Esta data no Evangelho (12 de janeiro)

Francisco Muniz

Sob a epígrafe "Situação pessoal de Paulo", o versículo 12 do primeiro capítulo da Epístola aos Filipenses traz o assunto que comentaremos hoje, dia 12 de janeiro, dando prosseguimento aos nossos estudos de algumas passagens do Novo Testamento sob a luz meridiana do Espiritismo. Eis o texto, colhido, como habitualmente, na Bíblia de Jerusalém:

"Quero que saibais, irmãos, que o que me aconteceu redundou em progresso do evangelho: (...)"

Como se depreende, as reticências entre parênteses indicam a continuidade das palavras do Apóstolo dos Gentios até o versículo 14. Vejamos: "(...) as minhas prisões se tornaram conhecidas em Cristo por todo o Pretório (*) e por toda parte, e a maioria dos irmãos, encorajados no Senhor pelas minhs prisões, proclamam a Palavra com mais ousadia e sem temor". Com efeito, naqueles tempos recuados, a ousadia de se proclamar ideias que afrontavam a hegemonia do pensamento estabelecido, quais as lições revolucionárias de Jesus ante o status quo do Judaísmo, era punida com rigor, embora a autoridade da águia romana fosse complacente e não se envolvesse tanto nas disputas religiosas dos judeus. Desse modo, as prisões que Paulo sofreu eram, a princípio, um meio de proteção desse intimorato discípulo do Cristo, porquanto Paulo fosse romano, quanto, depois, um motivo valioso para disseminar os ensinamentos cristão, preconizando a liberdade do exercício de pensar e o desprendimento em relação à matéria.

A exortação do apóstolo, no versículo destacado, chama a atenção da massa para um fato que a sabedoria popular resumiu na expressão "os fins justificam os meios". Os fins, nesse caso, constituem a razão de toda a vida do apóstolo após sua conversão no caminho de Damasco, quando o doutor da lei Saulo de Tarso foi convocado pessoalmente pelo Cristo para o trabalho a que se dedicou de corpo e alma. Quanto aos meios, as prisões, muitas vezes provocadas pelos desafetos de Paulo, conteribuíram significativamente para a difusão do evangelho, das propostas até então consideradas estranhas e inaceitáveis trazidas ao mundo judaico por aquele que se autoproclamou o Filho de Deus e chamou todos os homens, especialmente os sofredores, a trilhar suas pegadas libertadoras. Assim como Jesus, Paulo também ensinou exemplificando, melhor dizendo, dando testemunho das "palavras de vida eterna" que o Messias nos legou e que precisam ser ainda compreendidas e por fim vivenciadas.

É preciso, pois, que saibamos, como pede o apóstolo na Carta aos Filipenses, e saber vai além da simples crença e do mero acúmulo de conehcimentos. É necessário saborear o conhecimento a fim de transformá-lo em sabedoria, o que se consegue ao se sentir (ação do coração, da emoção) o que a princípio se cogitou como exercício intelectual, para que se dê e se obtenha o real entendimento dessas proposições. Por essa razão é que Jesus disse à mulher samaritana que quem bebesse da água viva que Dele promana nunca mais terá sede - e sede de saber, porque não só compreenderá como viverá com plenitude as lições do Reino de Deus. Na atualidade, com a disseninação dos ensinamentos espíritas, que interpretam e ampliam o entendimento acerca do Evangelho, essa transformação, no âmago de todo aprendiz, é cada vez mais facilitada, desde que haja o necessário empenho na busca da Verdade que liberta.

(*) O termo “pretório” tem suas origens na Roma Antiga, onde inicialmente se referia à tenda ou residência do comandante em fortificações, como castros e castelos. Com o tempo, essa designação ampliou-se para englobar um sentido administrativo e jurídico que se preservou até o Império Bizantino.