Estudando O Livro dos Espíritos (15)

Francisco Muniz



Capítulo IV

Princípio vital

1 - Seres orgânicos e inorgânicos

Sim, é a mesma a força que une os elementos da matéria nos corpos orgânicos e inorgânicos, pois a lei de atração é a mesma para todos. Também não há diferença entre a matéria dos corpos orgânicos e dos inorgânicos; a matéria é sempre a mesma, mas nos corpos orgânicos está animalizada. E a causa da animalização da matéria é sua união com o princípio vital. Esse princípio é ao mesmo tempo um efeito e uma causa. A vida é um efeito produzido pela ação de um agente sobre a matéria. Esse agente, sem a matéria, não é a vida, do mesmo modo que a matéria não pode viver sem esse agente. Ele dá a vida a todos os seres que o absorvem e o assimilam.

O princípio vital talvez forme um terceiro elemento constitutivo do Universo, junto com o espírito e a matéria e, com efeito, é um dos elementos necessários a essa constituição, mas que também tem sua origem na matéria universal modificada. É, para os homens, um elemento, como o oxigênio e o hidrogênio que, entretanto, não são elementos primitivos, pois que tudo isso resulta de um mesmo princípio. Em consequência, a vitalidade não tem seu princípio num agente primitivo distinto, mas numa propriedade especial da matéria universal, devida a certas modificações. Ele tem sua fonte no fluido universal; é o que chamamos fluido magnético ou fluido elétrico animalizado. É o intermediário, o laço entre o espírito e a matéria.

É, ainda, o mesmo para todos os seres orgânicos, modificado segundo as espécies. É ele que lhes dá movimento e atividade e os distingue da matéria inerte, pois o movimento da matéria não é a vida; ele recebe esse movimento, não o dá. A vitalidade somente se desenvolve com o corpo. Não foi dito que esse agente sem a matéria não é a vida? É preciso a união das duas coisas para produzir a vida. Pode-se dizer, portanto, que a vitalidade se acha em estado latente, quando o agente vital não está unido ao corpo.

2 - A vida e a morte

A causa da morte nos seres orgânicos é o esgotamento dos órgãos. Comparativamente, a morte é a cessação do movimento numa máquina desorganizada; se a máquina não está bem montada, a mola se parte; se o corpo está enfermo, a vida se extingue. Uma lesão no coração causa a morte porque o coração é uma máquina de vida, mas não é o único órgão cuja lesão ocasiona a morte; ele não é mais que uma das engrenagens essenciais. Quando os seres orgânicos morrem, a matéria e o princípio vital tomam rumos distintos: a matéria inerte se decompõe e vai formar novos organismos. O princípio vital retorna à massa.

3 - Inteligência e instinto

A inteligência não é um atributo do princípio vital, pois as plantas vivem e não pensam: só têm vida orgânica. A inteligência e a matéria são independentes, já que um corpo pode viver sem a inteligência; mas a inteligência só pode manifestar-se por meio de órgãos materiais. É preciso a união com o espírito para dar inteligência à matéria animalizada. A fonte da inteligência é a inteligência universal, como já foi dito. Não é exato dizer que cada ser tira uma porção de inteligência da fonte universal e a assimila, como tira e assimila o princípio da vida material. Isso é apenas uma comparação, porque a inteligência é uma faculdade própria de cada ser e constitui sua individualidade moral. Além disso, como sabemos, há coisas que ao homem não é dado penetrar e esta, por enquanto, é uma delas.

O instinto é uma espécie de inteligência não racional; é por ele que todos os seres proveem às suas necessidades. Não se pode precisar onde acaba um e começa a outra, não se podendo, portanto, estabelecer um limite entre o instinto e a inteligência. Mas é possível distinguir muito bem os atos que decorrem do instinto daqueles que pertencem à inteligência. Também é incorreto dizer-se que as faculdades instintivas diminuem à medida que crescem as intelectuais, posto que o instinto existe sempre, mas o homem o despreza. O instinto também pode conduzir ao bem. Ele quase sempre nos guia e algumas vezes com mais segurança do que a razão. Nunca se engana. A razão nem sempre é um guia infalível; seria assim se não fosse falseada pela má-educação, pelo orgulho e pelo egoísmo. O instinto não raciocina; a razão permite a escolha e dá ao homem o livre-arbítrio.

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(Aqui se findam as considerações acerca do Livro Primeiro.)

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