Da paz à pá

Francisco Muniz


No Evangelho percebemos algumas referências à paz, mais especificamente quando Jesus fala, no Sermão da Montanha, sobre os pacíficos e pacificadores, e em outros dois momentos; no primeiro deles, o Mestre afirma a seus discípulos não ter vindo trazer a paz, mas a espada (ou a divisão, em certas traduções); depois, já ressuscitado, o Cristo, junto a seus seguidores, consola-os antes de sua ascensão dizendo: "Minha paz vos deixo, minha paz vos dou, não como o mundo a dá, que esta ele não conhece".

Então percebemos que a paz do mundo é algo ilusório, porquanto os homens, belicosos como se encontram, fazem guerra com o fito de conquistar a paz almejada. Buscam externamente o que podem encontrar no íntimo, tão distantes nos encontramos ainda de resolver as questões de nosso ser conflituoso. Talvez por isso é que não vejamos muito facilmente alguma menção à paz em O Livro dos Espíritos, no diálogo ricamente instrutivo que Allan Kardec estabeleceu com os Espíritos Superiores, levando-nos a acreditar que a paz é resultado dos esforços humanos para compreender e exercitar a justiça, respeitando os direitos uns dos outros.

Assim reflexionando, então encontramos sentido nas palavras que o jovem Francisco Cândido Xavier pronunciou certa vez ao ver um grupo de pessoas na porta do Centro Espírita Luiz Gonzaga, em Pedro Leopoldo (MG), quando o médium se dirigia para o trabalho, feito muitas vezes em companhia unicamente dos Espíritos.

- O que essas pessoas querem no Centro? - perguntou Chico ao amigo que o acompanhava na ocasião, ouvindo deste estas palavras reveladoras:

- Elas querem paz, Chico!

Mas o médium mineiro, já conhecedor do móvel das ações humanas quanto das reais necessidades dos seres encarnados, obtemperou, informando-nos quanto à importância do esforço próprio para a aquisição das virtudes:

- Eles não precisam de paz; precisam de pá!

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