Espíritos do Evangelho (43)

As "Instruções dos Espíritos" com que Allan Kardec encerrou alguns dos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo são todas assinadas e seus autores podem ser facilmente identificados, porquanto são personalidades da cultura francesa, alguns, enquanto outros têm seu nome ligado à história do Cristianismo, tendo sido ou apóstolos ou discípulos, seguidores do Mestre Jesus. Uma parte deles, porém, preferiu resguardar-se no anonimato, utilizando codinomes que em geral não permitem devassar sua identidade, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, o próprio Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, não houve por bem ocultar seu verdadeiro nome, famoso na França do séc. XIX, em proveito da Doutrina dos Espíritos? Neste despretensioso trabalho tentamos lançar luzes novas sobre esses inolvidáveis colaboradores da Codificação, numa singela homenagem ao muito que fizeram em prol de nosso esclarecimento. Para tanto, fomos buscar informações disponíveis na Internet, em sites como o da Wikipedia e o da Federação Espírita Brasileira (FEB), dentre outros. Com isso, pensamos, é possível enriquecermos um pouco mais nossa cultura espírita. 

43. Constantino, Espírito protetor (Bordeaux, 1863)

A identidade desse Espírito que assina a mensagem intitulada "Os últimos erão os primeiros", inserta no primeiro item das Instruções dos Espíritos do Cap. XX ("Trabalhadores da última hora") aponta para o imperador romano que acabou com a perseguição aos cristãos no âmbito do Império, permitindo assim a liberdade religiosa no seio da população, através do Edito de Milão, em 313 d.C. Posteriormente, ele conclamou o Concílio de Niceia (325 d.C.), buscando unificar essa religião, mas essa expansão se tornou mais proeminente após a decisão do imperador Teodósio de declarar o Cristianismo religião oficial do Estado (381 d.C.). Nesse processo, foi criada a Igreja Católica Romana, que atendendo aos interesses políticos, absorveu o paganismo romano, afastando-se do Cristianismo primitivo. A igreja, que antes atendia aos pobres, passou a ser frequentada pelo imperador e nobres romanos, ocorrendo uma mudança de local dos cultos, saindo das catacumbas para templos e basílicas. Nos rituais, surgiram o uso de incenso, símbolos, liturgia, vestimentas, e a substituição do panteão dos deuses pela adoração aos “santos”.

Conforme o Espírito Emmanuel (A Caminho da Luz, cap. 16, Chico Xavier), o Cristianismo passou então a ser divulgado sem a mesma humildade de outros tempos. As autoridades eclesiásticas, ao procurarem um acordo com o paganismo, modificaram as tradições puramente cristãs, adaptando os textos evangélicos segundo os seus interesses, improvisando novidades injustificáveis. Na busca da consolidação dos poderes da igreja, compreenderam ser preciso fanatizar o povo, impondo-lhe as suas ideias, as suas concepções, e, longe de educarem as almas das massas, na sublime lição do Nazareno, entram em acordo com a sua preferência pelas solenidades exteriores, pelo culto fácil do mundo externo, tão ao gosto dos antigos romanos pouco inclinados às indagações transcendentes. Como resultado, “a civilização está em crise, e pode ser apontado como uma das causas desse estado caótico a defecção espiritual da Igreja Católica, negando-se a cumprir as determinações divinas para disputar um lugar de dominação, nos banquetes dos poderes temporais do mundo. Se houvesse mantido a sua posição espiritual, fortificando as almas no seu longo caminho evolutivo, como mediadora entre o Céu e a Terra, as transições sociais, inevitáveis, não seriam tão penosas” (Emmanuel, cap. XXI, Emmanuel e Chico Xavier).

De acordo com Yvonne A. Pereira (Pelos Caminhos da Mediunidade Serena, Quinta Entrevista, Pedro Camilo), o fenômeno da deturpação das coisas santas tem se sucedido no seio de todas as filosofias religiosas. Assim como aconteceu com o Cristianismo a partir do III século da era cristã, está acontecendo com o Espiritismo, devido ao despreparo de seus dirigentes, que não possuem o conhecimento doutrinário adequado, para a sua prática e a sua divulgação. O alerta dessa saudosa servidora do Cristo corrobora com as informações prestadas por Allan Kardec (Obras Póstumas), de que um dos maiores obstáculos capazes de retardar a propagação dessa doutrina seria a falta de unidade. Ele reafirmou a importância de vivenciá-la em todas as instâncias da vida, indicando o caminho da fraternidade para superar os entraves e construir a união e a unificação espírita.

Para isso, os centros imbuídos do verdadeiro espírito do Espiritismo deverão estender as mãos uns aos outros, fraternalmente, e unir-se para combater os inimigos comuns: a incredulidade e o fanatismo. Temos plenas condições de manter a pureza do Espiritismo, o Consolador prometido por Jesus (João, 14:26), conforme ele nos entregou (Espírito da Verdade). Mas para isso, é fundamental nos libertarmos do personalismo e da ambição pela conquista de valores transitórios e vivenciarmos os seus ensinamentos. (Álvaro Vargas, in "A Romanização do cristianismo", artigo publicado no site atribunapiracicabana.com.br)

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