Estudando O Livro dos Espíritos (7)

Francisco Muniz

As Leis Morais - Lei do Progresso


1 - Estado de natureza

O estado de natureza é o estado primitivo, diferindo da lei natural. A civilização é incompatível com o estado de natureza, ao passo que a lei natural contribui para o progresso da Humanidade. O estado de natureza é o estado do bruto. Há pessoas que não compreendem outras. É ser feliz à maneira dos animais. As crianças também são mais felizes do que os adultos, por isso é inválido pensar que seja o estado de natureza o da mais perfeita felicidade na Terra. Desse modo, é impossível o homem retrogradar para esse estado, pois deve progredir incessantemente, como não pode voltar ao estado de infância. Se progride, é que Deus assim o quer. Pensar que possa retrogradar à sua condição primitiva seria negar a lei do progresso.

2 - Marcha do progresso

O homem se desenvolve por si mesmo, naturalmente, mas nem todos progridem ao mesmo tempo e do mesmo modo. É então que os mais adiantados auxiliam o progresso dos outros, por meio do contato social. O progresso moral é consequência do progresso intelectual, mas nem sempre o segue imediatamente. Isso se dá porque o progresso intelectual faz que se compreenda o bem e o mal; o homem, então, pode escolher. O desenvolvimento do livre-arbítrio acompanha o da inteligência e aumenta a responsabilidade dos atos. O fato de serem os povos mais esclarecidos frequentemente os mais pervertidos se explica por constituir o progresso completo o objetivo, embora os povos, como os indivíduos, só o atinjam gradualmente. Enquanto o senso moral não se houver desenvolvido neles, pode mesmo acontecer que se sirvam da inteligência para a prática do mal. O moral e a inteligência são duas forças que só se equilibram com o passar do tempo. 

O homem não tem permissão para deter a marcha do progresso, mas pode entravá-la algumas vezes. Os homens que tentam deter essa marcha, para fazer com que a Humanidade retrograde, são pobres criaturas que Deus castigará. Serão arrastados pela torrente que procuraram conter. Assim, mesmo que bem intencionados, esses homens assemelham-se a pequenas pedras que, colocadas debaixo da roda de uma grande viatura, não a impedem de avançar. No aperfeiçoamento da Humanidade, há o progresso regular e lento que resulta da força das coisas. Quando, porém, um povo não progride tão depressa quanto deveria, Deus o sujeita, de tempos em tempos, a um abalo físico ou moral que o transforma. Dada a perversidade humana, que faz parecer que ele recua moralmente, em vez de avançar, observando bem o conjunto vê-se que esse aparente recuo é um engano, porque na verdade ele avança e melhor compreende o que é mal, e dia a dia vai corrigindo os abusos.

É preciso que o mal chegue ao excesso, para tornar compreensível a necessidade do bem e das reformas. Desse modo, o maior obstáculo ao progresso são o orgulho e o egoísmo, no que se refere ao progresso moral, pois o intelectual avança sempre. À primeira vista, parece mesmo que o progresso intelectual redobra a atividade daqueles vícios, desenvolvendo a ambição e o gosto das riquezas, os quais incitam o homem às pesquisas que lhe esclarecem o Espírito. É assim que tudo se inter-relaciona, tanto no mundo moral quanto no mundo físico, e que do próprio mal pode nascer o bem. Mas esse estado de coisas durará apenas algum tempo; mudará à medida que o homem compreenda melhor que, além dos gozos dos bens terrenos, existe uma felicidade infinitamente maior e mais duradoura.

3 - Povos degenerados

Embora não se perceba facilmente, há progresso no seio de povos que, depois de sofrerem fortes comoções, recaíram na barbárie, conforme mostra a História. É que quando nossa casa ameaça desabar, mandamos demoli-la e construímos outra mais sólida e mais cômoda. Mas, até que seja reconstruída, há perturbação e confusão. Deve-se compreender também  que, sendo pobres, habitávamos um casebre; ricos, porém, fomos morar num palácio. Mais tarde, um pobre coitado, como éramos antes, toma nosso lugar no casebre e fica muito contente, pois antes não tinha abrigo. Assim, os Espíritos encarnados nesse povo degenerado não são os que o constituíam ao tempo de seu esplendor. Os de então, tendo-se adiantado, mudaram-se para habitações mais perfeitas e progrediram, enquanto os outros, menos adiantados, tomaram seu lugar, que também deixarão um dia, quando chegar a vez deles.

Dessa maneira, as raças que, por sua natureza, são rebeldes ao progresso, todos os dias vão se aniquilando corporalmente; as almas que as animaram chegarão à perfeição, como todas as outras, passando por várias experiências, porque Deus não deserda ninguém. Assim é que os homens mais civilizados podem ter sido selvagens e antropófagos. Os povos que só vivem a vida do corpo, aqueles cuja grandeza se baseia apenas na força e na extensão territorial, nascem, crescem e morrem, porque a força de um povo se esgota, como a de um homem. Aqueles cujas leis egoístas atentam contra o progresso das luzes e da caridade, morrem, porque a luz mata as trevas e a caridade mata o egoísmo. Mas, tanto para os povos, como para os indivíduos, há a vida da alma. Aqueles cujas leis se harmonizam com as leis eternas do Criador viverão e servirão de farol aos outros povos.

Entretanto, o progresso não poderá reunir todos os povos da Terra numa só nação, em razão da diversidade dos climas, que originam costumes e necessidades diferentes, que constituem as nacionalidades, de modo que sempre será preciso haver leis apropriadas a esses costumes e necessidades. A caridade, porém, não leva em conta as latitudes, nem distingue os homens pela cor da pele. Quando por toda parte a lei de Deus servir de base à lei humana, os povos, como os indivíduos, praticarão entre si a caridade; então, viverão felizes e em paz, porque ninguém fará mal ao vizinho, nem viverá à sua custa.

4 - Civilização

A civilização é um progresso incompleto, posto que o homem não passa subitamente da infância à maturidade. No entanto, a civilização não deve ser condenada, acreditando-se, como alguns filósofos apregoam, que ela é uma decadência da Humanidade. Melhor condenar os que dela abusam e não a obra de Deus. Um dia a civilização se depurará, de modo a fazer que desapareçam os males que tenha produzido, quando o moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência, pois o fruto não pode surgir antes da flor. Assim, a civilização não consegue realizar de imediato todo o bem que poderia produzir, uma vez que os homens ainda não estão preparados nem dispostos a alcançar esse bem. Isso porque, criando novas necessidades, a civilização desperta paixões novas e também porque nem todas as faculdades do Espírito progridem ao mesmo tempo. 

É preciso tempo para tudo. Não se pode pode esperar frutos perfeitos de uma civilização imperfeita. Os sinais pelos quais se pode conhecer uma civilização completa estão no desenvolvimento moral. Acreditamos estar muito adiantados porque fizemos grandes descobertas e invenções maravilhosas, porque nos abrigamos e vestimos melhor que os selvagens. Contudo, não temos verdadeiramente o direito de nos dizer civilizados senão quando houvermos banido de nossa sociedade os vícios que a desonram e quando vivermos como irmãos, praticando a caridade cristã. Até então, seremos apenas povos esclarecidos, que só percorreram a primeira fase da civilização.

5 - Progresso da legislação humana

A sociedade poderia reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas, se todos compreendessem bem aquelas leis e as quisesse praticar; então, elas bastariam. Mas a sociedade tem sus exigências e precisa de leis especiais. A causa da instabilidade das leis humanas está em que nos tempos de barbárie são os mais fortes que fazem as leis e eles as faziam para si, Contudo, à proporção que os homens foram compreendendo melhor a justiça, foi preciso modificá-las. As leis humanas são tanto menos instáveis quanto mais se aproximam da verdadeira justiça, ou seja, à medida que são feitas pra todos e se identificam com a lei natural. 

Uma sociedade depravada certamente precisa de leis severas. Infelizmente, essas leis se destinam mais a punir o mal depois de feito, do que cortar a raiz do mal. Só a educação poderá reformar os homens, que assim não precisarão mais de leis tão rigorosas. O homem, pois, é naturalmente levado a reformar sus leis, pela força das coisas e pela influência das pessoas de bem que o guiam pelo caminho do progresso. O homem já reformou muitas leis e ainda reformará muitas outras. Só temos que esperar.

6 - Influência do Espiritismo no progresso

No futuro, o Espiritismo, que influencia o progresso moral, vai se tornar crença comum e marcará uma Nova Era na História da Humanidade, porque está na natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos. Entretanto, terá de sustentar grandes lutas, mais contra os interesses do que contra a convicção, pois não se pode dissimular a existência de pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como seus contraditores se tornarão cada vez mais isolados, são forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos. 

O Espiritismo contribui para o progresso destruindo o materialismo, que é uma das chagas da sociedade, fazendo com que os homens compreendam onde estão seus verdadeiros interesses. Como a vida futura não mais estará velada pela dúvida, o homem perceberá melhor que pode garantir seu futuro por meio do presente. Ao destruir os preconceitos de seitas, castas e cores, o Espiritismo ensina aos homens a grande solidariedade que os há de unir como irmãos. Imaginar que uma causa qualquer possa transformar os homens como que por encanto é conhecer bem pouco os indivíduos. Assim, não se tema que o Espiritismo não consiga vencer a indiferença dos homens e sem apego às coisas materiais.

As ideias se modificam pouco a pouco, conforme as criaturas, e é preciso que passem algumas gerações para que se apaguem completamente os vestígios dos velhos hábitos. A transformação, portanto, só poderá operar-se com o tempo, gradualmente e de modo progressivo. A cada geração, uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo vem resgatá-lo inteiramente. Entretanto, mesmo que só conseguisse corrigir um único defeito do homem já lhe teria feito dar um passo e, por isso mesmo, produzido um grande bem, pois esse primeiro passo lhe tornará mais fáceis os outros.

Os Espíritos não puderam ensinar em todos os tempos o que hoje ensinam porque não se ensina às crianças o que é próprio dos adultos, e não se dá ao recém-nascido um alimento que ele não pode digerir. Cada coisa tem seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram; mas que podem compreender agora. Por meio de seus ensinos, mesmo incompletos, prepararam o terreno para receber a semente que hoje vai frutificar. Seria desejar milagres querer que os Espíritos apressem o progresso com que o Espiritismo deve marcar a Humanidade, por meio de manifestações generalizadas e evidentes capazes de convencer os incrédulos.

No entanto, Deus semeia milagres em abundância diante de nossos passos, ainda que haja homens negando-os. Mesmo o Cristo não logrou convencer seus contemporâneos com os prodígios realizados. Ainda hoje, alguns homens negam sistematicamente os fatos mais evidentes sob sua vista. Não há os que dizem que não acreditariam mesmo se vissem? Não; não é por meio de prodígios que Deus quer conduzir os homens. Em sua bondade, Ele lhes quer deixar o mérito de se convencerem pela razão.  

Comentários

  1. Boa noite. Será que num estado de desenvolvimento retrógrado atual da mente humana sobre aperfeiçoando da benevolência, e no estado avassalador do empenho de exterminar a humanidade por causas sem sentido apenas por orgulho,de uma causa egoísta, acho que nem os novos cientistas que estão nascendo e se especializando em prol de beneficiar a humanidade, dará jeito nessas pessoas desumanas que a grosso modo estam se alastrando na terra toda.

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  2. Nosso ponto de vista meramente humano, isto é, marcado pelas circunstâncias e valores unicamente materiais, imediatistas, sempre falhará, porquanto seja necessário sempre levar em consideração o pensamento da Divindade, manifestado por leis tão sábias quanto eternas.

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