Francisco Muniz
Capítulo X - Ocupações e missões dos Espíritos
Questões 558 a 584a
Além de se melhorarem pessoalmente, os Espíritos têm muitas coisas a fazer, pois concorrem para a harmonia do Universo, executando as vontades de Deus, de que são ministros. A vida espiritual é uma ocupação contínua, mas que nada tem de penosa, como a vida na Terra, porque não existe a fadiga corporal, nem as angústias das necessidades. Assim, também os Espíritos inferiores e imperfeitos desempenham função útil no Universo, pois todos têm deveres a cumprir. O menos qualificado dos pedreiros não concorre para a construção do edifício, tanto como o arquiteto? Cada Espírito, portanto, tem as atribuições que lhe cabem. Vale dizer que têm de habitar em toda parte e adquirir o conhecimento de todas as coisas, presidindo sucessivamente a todos os componentes do Universo. Mas, como diz o Eclesiastes (1), há tempo para tudo. Desse modo, tal Espírito cumpre hoje neste mundo o seu destino, tal outro cumprirá ou já cumpriu o seu, em outra época, na terra, na água, no ar, etc.
As funções que os Espíritos desempenham na ordem das coisas não são permanentes nem são atribuições exclusivas de certas classes, pois todos têm que percorrer os diferentes graus da escala para se aperfeiçoarem - Deus, que é justo, não poderia ter dado a uns aa ciência sem trabalho, enquanto outros só adquirem com muito esforço. Já não tendo o que adquirir, os Espíritos da ordem mais elevada não se acham em repouso absoluto, tendo ainda ocupações. Ou o que quereríamos que fizessem durante a Eternidade? A ociosidade seria um eterno suplício. A natureza dessas ocupações consiste em receber diretamente as ordens de Deus, transmitidas ao Universo inteiro e velar por sua execução. As ocupações dos Espíritos são incessantes, sim, se entendermos que seu pensamento está sempre ativo, posto que vivem pelo pensamento. Mas não devemos equiparar as ocupações dos Espíritos com as ocupações materiais dos homens. Sua própria atividade já é um gozo, pela consciência que têm de ser úteis.
Ainda que tal se refira aos bons Espíritos, com os inferiores é semelhante, posto que eles têm ocupações apropriadas à sua natureza. Confiamos ao trabalhador braçal e ao ignorante os trabalhos do homem intelectual? Entretanto, há, entre os Espíritos, aqueles que são ociosos ou que não se ocupam de alguma coisa útil, mas esse estado é temporário e subordinado ao desenvolvimento de suas inteligências. Certamente que os há, como há homens que só vivem para si mesmos; mas essa ociosidade lhes pesa e, cedo ou tarde, o desejo de progredir faz com que experimentem a necessidade da atividade e se sentirão felizes por poderem tornar-se úteis. Estamos nos referindo a Espíritos que chegaram ao ponto de terem consciência de si mesmos e do seu livre arbítrio, porque, em suas origens, são como crianças que acabam de nascer, agindo mais por instinto do que por vontade firme.
Os Espíritos podem examinar nossos trabalhos de arte e se interessam por eles principalmente quanto ao que possa provar a elevação dos Espíritos e seus progressos. Um Espírito que se dedicou a uma especialidade na Terra, um pintor ou um arquiteto, por exemplo, não se interessa mais pelos trabalhos que constituíram objeto de sua predileção durante a vida porque tudo se confunde num objetivo geral. Se for bom, o Espírito se interessará por eles desde que que lhe permitam auxiliar as almas a se elevarem para Deus. Aliás, esquecemos que um Espírito que cultivou certa arte na existência em que o conhecemos pode ter cultivado outra, em outra existência, já que é preciso que saiba tudo para ser perfeito. Assim, conforme o grau de seu adiantamento, pode ser que nenhuma delas constitua uma especialidade para ele. É isso que os Espíritos entendem quando dizem que tudo se confunde num objetivo geral.
Sublimidade relativa
Notemos ainda o seguinte: o que é sublime para nós, neste mundo atrasado, não passa de infantilidade, comparado ao que há nos mundos mais adiantados. Como pretendermos que os Espíritos que habitam esses mundos, onde existem artes que desconhecemos, admirem algo que, para eles, não passa do trabalho de um aprendiz? Como já foi dito, eles examinam o que possa provar o progresso. É compreensível que seja assim quanto aos Espíritos elevados; os mais vulgares, contudo, por estarem ainda no nível das ideias terrenas, o caso é diferente. Como seu poder é mais limitado, eles podem admirar o que nós mesmos admiramos. Os Espíritos vulgares, como dizemos, se intrometem, sim, em nossas ocupações e em nossos prazeres. Esses nos rodeiam constantemente e por vezes tomam parte muito ativa no que fazemos, conforme sua natureza. Para impulsionar os homens nos diversos caminhos da vida, é preciso que suas paixões sejam estimuladas ou moderadas. Se têm missões a cumprir, os Espíritos a cumprem tanto encarnados quanto desencarnados.
Para certos Espíritos errantes, é uma grande ocupação. Para eles, essas missões são tão variadas que seria impossível descrevê-las. Aliás, existem algumas que não podemos compreender. Os Espíritos executam a vontade de Deus, e não podemos penetrar todos os seus mistérios. Os Espíritos, contudo, não percebem sempre os desígnios que lhes compete executar, pois há os que são instrumentos cegos. Outros, porém, sabem perfeitamente com que fim atuam. A importância das missões guarda relação com as capacidades e com a elevação dos Espíritos. Um estafeta que leva um telegrama desempenha uma missão, embora bem diversa da de um general. Por isso, nem só os Espíritos elevados desempenham missões. A missão é pedida e o Espírito fica feliz em obtê-la. Embora a mesma missão possa ser pedida por vários Espíritos, posto haver mais candidatos, geralmente, nem todos são aceitos para o cumprimento delas. Já a missão dos Espíritos encarnados consiste em instruir os homens, em ajudá-los a progredir, em melhorar suas instituições, por meios diretos e materiais.
Mas as missões são mais ou menos gerais e importantes. Aquele que cultiva a terra desempenha uma missão, do mesmo modo que aquele que governa ou que instrui. Tudo se encadeia na Natureza. O Espírito se depura pela encarnação, concorrendo, ao mesmo tempo, para a execução dos desígnios da Providência. Cada um tem sua missão neste mundo, porque todos podem ser úteis em alguma coisa. Há pessoas que realmente só vivem para si mesmas e que não sabem tornar-se úteis para alguma coisa. Não há a missão de serem voluntariamente inúteis. São pobres seres que devemos lamentar, porque expiarão cruelmente sua inutilidade voluntária; muitas vezes, seu castigo já começa neste mundo, pelo tédio e pelo desgosto que vida lhe causa. Podiam escolher, mas preferiram uma existência que não lhes traria nenhum proveito, porque entre os Espíritos também há preguiçosos que recuam diante de uma vida de trabalho. Deus lhes permite agir assim, mais tarde compreenderão, à própria custa, os inconvenientes de sua inutilidade e eles mesmos pedirão para recuperar o tempo perdido. Pode ser também que tenham escolhido uma vida mais útil e que hajam recuado diante da execução da obra, deixando-se levar pelas sugestões dos Espíritos que os induzem à ociosidade.
É pelas grandes coisas que realiza e pelo progresso a que conduz seus semelhantes que um homem é reconhecido na missão que o trouxe à Terra, posto que as ocupações comuns mais parecem deveres. A missão, conforme a ideia que se associa a esta palavra, tem um caráter de importância menos exclusivo e menos pessoal. Os homens que nascem com uma missão a cumprir foram predestinados, mas poucos têm consciência disso. Ao virem à Terra, têm apenas um vago objetivo. Suas missões só se delineiam após o nascimento e de acordo com as circunstâncias. Deus os impele ao caminho em que que devem cumprir seus desígnios. Mas nem tudo o que o homem faz resulta de missão predestinada. Muitas vezes ele é o instrumento de que se serve um Espírito para fazer se execute uma coisa que considera útil. Por exemplo, um Espírito julga que seria bom escrever um livro, que ele próprio escreveria se estivesse encarnado. Procura então o escritor mais apto a compreender e executar seu pensamento; transmite-lhe a ideia do livro e o dirige na execução. Assim, esse homem não veio à Terra com a missão de fazer tal obra. Dá-se o mesmo com certos trabalhos artísticos ou com as descobertas.
Conhecimento de causa
Deve-se dizer ainda que durante o sono corporal o Espírito encarnado se comunica diretamente com o Espírito errante, e que os dois se entendem acerca da execução do trabalho. E, sim, o Espírito pode falir em sua missão por sua própria culpa, se não for um Espírito superior. Como consequência, ele terá que retomar a tarefa, sendo esta sua punição. Depois, sofrerá as consequências do mal que haja causado. Deus confia missão importante e de interesse geral a um Espírito que pode falir porque sabe se seu general alcançará a vitória ou será vencido. Seus planos, quando importantes, não são confiados aos que hajam de abandonar a obra pela metade. Para nós, toda a questão está no conhecimento que Deus tem do futuro, mas que nada nos é concedido. O Espírito que encarna para desempenhar uma missão não tem o mesmo receio de outro que o faz por provação, porque ele tem experiência. Os homens que servem de faróis ao gênio humano, que o iluminam com seu gênio, certamente têm uma missão. Porém, entre eles há os que se enganam e que, ao lado de grandes verdades, propagam grandes erros. Deve-se considerar a missão desses homens como falseada por eles próprios. Estão abaixo da tarefa a que se propuseram executar. No entanto, é preciso levar em conta as circunstâncias; os homens de gênio têm que falar de acordo com as épocas em que vivem. Assim, um ensinamento que pareceu errôneo ou pueril numa época adiantada, pode ter sido suficiente para o século em que foi divulgado.
A paternidade sem dúvida é uma missão. É, ao mesmo tempo, um dever muito grande e que envolve, mais do que o homem pensa, sua responsabilidade quanto ao futuro. Deus colocou o filho sob a tutela dos pais, a fim de que estes o dirijam pelo caminho do bem, e lhes facilitou a tarefa dando à criança uma organização frágil e delicada, que a torna acessível a todas as impressões. Mas há quem se ocupe mais em endireitar as árvores de seu jardim e fazer que deem bons e abundantes frutos, do que endireitar o caráter de seus filhos. Se este vier a sucumbir por culpa dos pais, sofrerão os genitores as consequências dessa queda, recaindo sobre eles os sofrimentos do filho na vida futura, por não terem feito tudo quanto deles dependia para que o filho avançasse na estada do bem. Contudo, os pais não são responsáveis pelo transviamento de um filho que envereda pela senda do mal, apesar dos cuidados que lhe dispensaram. Mas quanto piores forem as propensões do filho, tanto mais pesada é a tarefa e tanto maior o mérito dos pais, se conseguirem desviá-lo do mau caminho.
Porque Deus é justo, se um filho se torna homem de bem, a despeito da negligência ou dos maus exemplos de seus pais, tiram estes algum proveito desse fato. O conquistador que só tem em vista satisfazer sua ambição e que, para alcançar esse objetivo, não recua diante de nenhuma das calamidades que vai espalhando, na maioria das vezes não passa de um instrumento de que Deus se serve para cumprimento de seus desígnios, representando essas calamidades um meio para fazer que um povo progrida mais rapidamente. Nisso consiste sua missão. Aquele que é instrumento dessas calamidades passageiras não tem nenhuma parte na produção do bem que daí possa resultar, pois que visava apenas a um fim pessoal. Mesmo assim, tirará algum proveito desse bem, porque cada um é recompensado de acordo com suas obras, com o bem que quis fazer e com a retidão de suas intenções.
***
(*) Livro do Novo Testamento de autoria ignorada.
Existem crianças boas, crianças más, acho que reencarnação está acirrada. Está é a era da prova terrena.
ResponderExcluirE assim como aqui na Terra existem humanos folgados dribladores dos seus afazeres preguiçoso em rolões. Será que do outro Plano essa classe de espíritos , fazem esse tipo de artimanha? Ou a fiscalização é forte?
Leiamos os livros de André Luiz e comparemos essas informações com o que nos diz O Livro dos Espíritos e então poderemos tirar boas conclusões para nosso aprendizado.
Excluir