Espíritos do Evangelho (9)

As "Instruções dos Espíritos" com que Allan Kardec encerrou alguns dos 28 capítulos de O Evangelho Segundo o Espiritismo são todas assinadas e seus autores podem ser facilmente identificados, porquanto são personalidades da cultura francesa, alguns, enquanto outros têm seu nome ligado à história do Cristianismo, tendo sido ou apóstolos ou discípulos, seguidores do Mestre Jesus. Uma parte deles, porém, preferiu resguardar-se no anonimato, utilizando codinomes que em geral não permitem devassar sua identidade, o que é perfeitamente compreensível. Afinal, o próprio Kardec, nascido Hippolyte Léon Denizard Rivail, não houve por bem ocultar seu verdadeiro nome, famoso na França do séc, XIX, em proveito da Doutrina dos Espíritos? Neste despretensioso trabalho tentamos lançar luzes novas sobre esses inolvidáveis colaboradores da Codificação, numa singela homenagem ao muito que fizeram em prol de nosso esclarecimento. Para tanto, fomos buscar informações disponíveis na Internet, em sites como o da Wikipedia e o da Federação Espírita Brasileira (FEB), dentre outros. Com isso, pensamos, é possível enriquecermos um pouco mais nossa cultural espírita. 



9. Sansão (Paris, 1863*)

Sanson (ou Sansão) era membro da Sociedade Espírita de Paris e desencarnou no dia 21 de abril de 1862, após mais de um ano de sofrimentos cruéis, conforme nos informa o Codificador, na Revista Espírita do mês de maio do mesmo ano.

Quase dois anos antes, Sanson dirigira a Kardec, na qualidade de Presidente da dita Sociedade, uma carta onde solicitava que, após a sua morte, fosse evocado o mais imediatamente possível. Isto fazia reafirmando um desejo que expressara cerca havia de um ano. O seu era o propósito de, através dessa espécie de autópsia espiritual, servir no além-túmulo, dando-lhe os meios de estudar fase por fase, nessas evocações, as diversas circunstâncias que se seguem ao que o vulgo chama a morte.

Recomendando-se às preces dos companheiros da Sociedade Espírita de Paris, discorria ainda, na mesma missiva, sobre sua preocupação com respeito à escolha e oportuno momento de sua próxima reencarnação.

Assim, ao morrer no dia 21 de abril de 1862, oito horas após a desencarnação e uma hora antes do enterro, ele foi evocado em uma das salas da Sociedade Espírita de Paris, sendo médium Leymarie, que não o conhecia, fazendo com que a mensagem fosse mais fidedigna. Enquanto o corpo de carne tombava no túmulo, a voz do Espírito se agigantava ao dizer ser uma graça especial de Deus "que permite ao meu Espírito comunicar-se".

Ao ser questionado sobre as realidades que vivenciava, ele disse estar se sentindo feliz, não mais existindo suas dores, que a transição da vida terrena para a espiritual causou certa dificuldade de raciocínio, sentiu o vazio e o desconhecido, não se dera conta de onde estava, mas que naquele presente momento já estava se equilibrando. Com certeza, afirmou, a prece a Deus que fizera antes de entregar-se aos braços da morte lhe dera sustentação e completou: Sou Espírito. Minha pátria é o espaço e meu futuro, Deus, que irradia na imensidão.

Agradeceu ao corpo, que jazia ao lado, ferramenta preciosa que auxilia a purificação do Espírito, e pediu que essas informações chegassem aos seus filhos, pois que tinham má vontade em crer.

Ele sabia que Kardec leria algumas palavras de despedida no túmulo. Então, pediu: "Falai, pois, a fim de que os incrédulos tenham fé. Adeus. Falai. Tende coragem e confiança, e que meus filhos possam converter-se a uma crença reverenciada!"

À beira do túmulo, Allan Kardec discursou, apresentando o Sr. Sanson como um homem de bem em toda a extensão do vocábulo. Disse ainda que ele era dotado de uma inteligência incomum, desenvolvida por uma instrução variada e profunda. Simples nos seus modos de vida, aplicava a sua atividade intelectual em pesquisas e invenções muito engenhosas que, no entanto, não lhe trouxeram resultados.

Era um desses homens que jamais se aborrecem, porque sempre estão pensando em algo de sério. Conquanto sua posição o tivesse privado daquilo que faz a doçura da vida, seu bom humor jamais se alterava.

Kardec falou, ainda, de uma das grandes virtudes de Sanson, a fé. A fé espírita consiste na convicção íntima de que temos uma alma; que essa alma, ou Espírito, o que é a mesma coisa, sobrevive ao corpo; que ela é feliz ou infeliz, conforme o bem ou o mal que fez em vida.

Nos dias 25 de abril e 2 de maio do mesmo ano de 1862, outras duas palestras ocorreram, em que, ainda servindo como médium o Sr. Leymarie, o Espírito Sanson respondeu a questões mais delicadas da situação do Espírito após a morte física, dizendo-se muito feliz por se tornar útil aos seus antigos colegas e ao seu digno presidente.

Nas observações do mestre lionês, as palestras propiciam um elevado ensino na descrição que ele faz do próprio instante da transição e salienta que nem todos os Espíritos seriam aptos a descrever esse fenômeno com tanta lucidez quanto ele. O Sr. Sanson viu na sua morte o seu próprio renascimento, circunstância pouco comum e que devia à elevação de seu Espírito.

Sanson, ex-membro da Sociedade Espírita de Paris – é a forma como o Espírito se identifica, assinando a mensagem "Perda de pessoas amadas. – Mortes prematuras" (O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. V, item 21), e a que se encontra inserida no cap. XI, item 10, da mesma obra, e que disserta a respeito de "A lei de amor", ambas datadas do ano 1863.

(Fonte: jornal Mundo Espírita)

Comentários