Estudando O Livro dos Espíritos (12)

Francisco Muniz

Esgotadas as Leis Morais, tema da terceira parte de O Livros dos Espíritos, vamos, agora, abordar o conteúdo do Primeiro Livro, em seu primeiro capítulo, enfocando a Divindade.


1 - Deus e o infinito

Deus é a inteligência suprema, causa primeira de todas as coisas. Deve-se entender por infinito o que não tem começo nem fim; o desconhecido. Tudo o que é desconhecido é infinito. Mas dizer que Deus é o infinito é fazer uma definição incompleta que denota pobreza da linguagem humana, insuficiente para definir o que está acima de sua inteligência.

2 - Provas da existência de Deus

A prova da existência de Deus pode-se encontrar num axioma que aplicamos às nossas ciências: Não há efeito sem causa. Procuremos a causa de tudo o que não é obra do homem e a razão nos responderá. Todos os homens trazem em si o sentimento intuitivo da existência de Deus, donde se conclui que Deus existe; de onde nos viria esse sentimento, se não se apoiasse em alguma coisa? É ainda uma consequência do princípio de que não há efeito sem causa. Se o sentimento íntimo que temos da existência de Deus fosse fruto da educação e das ideias adquiridas, por que nossos selvagens teriam esse sentimento? 

Caso se pudesse encontrar nas propriedades íntimas da matéria a causa primeira da formação das coisas, dever-se-ia perguntar qual seria a causa dessas propriedades. É preciso sempre uma causa primeira. A opinião que atribui a formação a uma combinação fortuita da matéria, isto é, ao acaso, é outro absurdo. Que homem de bom senso pode considerar o acaso como um ser inteligente? E, além disso, o que é o acaso? Nada! O provérbio que diz: Pela obra se conhece o autor é onde se vê, na causa primeira, uma inteligência suprema superior a todas as inteligências. Vejamos a obra e procuremos o autor. É o orgulho que gera a incredulidade. O homem orgulhoso nada admite acima de si e é por isso que se julga um espírito forte. Pobre ser, que um sobre de Deus pode abater.

3 - Atributos da Divindade

Por lhe faltar o sentido correspondente, o homem não pode compreender a natureza íntima de Deus. Um dia, quando o espírito do homem não mais estiver obscurecido pela matéria e, por sua perfeição, se houver aproximado de Deus, o homem compreenderá o mistério da Divindade; então verá a Deus e o compreenderá. Apesar disso, podemos ter ideia de algumas de suas perfeições. O homem compreende melhor à medida que se eleva acima da matéria; ele as entrevê pelo pensamento. Dizermos que Deus é eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom só nos dá uma ideia completa de seus atributos apenas de nosso ponto de vista, porque acreditamos abranger tudo. 

Mas fiquemos sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente e para as quais nossa linguagem, limitada ás nossas ideias e sensações, não tem como se expressar. A razão, com efeito, nos diz que Deus deve possuir essas perfeições em grau superior, porque, se tivesse uma só a menos, ou não a tivesse em grau infinito, não seria superior a tudo e, por conseguinte, não seria Deus. Para estar acima de todas as coisas, Deus não pode achar-se sujeito a nenhuma das imperfeições que a imaginação possa conceber.

4 - Panteísmo

Se Deus fosse, como pensam alguns, o resultado de todas as forças e de todas as inteligências do Universo reunidas, em vez de um ser distinto, Ele não existiria, porque seria efeito e não causa. Deus não pode ser, ao mesmo tempo, uma coisa e outra. Deus existe, disso não podemos duvidar e é o essencial. Não devemos ir além. Não pensemos nos perder num labirinto de onde não poderíamos sair. Isso não nos tornaria melhores, mas talvez um pouco mais orgulhosos, porque acreditaríamos saber, quando na realidade nada sabemos. Deixemos, pois, de lado todos esses sistemas; temos muitas coisas que nos tocam mais diretamente, a começar por nós mesmos. Estudemos nossas próprias imperfeições, a fim de nos desembaraçarmos delas, o que nos será mais útil do que querermos penetrar o que é impenetrável.

Pela doutrina panteísta, imagina-se que todos os corpos da Natureza, todos os seres, todos os globos do Universo seriam partes da Divindade e constituiriam, pelo conjunto, a própria Divindade, mas isso é falso; não podendo fazer-se Deus, o homem quer ao menos ser uma parte de Deus. Os panteístas pretendem, com sua doutrina, encontrar a demonstração de alguns dos atributos de Deus: sendo infinitos os mundos, Deus é, por isso mesmo, infinito; não existindo o vazio, ou o nada em parte alguma, Deus está por toda parte; estando Deus em toda parte, já que tudo é parte integrante de Deus, Ele dá a todos os fenômenos da Natureza uma razão de ser inteligente. Entretanto, a esse raciocínio opõe-se a razão. Reflitamos maduramente e não nos será difícil reconhecer-lhe o absurdo.



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