Estudando O Livro dos Espíritos (14)

Francisco Muniz


Criação

1 - Formação dos mundos

O Universo, sem dúvida alguma, não pôde fazer-se a si mesmo; e se existisse, como Deus, de toda a eternidade, não poderia ser obra de Deus. E Deus criou o Universo, para usar uma expressão comum, por sua Vontade. Nada representa melhor essa vontade todo-poderosa do que essas belas palavras da Gênese: Deus disse: Faça-se a luz e a luz foi feita. Quanto a podermos conhecer o modo de formação dos mundos, tudo o que se pode dizer e podemos compreender é que os mundos se formam pela condensação da matéria disseminada no espaço. Os cometas são, como se pensa, um começo da condensação da matéria, mundos em processo de formação. 

Porém, é absurdo acreditar-se na influência deles, isto é, a influência que vulgarmente lhes atribuímos, pois todos os corpos celestes influem de algum modo em certos fenômenos físicos. Um mundo completamente formado desaparece e a matéria que o compõe dissemina-se de novo no espaço, porque Deus renova os mundos, como renova os seres vivos. Quanto a conhecermos a duração da formação dos mundos, da Terra, por exemplo, os Espíritos nada nos podem dizer a respeito, porquanto só o Criador o sabe; e bem louco seria quem pretendesse sabê-lo, ou conhecer o número de séculos dessa formação.

2 - Formação dos seres vivos

Até a povoação da Terra, tudo era caos, os elementos estavam confundidos. Pouco a pouco cada coisa tomou seu lugar e apareceram então os seres vivos apropriados ao estado do globo. A Terra continha os gérmens desses seres vivos, que aguardavam o momento favorável para se desenvolverem. Os princípios orgânicos se congregaram desde que cessou a força que os mantinha afastados, e formaram os gérmens de todos os seres vivos. Estes gérmens permaneceram em estado latente e inerte, como a crisálida e as sementes das plantas, até o momento propício à eclosão de cada espécie se reuniram e se multiplicaram. 

Os elementos orgânicos, antes da formação da Terra, achavam-se, por assim dizer, em estado de fluido no espaço, no meio dos Espíritos, ou em outros planetas, esperando a formação da Terra para começarem uma nova existência em um novo globo. Ainda há seres que nasçam espontaneamente, mas o gérmen primitivo já existia em estado latente. Somos todos os dias testemunhas desse fenômeno. Os tecidos do homem e dos animais não contêm os gérmens de uma multidão de vermes que só esperam, para desabrochar, a fermentação pútrida necessária à sua existência? É um pequeno mundo que dormita e que se cria. 

A espécie humana também se encontrava entre os elementos orgânicos contidos no globo terrestre e veio a seu tempo . Foi isso que levou a se dizer que o homem se formara do limo da terra. Não podemos conhecer a época do aparecimento do homem e dos outros seres vivos na Terra; todos os nossos cálculos são quiméricos. Ainda que o gérmen da espécie humana se encontrasse entre os elementos orgânicos, os homens não mais se formam espontaneamente, como em sua origem, porque o princípio das coisas está nos segredos de Deus. Entretanto, pode-se dizer que os homens, uma vez espalhados pela Terra, absorveram em si mesmos os elementos necessários à sua formação, para os transmitir segundo as leis da reprodução. Deu-se o mesmo com as diferentes espécies de seres vivos.

3 - Povoamento da Terra. Adão

A espécie humana não começou por um único homem; aquele a quem chamamos Adão não foi o primeiro, nem o único a povoar a Terra. A época em que viveu Adão foi mais ou menos aquela que lhe assinalamos: cerca de 4.000 anos antes do Cristo.

4 - Diversidade das raças humanas

As diferenças físicas e morais que distinguem as variedades de raças humanas na Terra vêm do clima, da vida e dos costumes. Dá-se o mesmo com dois filhos da mesma mãe que, educados longe um do outro e de modos diferentes, em nada se assemelharão quanto ao moral. O homem surgiu em vários pontos do globo e em diversas épocas, e essa é também uma das causas da diversidade das raças. Mais tarde os homens, dispersando-se nos diferentes clima e aliando-se a outras raças, formaram novos tipos. Certamente, essas diferenças não constituem espécies distintas; todos são da mesma família. Porventura as múltiplas variedades de um mesmo fruto o impedem de pertencer à mesma espécie? Se a espécie humana não procede de um só indivíduo, nem por isso os homens devem deixar de se considerarem irmãos. Todos os homens são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo fim. Vocês querem sempre tomar as palavras ao pé da letra!

5 - Pluralidade dos mundos

Todos os globos que circulam no Universo são habitados e o homem da Terra está longe de ser, como supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Entretanto, há homens que se julgam muito fortes e pretendem que só este pequeno globo tenha o privilégio de abrigar seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o Universo só para eles. Não é a mesma a constituição física dos diferentes globos; eles não se assemelham de forma alguma. Daí ser diferente também a constituição orgânica dos seres que habitam esses mundos, assim como entre nós os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar. Os mundos mais afastados do Sol não estão privados de luz e calor, porque há outras fontes de luz e calor além do Sol. Devemos ter em conta a eletricidade que, em certos mundos, desempenha um papel que desconhecemos e bem mais importante do que na Terra. Além disso, não se disse que todos os seres veem  da mesma maneira que a nossa e com órgãos de comparação idêntica à dos nossos?

6 - Considerações e concordâncias bíblicas referentes à Criação

Os povos formaram ideias muito divergentes sobre a Criação, de acordo com as luzes que possuíam. Apoiada na Ciência, a razão reconheceu a inverossimilhança de algumas teorias. A que os Espíritos oferecem confirma a opinião há muito tempo admitida pelos homens mais esclarecidos. A objeção que se pode fazer a essa teoria é a de estar em contradição com o texto dos livros sagrados. Contudo, um exame sério mostrará que essa contradição é mais aparente do que real e que resulta da interpretação dada ao que muitas vezes só tinha sentido alegórico.

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