Esta data no Evangelho (29 de fevereiro)

Francisco Muniz



Neste dia 29 de fevereiro (um ano bissexto, porqanto), nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento nos leva ao versículo 29 do segundo capítulo do livro Atos dos Apóstolos, no qual o evangelista Lucas cita um "discurso de Pedro à multidão" enaltecendo a memória do rei Davi, antepassado de Jesus. O texto que hoje abordaremos, com base nas lições imorredouras da Doutrina Espírita, é o que segue, conforme lido na Bíblia de Jerusalém

"Irmãos, seja permitido dizer-vos com toda franqueza, a respeito do patriarca Davi: ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo encontra-se entre nós até o presente dia."

Nota de rodapé na Bíblia de Jerusalém informa, citando o primeiro livro de Reis (2:10), que o túmulo do rei Davi, pai de Salomão, localizava-se "sobre a antiga colina de Sião, em nível mais baixo que o Templo". Diz também que "uma interpretação abusiva desse versículo deu origem à lenda do túmulo de Davi, venerado hoje no local tradicional do Cenáculo, na colina ocidental ue, desde os primeiros séculos cristãos, recebeu o nome de Sião". Dito isto, passemos ao nosso comentário.

O que o Apóstolo faz em seu discurso, pronunciado no dia de Pentecostes, é traçar um paralelo entre o grande patriarca e a figura emblemática do Cristo, o profeta nazareno que os judeus repudiaram, não o aceitando como o Messias esperado e anunciado pelas antigas profecias. O próprio Davi falava dele, afirmando que "eu via sem cessar o Senhor diante de mim: ele está à minha direita, para que eu não vacile". Ao citar o túmulo do nobre antepassado, Pedro quer dizer que lá estavam sepultados seus despojos físicos, o antigo corpo decomposto e reduzido a pó, uma vez tendo sido "corrompido" pela morte, o que não se deu com o Nazareno.

"A este Jesus Deus o ressuscitou, e disto todos nós somos testemunhas", exalta Pedro, no versículo 32, referindo o ponto fundamental da religião cristã: a ressurreição, o que faz do Cristo alguém sempre presente entre nós e cuja essência se derrama sobre os homens sensibilizados em seu amor. Naquele dia de Pentecostes, por exemplo, quando as chamadas "línguas de fogo" verteram sobre os discípulos reunidos em Jerusalém, era a essência do Cristo que se derramava, conforme o Pescador salientou (versículo 33), anunciando os dons mediúnicos: "Portanto, exaltado pela direita de Deus, ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou, e é iso o que vedes e ouvis".

A ressurreição, como bem sabemos pelo estudo do Espiritismo, é, no Cristo, a prova cabal da vida do Espírito independentemente da matéria, o que configura um mundo à parte do que presentemente habitamos. Esse mundo, de acordo com o ensinamento dos Espíritos, é o normal e primitivo, dele procedemos e para ele retornaremos ao fim de nosso périplo terreno. Esse mundo, assim como o nosso, o dos chamados "vivos", também tem leis próprias que regulam a vida espiritual e é ao conehcimento dessas leis que a Doutrina Espírita nos convoca, a fim de, suficientemente esclarecidos, possamos servir de intermediários entre os chamados "mortos" e nossos irmãos ainda presos na ignorância.

É dessa maneira que o exercício da mediunidade com Jesus, seguindo as seguras orientações de Allan Kardec, poderá nos facultar o conhecimento mais acurado dessas leis, que em rigor se encontram em nossa consciência e exigem um aprendizado diferenciado no tocante à devassa da realidade espiritual. Médiuns, todos o somos, mas nem todos estamos em condições de efetivamente procedermos ao intercâmbio com os Espíritos de modo realmente eficaz, porque não basta ser detentor da faculdade mediúnica, é preciso que conheçamos seus meandros a fim de nos qualificarmos como bons intérpretes da Verdade.

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