Cidades do Evangelho (9)

Francisco Muniz

Como sabemos, a Doutrina Espírita teve sua gênese na França, espalhando-se depois por todo o mundo graças ao trabalho exemplar de Allan Kardec e seus colaboradores, simpatizantes do ideal cristão, do qual o Espiritismo é o prosseguimento natural. Essa colaboração na tarefa do Codificador, à semelhança do que o Espírito de Verdade comenta no Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, afirmando que "os Espíritos do Senhor se espalham sobre todos os pontos do mundo", verificou-se também fora da França e do próprio continente europeu. Assim é que mensagens vindas da Argélia, então uma colônia francesa na África, bem como da Alemanha, da Polônia, da Suíça e da Bélgica constam das Instruções dos Espíritos que Kardec apresenta na terceira obra da Codificação, que em 2024 completa seus 160 anos de lançamento. Com a finalidade de continuarmos enriquecendo nossa cultura espírita, voltamos nossos olhos, agora, para as cidades que, pelas razões acima, têm alguma importância na disseminação dos postulados do Espiritismo, conforme a determinação do Cristo aos discípulos de todos os tempos: "Ide e pregai!"

9. Lion



Lyon, coração do Espiritismo. Sob este título, a Biblioteca Municipal de Lyon, a segunda maior da França, elaborou em 2004 uma exposição em homenagem a Allan Kardec, em seu bicentenário de nascimento, envolvendo também os espíritas lioneses. 

Foram 14 vitrinas apresentando informações sobre Allan Kardec, bem assim detalhes da atuação dos espíritas de Lyon à época do Codificador, abrangendo o período de 1860 a 1930. Uma das vitrinas da mostra é sobre o alcance da Doutrina Espírita em nível internacional, particularmente no Brasil.

A mostra "Lyon, coeur du Spiritisme" (Lyon, coração do Espiritismo), no quarto andar da Biblioteca, iniciou no dia 15 de outubro de 2004 e ficou aberta até 15 de janeiro de 2005, coincidindo com o início do ano cultural Brasil-França.

Os comissários da exposição, Vincent Fleurot e Michel Chomarat, não eram espíritas. Eles coletaram fotos e documentos raros em Paris e Lyon.

Fleurot é estudante de História da Universidade de Lyon e interessou-se pelo mestre lionês após ouvir falar dele em um curso ministrado pelo antropólogo François Laplantine, aproximando-se então do Centro Espírita Allan Kardec, de Bron, periferia de Lyon.

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Essa notícia publicada há 20 anos no site da Federação Espírita do Paraná (feparana.com.br) dá uma pálida ideia da importância dessa cidade francesa para a história do Espiritismo no mundo. Talvez não por acaso, que o acaso não existe, Lyon é a terra natal do Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail, que lá nasceu aos 3 de outubro de 1804. Contudo, há antecedentes espirituais que destacam Lyon como a terra dos mártires do cristianismo na antiga Gália.

Na Revista Espírita de outubro de 1861 Kardec registra a recepção de que foi objeto pelos espíritas lioneses em setembro daquele ano, ocasião em que o Espírito Erasto enviou àquela comunidade uma mensagem em que ressalta o caráter heróico da cidade. "A referida Epístola - salienta o confrade Enrique Eliseo Baldovino, em artigo no jornal Mundo Espírita - havia sido recebida em Paris, na Société Parisienne des Études Spirites (SPEE), antes do incansável Codificador encetar a sua viagem a Lyon, distante de Paris aproximadamente 450km. Portanto, percebamos a notável programação, disciplina e organização, tanto dos Espíritos comunicantes, dos médiuns da SPEE, como do preclaro mestre de Lyon."

O artigo de Baldovino informa que "no primeiro e profundo parágrafo da mencionada Revista de setembro de 1861, o Espírito Erasto cita vários mártires de Lyon e também diversos Espíritos da plêiade lionesa, guias e protetores do Movimento Espírita lionês que, de maneira profícua, secundavam os esforços ingentes da SPEE (sediada na Capital), sendo Lyon (ou Lião), a sudeste da França, a segunda maior cidade francesa, à época."

Dessa mensagem, o articulista de Mundo Espírita tira o seguinte destaque, contendo as citações de Erasto acerca dos mártires e Espíritos protetores dos espíritas de Lyon:

"Não é sem a mais suave emoção que venho entreter-me convosco, caros espíritas do grupo lionês. Num meio como o vosso, onde todas as camadas se confundem, onde todas as condições sociais se dão as mãos, sinto-me cheio de ternura e de simpatia, e feliz por vos poder anunciar que nós todos, que somos os iniciadores do Espiritismo na França, assistiremos com muito viva alegria os vossos ágapes fraternos, aos quais fomos convidados por João e Irineu, vossos eminentes guias espirituais. Ah! Esses ágapes despertam em meu coração a lembrança daqueles em que todos nos reuníamos, há mil e oitocentos anos, quando combatíamos os costumes dissolutos do paganismo romano, e quando já comentávamos os ensinos e as parábolas do Filho do Homem, morto para a propagação da ideia santa, sobre o madeiro da infâmia. Meus amigos, se o Altíssimo, por efeito de sua infinita misericórdia, permitisse que a lembrança do passado pudesse brilhar um instante em vossa memória entorpecida, recordar-vos-íeis dessa época, ilustrada pelos santos mártires da plêiade lionesa: Sanctus, Alexandre, Attale, Episode, a doce e corajosa Blandine, Irineu o bispo audaz, de cujo cortejo muitos de vós então participáveis, aplaudindo seu heroísmo e cantando louvores ao Senhor. Também vos lembraríeis de que vários dos que me ouvem regaram com seu sangue a terra lionesa, esta terra fecunda que Eucher e Gregório de Tours chamaram de pátria dos mártires. Não vo-los nomearei, mas podeis considerar os que, em vossos grupos, desempenham uma missão, um apostolado, como tendo sido mártires da propagação da ideia igualitária, ensinada do alto do Gólgota pelo nosso Cristo bem-amado! Hoje, caros discípulos, aquele que foi sagrado por São Paulo vem dizer-vos que vossa missão é sempre a mesma, porque o paganismo romano, sempre de pé, sempre vivaz, ainda enlaça o mundo, como a hera enlaça o carvalho. Deveis, pois, espalhar entre os vossos irmãos infelizes, escravos de suas paixões ou das paixões alheias, a santa e consoladora doutrina que meus amigos e eu viemos revelar-vos por nossos médiuns de todos os países. Não obstante, constatamos que os tempos progrediram; que os costumes já não são os mesmos e que a Humanidade cresceu, porque hoje, se fôsseis vítimas de perseguição, esta não emanaria mais de um poder tirânico e invejoso, como ao tempo da Igreja primitiva, mas de interesses coligados contra a ideia e contra vós, os apóstolos da ideia."

Comentários

  1. Mais do que interessante, está aula que vc compilou para nós. Obrigado

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    1. Segundo Espíritos como André Luiz, o que sabemos é uma ilha, ms o que ignoramos é o oceano, de modo que precisamos tanto conhecer quanto praticar o que aprendemos. Abraço.

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