Galeria da mediunidade extra (LXXVII)


HELENA VIEIRA COSTA (Mãe Helena)

No histórico do Lar Espírita Mãe Helena, localizado na cidade de Alagoinhas, destaca-se o nome da médium Helena Vieira Costa, que desde 1931, aos treze anos de idade, tendo concluído o curso primário, dedicara-se ao convívio com crianças. Em 1935 ela fundou uma escola que recebeu o nome “Colégio Senador Manuel Vila-Boim”, à rua Conselheiro Dantas n° 48, hoje praça Kennedy, nesta cidade de Alagoinhas-Bahia, o qual foi reconhecido pela Liga Bahiana contra o Analfabetismo após alguns anos. Quando o referido Colégio já contava com uma frequência de 80 a 90 alunos, Bernardete de Araújo e Alice Maria Silva, empenhadas na tarefa de educar crianças, uniram-se a Helena Vieira no sentido de ajudá-la. Aí trabalharam durante doze anos. Foi uma relevante cooperação. 

Em janeiro de 1938, Helena tomou conhecimento de que em Alagoinhas Velha residia desventurada mulher tentando provocar aborto. Contagiada pelos comentários e envolvida de amor aos pequenos, Helena, juntamente com Germínia de Andrade Batista, foi à procura da referida senhora para certificar-se do fato “in loco”; encontrando-a, constataram que a inditosa mulher já havia perdido, provocadamente, seis filhos e não aceitava o nascimento do próximo, dizendo não ter condições para criá-lo. Foi difícil a tarefa de persuasão. Comprometeram-se, previamente, a adotar a criança, assumindo total responsabilidade sobre a mesma. Assim, elas conseguiram convencê-la, salvando a vida da pequena que nascera no dia 3 de junho de 1938, sendo-lhes entregue vinte e quatro horas após o nascimento.

Esta criança que se chamava Heloisa teve a felicidade de possuir duas mães: Helena e Germínia. Passava porém a maior parte do tempo com Helena. Conquanto fosse desprovida de beleza física, era compensada com boa dosagem de desenvolvimento mental, atraindo a todos que dela se aproximavam com sua meiguice e vivacidade. Devemos salientar que a genitora de Lóia (assim era apelidada) nunca compareceu à casa de Helena Vieira, nem demonstrou vontade de conhecer a filha. Já com quatro anos de idade, Lóia jamais ouvira falar na existência de uma mãe, não conhecendo, portanto, Alagoinhas Velha.

Ao final de 1942, suas mães Germínia e Helena preparavam-se para passar o dia 1° de janeiro com uma amiga em Alagoinhas Velha e Lóia desejou acompanhá-las, o que lhe foi negado, pois chovia bastante. Insistentemente, Lóia diz-lhes: "Quero ver a outra mãe", frase que surpreendeu sobremodo as duas, pois nunca lhe haviam declarado a existência de outra mãe. Assim, resolveram levá-la pela primeira vez a Alagoinhas Velha, que dista dois quilômetros da cidade de Alagoinhas. Lá chegando, fato interessante ocorreu: em dado momento, a garota soltou-lhes as mãos e saiu correndo em direção a um casebre e bateu exatamente onde residia aquela que lhe dera à luz três anos antes. Ao vê-la disse: “Só vim olhar sua cala, mãe feia”. Apontando para Helena, a infeliz mulher falou: “Não tenho filhos, sua mãe é essa aí”.

Helena e Germínia, impressionadas pelo comportamento da menina, dirigiram-se para a casa onde iam passar o dia. Ao chegarem, foi-lhes oferecido um cafezinho do qual a menina também se serviu. Imediatamente, Lóia sai a brincar com outras crianças, voltando momentos depois com uma carambola na mão, já tendo comido mais da metade. Temendo fazer-lhe mal, Helena tomou a fruta e Lóia volta a brincar. Passaram a tarde sem anormalidades. Na madrugada do dia seguinte, a menina teve um ataque de congestão, ficando o corpinho todo roxo. Foi imediatamente socorrida por sua mãe Helena e, posteriormente, chamou-se o médico que a examinou e receitou.

Comprado o medicamento, foi-lhe dada a primeira colherada; após minutos, a crise se repetiu, paralisando o funcionamento intestinal e o renal; conquanto tivesse noção das coisas, permanecia parada, deixando suas mães bastante preocupadas e tristes. Às vinte e quatro horas desse mesmo dia, com muita segurança e olhando para sua mãe Helena, falou: “Vou dizer uma coisa: não chore. Eu vou embora amanhã. Eu vou embora amanhã. Quero um vestido branco e bem bonito. Você "fazeu", mainha?" Helena confirma e inquire: "Sim, minha filha, mas para onde você vai?" A menina tenta consolar a mãe aflita:  “Não sei, sei que vou embora. Não chore que em maio eu volto”.

E assim, às oito horas do dia 3 de janeiro de 1943, ainda na presença dos médicos Dr. Israel Pontes Nonato e Dr. Aurélio Falcão, que reunidos tentavam salvá-la, desejou Lóia se despedir de mãe Helena, que havia saído para comprar remédio. Satisfazendo seu último desejo, Sr. Oscar Vitor de Deus, na época presidente do Centro Espírita Fé e Luz, saiu ao encontro de Mãe Helena, fazendo-a voltar. Ao chegar, ainda pôde ouvi-la: “Oh! Mainha, pensei que ia embora sem lhe ver. Em maio eu volto”. Com muita calma, toma as mãos da mainha, que se encontrava com os olhos molhados de lágrimas, acariciando-as. Com um pálido sorriso e fechando os olhinhos lentamente, desencarna.

Em novembro de 1944, vinte meses depois do desencarne de Lóia, eis que surge na feira local uma pobre mulher oferecendo uma criança do sexo feminino com seis meses de idade, a qual, solicitada por Helena, foi-lhe entregue, trazendo no documento de batistério o nome de Maria Augusta, nascida a 8 maio de 1944. Acolhendo Maria Augusta, Helena volta a sentir-se mãe e, meses depois, aceita mais três meninas: Josefa das Neves, Maria Célia Novaes e Maria de Lourdes, com quatro, cinco e oito anos respectivamente, as quais encontraram portas abertas e carinhoso acolhimento. Assim, Mãe Helena começa contagiar as companheiras, irmãs de fé, conseguindo formar entusiasticamente um grupo beneficente composto das seguintes pessoas: Germínia de Andrade Batista, Eduarda Silva Novais, Alderina Magalhães e Maria dos Anjos Nogueira.

Posteriormente resolveram fundar a “Casa de Mãe Helena”, o que aconteceu a 8 de maio de 1945, dia do primeiro aniversário de Maria Augusta, primogênita do Lar, e na semana comemorativa do dia das Mães. Para Helena Vieira, não havia dúvidas quanto à volta de Lóia, na pessoa de Maria Augusta, ratificando as palavras proferidas quando enferma: "Em maio eu volto”.

Contraindo matrimônio em 8 de dezembro de 1945 com o Sr. Omar Ferreira Costa, Helena Vieira leva consigo as suas crianças, continuando na profissão de parteira, tarefa a que deu inicio em 1935, aos 17 anos de idade. Em 1946, agraciada pela misericórdia divina, Helena recebeu seu primeiro filho legítimo: Edson Santana Vieira Costa. Nesta ocasião, por força das circunstâncias, Helena confia as responsabilidades do Colégio Senador Manoel Vila-Boim às companheiras de ideal, afastando-se das atividades escolares. Um ano depois, chega seu segundo filho: Eliomar Vieira Costa; e, em 1949; nasce a sua filha caçula, que recebeu o nome de Odeara Maria Vieira Costa.

Três meses após o nascimento da menina, seu esposo, inesperadamente, afasta-se do lar, causando com isto um profundo sofrimento a Helena, que procura, numa luta constante, encher o vazio que ele deixou. Empenha-se mais ativamente no serviço de partos, atendendo a qualquer hora do dia ou da noite às suas parturientes. Mesmo àquelas que não podiam pagar por seu serviço, o que muito comumente acontecia. Para a parteira Helena, apenas interessava o fato de fazer nascer uma criança, dando pouca atenção ao meio ambiente, enfrentando constantemente zonas de moral não aprovada, dando sempre a todas que a procuravam a mesma dedicação, os mesmos cuidados.

Era amarga sua vida, tendo que enfrentar sozinha as dificuldades que se lhe apresentavam. Chegando ao conhecimento do Sr. Aurélio Valente, então inspetor do Banco do Brasil, que a irmã Helena passava crises econômicas e nem ao menos podia corresponder ao aluguel da casa que ocupava com sua prole, este se comprometeu-se a pagar o aluguel da referida casa, dizendo a ela que podia receber a oferta como se fosse das mãos de seu próprio pai, pois esse dinheiro não lhe queimaria as mãos e nem lhe feriria a alma, o que fez durante dois anos por intermédio do Sr. Oscar Vitor de Deus, que recebia a importância, pagava e lhe remetia os recibos. Continua nessa luta até 1956, quando o proprietário da casa lhe solicitou o imóvel. Helena demonstra então desejo e necessidade de adquirir um imóvel.

Calhou que o dono da casa 53 sita à rua Sete de Setembro, Sr. Maximiniano da Silva Ribeiro, pretendia vendê-la. Ao tomar conhecimento desse fato, Helena partiu para a compra, indo ao encontro do referido senhor, que lhe disse custar a mesma 85 contos. Contando-lhe que apenas possuía, reservada para uma real necessidade, a quantia de vinte contos, esta foi aceita como sinal e princípio de pagamento, sendo o restante dividido em parcelas de cinco contos. Na época, contou com a ajuda da senhora Alderina Magalhães que lhe emprestou quarenta o contos. Mais tarde, o pagamento da referida importância foi dispensado, em beneficio da educação das crianças, que já somavam o número de vinte e duas.

A diretoria do Cristanato Espírita Esperantista de Alagoinhas, centro vinculado ao orfanato ou casa Mãe Helena, que também organizou, estudou e aprovou um estatuto que deu à entidade uma nova denominação: "LAR ESPÍRITA MÃE HELENA". Foi aclamada patrona do Lar a senhora Alderina Magalhães, que havia desencarnado em março daquele mesmo ano, pelo mérito e pela dedicação reconhecidos. Continua Mãe Helena na missão de proteger e amparar os filhos alheios, órfãos inclusive de pais vivos; cada dia que passava mais e mais crianças eram encaminhadas para o Lar. Só eram porem acolhidas as do sexo feminino. 

Decorridos dez anos da ausência do seu esposo, Mãe Helena recebe dele uma carta comunicando-lhe onde se encontrava e pedindo-lhe para retornar ao lar. Só então ela veio a saber que ele residia no Rio de Janeiro e era funcionário da Aerovias Transportes Aéreos Cruzeiro do Sul. Em resposta, ela lhe diz que as portas de sua casa jamais estiveram fechadas para ele, já então seriamente doente, vindo a desencarnar repentinamente no local de trabalho, a 1° de dezembro de 1959, antes da data prevista para  seu retorno, que seria pelo Natal.

Tendo o Sr. Adolfo Mendes de Souza criado, em 1958, nesta cidade de Alagoinhas, uma escola primária que se denominava "Escola Divino Mestre", a qual funcionava com regularidade à rua 14 de Janeiro n° 44, e necessitando, em 1965, fixar residência em Salvador, passou o estabelecimento para a responsabilidade do Lar Espírita Mãe Helena, que apenas o transferiu de local, hoje funcionando à rua Conselheiro Luiz Viana n° 290, de propriedade do Lar. Esta escola servia gratuitamente às crianças pobres do bairro e às do Lar, sem nenhuma ajuda dos poderes públicos, assim mantida até 1972, funcionando em dois turnos: matutino e vespertino, cujas professoras eram remuneradas pela própria Mãe Helena. Em 1973, a escola começa a contar com a ajuda da Prefeitura Municipal de Alagoinhas, na gestão do Sr. Judélio Carmo, que, formando um convênio, passou a remunerar quatro professoras, sendo uma delas Maria Lúcia Vieira de Santana, filha do Lar que submeteu-se ao vestibular na Universidade Federal da Bahia, logrando êxito. Em substituição a esta, ficou a professora Kardecília Maria Silva, também filha do Lar.

Em 1966 é fundada em Alagoinhas uma maternidade com capacidade para atender satisfatoriamente à população, principalmente depois de ter feito convênio com o INPS. Em consequência desse progresso, a parteira Mãe Helena sentiu que o número de clientes diminuiu consideravelmente. E, quando desgastadas suas energias, não sendo suficiente a verba que a fazia cobrir as necessidades de suas trinta filhas, viu-se na iminência de ter que perdê-las, só lhe restando dois caminhos: doá-las a casais ou devolvê-las ao desamparo. 

Mãe Helena, envolvida pelo nobre sentimento maternal, apela para o Lar Fabiano de Cristo, órgão da CAPEMI, que exigiu documentos que comprovassem a existência e funcionamento do Lar, no que foi atendido. Um mês depois, recebe o Lar de Mãe Helena a visita do Diretor Presidente do Lar Fabiano de Cristo, o Cel. Jaime Rolemberg de Lima, e sua equipe de trabalho. Incentivando o acolhimento de crianças dos dois sexos, foi-lhe dada uma ajuda mensal em gêneros alimentícios, a qual mais tarde foi substituída por uma quota comprovada mensalmente pela apresentação de balancetes.

Em 1970 foram comemoradas as bodas de prata do Lar, contando com a presença das senhoras Germínia de Andrade Batista e Eduarda da Silva Novais, que vinte e cinco anos antes uniram-se a Mãe Helena para formar o Lar. Ainda em 1970, o Lar Espírita Mãe Helena recebeu a visita dos Drs. Jobi da Silva Brasileiro e Raimundo Rodrigues dos Santos, funcionários do Lar Fabiano de Cristo, os quais prestaram seus serviços às crianças comprovando que o aspecto pálido apresentado por algumas delas era proveniente do local em que viviam; assim, sugeriram a mudança de residência para uma casa que tivesse área livre onde elas pudessem receber mais diretamente os raios solares. Sentindo a gravidade do problema, o Sr. Jaime Rolemberg de Lima autorizou a compra de uma casa em nome do Lar Fabiano de Cristo, para onde seria transferido o Lar de Mãe Helena, o que foi efetuado pelo gerente da agência da Caixa de Pecúlio dos Militares Beneficente em Salvador, Sr. Augusto Santana Soares, em janeiro do ano seguinte. Com a transferência do Lar Espírita Mãe Helena para casa de propriedade do Lar Fabiano de Cristo, situada na rua Conselheiro Luiz Viana n° 431, em Alagoinhas, tornou-se mais eficiente a assistência prestada por aquela Instituição, que se unira ao Lar Espírita Mãe Helena com o tão abençoado objetivo de proteger e amparar a infância.

Empenhada sempre na espinhosa tarefa a que se propôs, Helena Vieira Costa, com 57 anos de idade e 31 anos de luta pela proteção dos filhos alheios, filhos do seu coração, teve uma vida excessivamente trabalhosa, resultando disto ter uma saúde bastante debilitada, sendo portadora de doença cardíaca, artrite reumática e, recentemente, maltratada pela diabete e suas consequências, vindo a desencarnar no dia 20 de março de 1995. 

O Lar Fabiano de Cristo premiou o Lar com uma auxiliar de nome Letícia Maria Vasconcelos, no período de agosto de 1974 a 30 de novembro de 1975. No decorrer desses trinta e um anos, graças à proteção de Jesus e à vigilância da dedicada mãezinha, no Lar foram registrados apenas três óbitos. Enquanto teve forças, Mãe Helena realizou, na condição de parteira, mais de 10 mil partos, além de acolher maternalmente cinquenta crianças em seu Lar, sendo quatorze do sexo masculino e trinta e seis do sexo feminino. Desse modo dedicou Helena o resto de sua vida, nesta encarnação, às crianças, confiando sempre na proteção de Jesus e no amparo do Lar Fabiano de Cristo.

(Fonte: https://larespiritamaehelena.webnode.com.br)

(Trilha sonora: "Sinfonia n.º 9" - Anton Dvorak) 

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