor e dos passes magnéticos pela imposição das mãos, recursos fluídicos que se impregnam nos veículos psicossomáticos do enfermo: "Se seu corpo ficasse marcado por lábios e mãos carinhosas", ou seja, o benefício ofertado pelos médiuns responsáveis pelo tratamento vêm de mais alto, da Espiritualidade Superior que, em nome da Divina Misericórdia, transmite os eflúvios salutares que visam a reequilibrar a criatura que padece os efeitos da perseguição espiritual.
 
Também esses perseguidores invisíveis são beneficiados no tratamento e não raro são quem mais aproveita esses recursos, melhorando-se antes mesmo do encarnado. Este, porém, fica à vontade para decidir se aprimorar no conhecimento e vivência do Espiritismo ou, sem isto, tornando-se uma pessoa mais comprometida com o bem e a Verdade, sendo então um homem ou mulher de bem, na família e na sociedade.

Comentários

  1. Infelizmente existem pessoas que se acostumam com esse ritmo de sentimento. Relacionamento, sofridos complicados. Deixando refletir, transparecer falta de amor próprio. Tanto mulher, quanto homem.. Pessoas com esse tipo de características, mudem com esse tipo de sentimento. Tenham amor próprio.

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    1. Este comentário foi removido pelo autor.

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    2. Nosso desejo não tem poder suficiente para mudar quem quer que seja. Mas pode ser que, com nosso exemplo, em atitudes desinteressadas, alguém possa seguir na mesma direção...

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  2. Sem dúvida! O exemplo é a base de tudo, mesmo.

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