Espíritos do Evangelho (21)

 As "Instruções dos Espíritos" com que Allan Kardec encerrou alguns dos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo são todas assinadas e seus autores podem ser facilmente identificados, porquanto são personalidades da cultura francesa, alguns, enquanto outros têm seu nome ligado à história do Cristianismo, tendo sido ou apóstolos ou discípulos, seguidores do Mestre Jesus. Uma parte deles, porém, preferiu resguardar-se no anonimato, utilizando codinomes que em geral não permitem devassar sua identidade, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, o próprio Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, não houve por bem ocultar seu verdadeiro nome, famoso na França do séc. XIX, em proveito da Doutrina dos Espíritos? Neste despretensioso trabalho tentamos lançar luzes novas sobre esses inolvidáveis colaboradores da Codificação, numa singela homenagem ao muito que fizeram em prol de nosso esclarecimento. Para tanto, fomos buscar informações disponíveis na Internet, em sites como o da Wikipedia e o da Federação Espírita Brasileira (FEB), dentre outros. Com isso, pensamos, é possível enriquecermos um pouco mais nossa cultura espírita. 



21. Um Espírito Amigo (Havre, 1862; Bordeaux, 1862)

Desta forma são assinadas duas mensagens em O Evangelho Segundo o Espiritismo, no cap. IX, item 7 (A paciência) e cap. XVIII, item 15 (Dar-se-á àquele que tem). Trata-se de uma Entidade feminina. Convidada pelos Espíritos Superiores a integrar a equipe do Espírito de Verdade, que traria à Terra a Terceira Revelação, iniciou sua trajetória cristã nos tempos primeiros da Boa Nova. Chamava-se, então, Joana, esposa de Cusa, intendente de Ântipas. Ouvindo Jesus, encanta-se pela mensagem, especialmente por ser uma mulher que sofria, pela indiferença do marido, conforme nos relata pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, o Espírito Humberto de Campos.

Vestindo-se de forma simples, para não ser percebida, embora não deixasse de o ser, Joana de Cusa em meio ao povo, nas pregações do lago, ouvia atentamente o meigo Rabi. Absorve-lhe os ensinos e os segue. Após a morte do esposo, necessita prover a sua e à subsistência dos dois filhos. Torna-se serva em casa de família abastada, que mais tarde se transferiria para Roma, levando-a e aos meninos. Foi ali, em uma tarde de agosto do ano 68 d.C., que Joana de Cusa foi martirizada com um dos filhos e mais de quinhentos cristãos, que tiveram seus corpos queimados de tal forma que as chamas iluminaram a cidade.

Quando, no século XII, o Sol de Assis brilhou entre os homens, Joana retornou à Terra tomando vestes femininas outra vez, servindo a Jesus, como Clara de Assis, fundadora da Ordem das Clarissas. No século XVII ela reaparece no cenário do mundo, para mais uma vida dedicada ao Bem. Renasce em 1651, em uma cidadezinha a 81km da cidade do México, San Miguel Nepantla, e recebe o nome de Juana de Asbaje y Ramirez de Santillana. Aos 3 anos, aprende a ler. Aos 5, faz versos. Aos 13 anos, está na Corte mexicana, tão pomposa e brilhante quanto a Corte europeia, e ali mostraria seus dotes literários, escrevendo poemas de amor, ensaios e peças teatrais, que até hoje são citados e representados em programas de rádio e TV.

Como sua sede de saber fosse mais forte que a ilusão de brilhar na Corte, ingressou no Convento das Carmelitas Descalças e, mais tarde, transferiu-se para a Ordem de São Jerônimo da Conceição, tomando o nome de Sóror Juana Inés de la Cruz. Ficou conhecida como a Monja da Biblioteca, intercambiando conhecimentos e experiências com intelectuais europeus e do Novo Mundo. Estudava, escrevia poemas, ensaios, dramas, peças religiosas, cantos de Natal e música sacra. Criou fama como pintora miniaturista, fez-se competente em Teologia moral, Dogma, Medicina, Astronomia e Direito Canônico. Aprendeu o latim e o português.

Morreu em 1695, aos 44 anos de idade, durante uma epidemia de peste na região, após socorrer durante dias inteiros as suas irmãs religiosas enfermas. Sessenta e seis anos após, ela renasceu na cidade de Salvador (BA), como Joana Angélica. Ingressando no Convento da Lapa, como franciscana, atestando o seu amor de ternura infinita por aquele que é o irmão da natureza2, tomou o nome de Sóror Joana Angélica de Jesus. Foi a conselheira que, na calada da noite, deixava sua cela e se dispunha a ouvir e aliviar as dores dos corações sofridos de muitas daquelas mulheres, simplesmente trancadas no convento, por decisão familiar, e que traziam a tormenta na alma desejosa de viver de outra forma.

Em 1815 tornou-se Abadessa do Convento e, no dia 20 de fevereiro de 1822, morreu defendendo corajosamente o Convento, a casa do Cristo, assim como a honra das jovens que ali moravam (...), sendo (...) assassinada por soldados que lutavam contra a Independência do Brasil.2 Tinha 61 anos de idade. No dia 5 de dezembro de 1945, esse Espírito amigo iniciou a orientar, inspirar e manifestar-se mediunicamente através de Divaldo Pereira Franco.

Em 1949, iniciaria seu trabalho de ensaio psicográfico junto ao médium. Várias das suas mensagens figuraram nas páginas da revista O Reformador da Federação Espírita Brasileira, em 1956, todas assinadas por Um Espírito amigo. Nesse mesmo ano, ela se revelaria como Joanna, e passaria a assinar Joanna de Ângelis, brindando-nos com sua primeira obra psicografada em 1964, Messe de Amor. Depois dessa, sua produção tem sido incessante. Por sua iniciativa, criou-se na Bahia uma cópia imperfeita da Comunidade onde ela estagia no Plano Espiritual, dando origem à Mansão do Caminho, iniciada em 1947.

É esse Espírito amigo que nos exorta, na última mensagem da sua obra Após a Tempestade: "(...) E unidos uns aos outros, entre os encarnados e com os desencarnados, sigamos. Jesus espera: avancemos."

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