Espíritos do Evangelho (1)

Francisco Muniz



As "Instruções dos Espíritos" com que Allan Kardec encerrou alguns dos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo são todas assinadas e seus autores podem ser facilmente identificados, porquanto são personalidades da cultura francesa, alguns, enquanto outros têm seu nome ligado à história do Cristianismo, tendo sido ou apóstolos ou discípulos, seguidores do Mestre Jesus. Uma parte deles, porém, preferiu resguardar-se no anonimato, utilizando codinomes que em geral não permitem devassar sua identidade, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, o próprio Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, não houve por bem ocultar seu verdadeiro nome, famoso na França do séc, XIX, em proveito da Doutrina dos Espíritos? Neste despretensioso trabalho tentamos lançar luzes novas sobre esses inolvidáveis colaboradores da Codificação, numa singela homenagem ao muito que fizeram em prol de nosso esclarecimento. Para tanto, fomos buscar informações disponíveis na Internet, em site como o da Wikipedia e o da Federação Espírita Brasileira (FEB), dentre outros. Com isso, pensamos, é possível enriquecermos um pouco mais nossa cultural espírita. 

1. Um Espírito Isrealita (Mulhouse, 1861)

Mulhouse é a maior comuna do departamento francês do Haut-Rhin (Alto Reno) e a segunda da região Grande Leste, depois de Estrasburgo. Fica, portanto, perto da fronteira com a Alemanha. Foi de lá que esse "Espírito israelita" transmitiu suas mensagens ao mundo, no séc. XIX, através de um médium chamado Rodolfo. É o que consta do número de setembro da Revista Espírita de 1861, na qual Allan Kardec, o codificador do Espiritismo, incluiu mensagem intitulada "Um Espírito israelita a seus correligionários", na seção "Dissertações espíritas".

O Codificador, porém, refere que a Revista de março daquele mesmo ano publicou a "bela comunicação" sobre "a lei de Moisés e a lei do Cristo", mensagem essa assinada por "Mardoqueu", salientando que o médium Rodolfo, identificado apenas por sua inicial R., recebera outras comunicações desse mesmo Espírito, as quais seriam publicadas no futuro.

É possível, portanto, que Mardoqueu seja esse "Espírito israelita" de que nos ocupanos, até porque Kardec, no citado volume de setembro da Revista de 1861, ressalta que aquela mensagem dirigida aos "correligionários", avisa que o Espírito comunicante "é de um outro parente falecido há alguns meses", levando-nos a entender tratar-se de uma família ligada aos valores do Judaísmo, porém afeiçoada às propostas renovadoras do Cristianismo e do Espiritismo, que as revive.

Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, lançado em 1864, Kardec entendeu que esse "Um Espírito israelita" abrisse as Instruções dos Espíritos do primeiro capítulo dessa obra ("Não vim destruir a lei"), versando sobra "A nova era". Nesse artigo, o autor espiritual fala da unicidade de Deus e da missão de Moisés como antecessor da grande tarefa que o Cristo viria realizar, na personalidade de Jesus, apresentando-nos a moral mais pura de que se tem notícia na Terra.

Assim, ele avisa: "São chegados os tempos em que suas [dos homens] ideias devem desenvolver-se, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus." Tal é o propósito da Doutrina Espírita, uma vez que, conforme diz o missivista do Além, "o Espiritismo é a alavanca de que Deus se serve para elevar a humanidade". Desse modo, ressalta ele, "Moisés (...) abriou o caminho; Jesus continuou a obra; o Espiritismo a concluirá".

Comentários