Estudando O Livro dos Espíritos (17)

Francisco Muniz



Livro Segundo 

Capítulo II - Retorno da Vida Corporal à Vida Espiritual


1 - A alma após a morte. Sua individualidade. Vida eterna

No instante da morte a alma volta a ser Espírito, isto é, retorna ao mundo dos Espíritos, que havia deixado momentaneamente. Após a morte, a alma conserva sua individualidade, posto que jamais a perde. Que seria ela, se não a conservasse? Não tendo mais o corpo material, a alma constata sua individualidade através de um fluido que lhe é próprio, haurido na atmosfera de seu planeta e que representa a aparência de sua última encarnação: seu perispírito. Deste mundo, a alma só leva a lembrança, o desejo de ir para um mundo melhor. Essa lembrança é cheia de doçura ou de amargor, conforme o emprego que haja feito da vida. Quanto mais pura for, tanto melhor compreenderá a futilidade do que deixa na Terra.

Quanto à opinião dos que dizem que após a morte a alma retorna ao todo universal, pensemos que o conjunto dos Espíritos forma um todo. Constituem um mundo completo. Quando vocês estão numa assembleia, são parte integrante dela e, não obstante, conservam sempre sua individualidade. Provas da individualidade da alma após a morte podemos tê-las nas comunicações recebidas. Se não fôssemos cegos, veríamos. se não fôssemos surdos, ouviríamos, pois frequentemente uma voz nos fala e nos revela a existência de um ser que está fora de nós. A vida eterna devemos entendê-la no sentido da vida do Espírito, que é eterna; a do corpo é transitória e passageira. Quando o corpo morre, a alma retorna à vida eterna. Não seria exato chamar "vida eterna" à dos Espíritos puros, dos que, tendo atingido a perfeição, não têm mais provas a sofrer. Essa é antes a felicidade eterna. Mas isto constitui uma questão de palavras. Chamemos as coisas como quisermos, contanto que nos entendamos.  

2 - Separação da alma e do corpo 

A separação da alma e do corpo nada tem de dolorosa; o corpo quase sempre sofre mais durante a vida do que no momento da morte; a alma nenhuma parte toma nisso. Os sofrimentos que algumas vezes se experimentam no instante da morte são um gozo para o Espírito, que vê chegar o termo de seu exílio. Essa separação ocorre quando os laços que retinham a alma se rompem e ela se desprende. Mas não acontece bruscamente; a alma se desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo a que se restituiu subitamente a liberdade, de modo que não há uma linha de demarcação claramente traçada entre a vida e a morte. Esses dois estados se tocam e se confundem, de forma que o Espírito se desprende pouco a pouco dos laços que o prendiam: eles se desatam, não se quebram.

A separação definitiva da alma e do corpo pode ocorrer antes da cessação completa da vida orgânica. Na agonia, a alma, algumas vezes, já deixou o corpo; nada mais há que a vida orgânica. O homem não tem mais consciência de si mesmo e, no entanto, ainda lhe resta um sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento; existe enquanto o coração faz circular o sangue nas veias e para isso não precisa da alma. No momento da morte, a alma tem, algumas vezes, uma aspiração ou êxtase que lhe ´faz entrever o mundo onde vai entrar novamente. Muitas vezes sente que se vão romper os laços que a prendem ao corpo; emprega então todos os esforços para desfazê-los inteiramente. Já em parte desprendida da matéria, vê o futuro desdobrar-se diante de si e goza, por antecipação, do estado de Espírito.

O exemplo da lagarta, que inicialmente rasteja na terra, depois se encerra em sua crisálida em estado de morte aparente, para em seguida renascer com uma existência brilhante, dá uma ideia muito pálida da vida terrestre, do túmulo e, finalmente, de nossa existência. A imagem é boa; todavia, não deve ser tomada ao pé da letra, como frequentemente fazemos. A sensação que a alma experimenta no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos depende de seu comportamento na Terra. Se praticou o mal com o desejo de o fazer, no primeiro momento se sentirá envergonhado de o haver praticado. Para o justo é bem diferente: a alma se sente como que aliviada de grande peso, pois não teme nenhum olhar investigador.

Conforme a afeição que tinha por aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele, o Espírito os encontra imediatamente, dependendo também do afeto que lhe consagravam. Quase sempre eles o vêm receber em sua volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a libertar-se das faixas da matéria. Encontra-se também com muitos dos que conheceu e perdeu de vista durante sua vida na Terra. Vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram encarnados, e os vai visitar. Na morte violenta ou acidental, quando os órgãos ainda não se enfraqueceram pela idade ou pelas doenças, geralmente a separação da alma e do cessar da vida ocorrem simultaneamente. Mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto.

Após a decapitação, por exemplo, o homem conserva a consciência de si mesmo, muitas vezes durante alguns minutos, até que a vida orgânica se tenha extinguido completamente. Também acontece, quase sempre, que o temos da morte lhe faz perder aquela consciência antes do momento do suplício.

3 - Perturbação espiritual

Deixando o corpo, a alma fica algum tempo em estado de perturbação, pois não recupera imediatamente a consciência. Nem todos os Espíritos experimentam no mesmo grau e pelo mesmo tempo a perturbação que se segue à separação da alma e do corpo. Depende da elevação de cada um. Aquele que já está purificado se reconhece quase imediatamente, porque se libertou da matéria durante a vida do corpo, ao passo que o homem carnal, aquele cuja consciência não é pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria. O conhecimento do Espiritismo exerce uma influência muito grande sobre a duração , mais ou menos longa, da perturbação, visto que o Espírito já compreendia de antemão sua situação. Mas a prática do bem e a consciência pura exercem maior influência.

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