Cidades do Evangelho (7)

Francisco Muniz

Como sabemos, a Doutrina Espírita teve sua gênese na França, espalhando-se depois por todo o mundo graças ao trabalho exemplar de Allan Kardec e seus colaboradores, simpatizantes do ideal cristão, do qual o Espiritismo é o prosseguimento natural. Essa colaboração na tarefa do Codificador, à semelhança do que o Espírito de Verdade comenta no Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, afirmando que "os Espíritos do Senhor se espalham sobre todos os pontos do mundo", verificou-se também fora da França e do próprio continente europeu. Assim é que mensagens vindas da Argélia, então uma colônia francesa na África, bem como da Alemanha, da Polônia, da Suíça e da Bélgica constam das Instruções dos Espíritos que Kardec apresenta na terceira obra da Codificação, que em 2024 completa seus 160 anos de lançamento. Com a finalidade de continuarmos enriquecendo nossa cultura espírita, voltamos nossos olhos, agora, para as cidades que, pelas razões acima, têm alguma importância na disseminação dos postulados do Espiritismo, conforme a determinação do Cristo aos discípulos de todos os tempos: "Ide e pregai!"

7. Genebra


Genebra, na Suíça, onde alemães a chamam de Genf, os italianos, de Geneva, e os franceses, de Genève, tem uma história fortemente ligada ao religiosismo. Foi lá que o francês Calvino, fugindo da perseguição da Igreja aos protestantes, encontrou "um lugar seguro para formar uma “igreja estabelecida”, ou seja, não só um grupo de pessoas reunidas em torno do estudo da Bíblia — como ocorria naquela época e com muita frequência na França —, mas uma igreja com estrutura verdadeira e disciplina eclesiástica. E, a partir desse fundamento sólido, mediante a proclamação forte e diária da Palavra de Deus, contribuir da melhor possível para o avanço do reino de Deus e de sua glória", conforme salienta o escritor também francês Jean-Marc Bernoud em seu livro "Genebra, Calvino e a propagação da reforma na França do Séc. XVI" (Ed. Monergismo). 

A mensagem do Espírito Pascal - não é outro senão o matemático Blaise Pascal - sobre "a verdadeira propriedade" que Allan Kardec inseriu no Cap. XVI ("Não se pode servir a Deus e a Mamon") de O Evangelho Segundo o Espiritismo foi ditada em Genebra. Já no fim do século XIX existia na Suíça a Associação Espírita Psiche, que foi fundada em Zurique provavelmente no ano de 1897. Nos estatutos de sua fundação consta a cláusula de que “o objetivo da associação é o estudo de fenômenos espíritas". Já naquela época, contava com folheto informativo, revista mensal, promovia palestras, mantinha biblioteca, além de promover reuniões e conversas no restaurante da estação Schützengarten.

Um dado levantado pelo site Suissinfo.ch, contudo, chama a atenção: "A religião não enfrenta problemas com a vizinhança na Suíça. Como as reuniões são silenciosas e discretas, mais voltadas ao estudo de livros, não incomoda. Mas como a sociedade suíça é mais resistente a religiões, o espiritismo também enfrenta preconceito. Um dos participantes suíços presentes no evento [um congresso espírita realizado em setembro de 2017] pediu para não ser identificado ao dar entrevista, por temer ser malvisto por colegas. Ele diz que quando menciona que pratica os ensinamentos de Kardec é julgado e, portanto, prefere omitir sua opção religiosa. Ainda assim, "há cada vez mais adeptos do espiritismo na Suíça. Seus fiéis organizaram em setembro o primeiro congresso no país, no qual participaram mais de 500 pessoas", registra a matéria datada de novembro de 2017. 

"O Espiritismo na Suíça não é algo novo", salienta, por sua vez, o site juventudeespirita.com.br. Recentemente, realizando uma pesquisa na Biblioteca de Winterthur, encontramos referências de um conceituado jurista e estudioso chamado Georg Sulzer (1844-1929), que, após receber de presente uma edição do livro Animismo e Espiritismo, de Aksakov, identificou-se com as ideias espíritas, escrevendo, a partir de então, diversas obras a esse respeito. Apesar da contribuição dada por esse conceituado jurista, o espiritismo ainda continuou desconhecido para a maioria dos suíços. E, foi no ano de 1985, que o primeiro centro espírita do país foi fundado. Isso aconteceu na cidade de Genebra. Esse fato, juntamente com os esforços de Divaldo Franco, médium e orador espírita, que há mais de vinte anos realiza seminários em Zurique, a pedido de uma Associação Ecumênica, contribuiu para a divulgação do Espiritismo e, consequentemente, o nascimento de outros centros espíritas em diversos cantões do país.

Foi em 1988 que a União dos Centros de Estudos Espíritas na Suíça (UCESS) foi criada, passando a representar o Movimento Espírita Suíço junto ao Conselho Espírita Internacional (CEI). A UCESS realiza a cada dois anos um Encontro Espírita juntamente com a Feira do Livro Espírita. O CEI tem se empenhando em oferecer condições para a difusão do Espiritismo e apoio ao Movimento Espírita na Europa. Em 2007 e 2008 organizou dois eventos na Suíça: a comemoração dos 150 anos de “O Livro dos Espíritos” – na cidade de Yverdon, no Castelo de Pestalozzi, onde Rivail (Allan Kardec) estudou – e o Seminário de Preparação do Trabalhador da Casa Espírita, ocorrido em Winterthur, no Centro de Estudos Espíritas Allan Kardec (CEEAK). O CEI também promoveu a edição e a tradução das obras “O Livro dos Espíritos (Das Buch der Geister)” e “Nosso Lar (Eine spirituelle Heimat- Nosso Lar)” para o alemão. E há alguns anos a Associação Médico Espírita na Suíça (AME) foi criada e tem promovido eventos espíritas com enfoques científicos. 

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