O mais antigo Centro Espírita de Feira de Santana

Por Zadir Marques Porto


Fotos: acervo de Zadir Marques Porto


Não foram simples, como pode parecer, os primeiros passos do espiritismo em Feira de Santana. Havia resistência da sociedade local, tradicionalmente católica, em relação à doutrina surgida na Europa, tendo como mentor o francês Allan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail). Todavia, perseverantes, alguns idealistas mantiveram-se firmes no propósito e, no ano de 1936, fundaram o Centro Espírita Paz dos Sofredores que, com seu pioneirismo, garantiu o surgimento posterior de congêneres.

Tendo como precursor o professor francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (1804–1869), que se autodenominou Allan Kardec, o espiritismo — considerado uma ciência experimental, filosofia e religião — teve os seus primeiros lampejos em Feira de Santana na década de 1930, quando a população do município caminhava para 80 mil pessoas, majoritariamente residente na zona rural (cerca de 60 mil). A doutrina, ainda pouco conhecida, sofria muitas restrições por parte de alguns segmentos sociais no Brasil, país predominantemente católico — e em Feira de Santana não era diferente.

Portanto, não foi fácil aqui, como em outras comunidades, a aceitação imediata da doutrina codificada por Allan Kardec que, dentre outras formulações, traz a premissa da existência da alma e da possibilidade de comunicação entre pessoas vivas e desencarnadas — essa, a princípio, foi a maior barreira enfrentada pelos adeptos dessa denominada “ciência experimental”.

Todavia, já no ano de 1935, um pequeno grupo, talvez mal chegando a uma dezena de pessoas, deu os primeiros passos para a introdução oficial da doutrina espírita na cidade Princesa. Anísio Cotó (Anísio Alves Paixão) e a esposa, dona Maria Barbosa, que era médium; José Pereira Mascarenhas, Petrônio Pinho, Odilon Figueiredo (Loló), Adalgisa Mascarenhas (dona Ziza), João Oliveira, Hildebrando Ramos, Manoel da Costa e Jorge Cerqueira Mascarenhas formaram esse “time” determinado, ao qual o espiritismo feirense tem um permanente reconhecimento. A esses juntava-se José Pataro dos Santos, que se deslocava de Salvador com orientações e apoio decisivo.

Pode-se perceber nesse grupo, considerado introdutor da doutrina em Feira de Santana, o nome de Jorge Cerqueira Mascarenhas — ou “seu Jorge da Padaria”, como ficou conhecido por ser proprietário da lendária Padaria da Fé, na Rua Sales Barbosa —, além de outras pessoas da família Mascarenhas. A princípio, as reuniões do grupo eram realizadas, com certo sigilo, na residência de Anísio Cotó e dona Maria Barbosa, na Rua da Aurora (Rua Desembargador Filinto Bastos). Mas os corações, de forma comunal, pediam um espaço próprio, até porque já se sentia a afluência de outras pessoas de natureza espiritualista.

Assim, mediante mutirão, foi iniciada a edificação da sede própria do Centro Espírita Paz dos Sofredores, na Rua Castro Alves, 1.298, onde permanece até hoje. Para isso, foi fundamental a participação de José Pereira Mascarenhas, que fez a doação da área física para a construção do prédio, além de contribuir diretamente na sua edificação. Assim, no dia 17 de maio de 1936, passava a existir oficialmente o Centro Espírita Paz dos Sofredores. O título já existia, previamente recebido de forma mediúnica, durante uma reunião na casa de Francisco Perino Pinto (Petu), onde foi vista nitidamente uma faixa que trazia a inscrição: “Centro Espírita Paz dos Sofredores”.

Muitas outras pessoas da sociedade feirense foram, gradativamente, se incorporando ao grupo. Citamos alguns aqui, sem ordem cronológica: Osvaldo Requião, Nair Mascarenhas, Lindaura, Hilda Portugal, Daurinho e Valdomira Azevedo, Raimunda Delmondes, Eloídes, Ivo Raimundo Santana, Eunice Dantas, João Oliveira, Maria Augusta, José Paulo Mascarenhas, Irene Cardoso, Lenice Diniz, Francisco Assis Barbosa, Humberto Mascarenhas, Carlos Pires, Altamirando José, Gilson Cordeiro e José Ferreira Pinto.

Ao longo dos seus quase 89 anos de existência, o Centro Espírita Paz dos Sofredores, independentemente do cumprimento da sua missão doutrinária, tem se esmerado na ação social, recepcionando e abraçando aqueles que ali chegam em busca de apoio espiritual, aconselhamento ou mesmo de ajuda em alimentos, medicamentos e agasalhos. Para tanto, são mantidas três sessões semanais, à tarde: às terças-feiras (atendimento fraterno), quartas-feiras (sessões mediúnicas) e sextas-feiras (sessões doutrinárias). São ofertadas cestas básicas, e há um bazar externo semanal, com o objetivo de contribuir para o bom andamento da programação, mantida com extrema fé e boa vontade. Os integrantes do Centro esperam contar com maior apoio da comunidade para a manutenção e ampliação dessa ação social. A entidade conta com a Biblioteca Osvaldo Requião, com um bom acervo de publicações da literatura espírita — livros e revistas — que podem ser retirados por empréstimo ou adquiridos pelo interessado.

A eleição da diretoria do Centro Espírita Paz dos Sofredores é feita de dois em dois anos, e a atual (biênio 2023/2025) tem a seguinte composição: Edson Silva Santos (presidente), Genival Souza (vice), Edilio Lopes Pereira (1º secretário), Jaqueline Oliveira (2ª secretária), Helton Dourado Casaes e Marcelo Mascarenhas (tesoureiros e conselho fiscal), Lourdes L. Barros (diretora de Assuntos Mediúnicos), Maria Lúcia Santos (diretora do Departamento Doutrinário), Orlando Santos e Helton D. Casaes (promoção social), Maria Helena Freire (assistente mediúnica), José Raimundo Queiroz (assistente do Departamento Doutrinário), Zilda Lopes Lima (preservação do patrimônio), Welliton Lima Narciso (departamento bibliotecário), Iara Margarida Santana (diretora administrativa), Adenivaldo e Caio Zuarte Souza (fiscais), Maria Virgínia Leão, Vanessa Santos Silva e Marielza Borges Souza (atendimento fraterno espírita).

(Fonte: Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal de Feira de Santana - https://www.feiradesantana.ba.gov.br/secom)

(Trilha sonora: "Autumn leaves" - Nat King Cole)

Comentários

  1. Muito importante esse resgate de memórias,alerta para a garra e perseverança desses antecessores que pavimentaram a estrada que estamos a trilhar. Superaram a resistência e intolerância da sociedade com muita coragem e determinação.

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    1. Sim, agora é nossa vez de marchar para a frente e para o alto!

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