Galeria da mediunidade - 216

Orlando de Jesus Santos

MANOEL DIAS DOS SANTOS 

Mais conhecido simplesmente como "Seu" Dias, este médium nasceu numa família católica, na cidade de Castro Alves, interior da Bahia. Sua mãe percorria longas distâncias para frequentar a igreja da comunidade onde vivia, devota que era de Santo Antônio. O pai de Manoel a acompanhava, mas sem tanto fervor. Às vezes o menino e seus irmãos se faziam presentes junto aos pais nas missas dominicais ou em datas festivas.

Por ter nascido em berço católico e presenciar sua mãe atender aos necessitados que batiam à porta de sua casa, Dias pôde entender desde cedo a missão de um cristão, que é a prática desinteressada da caridade. Dizia ele que ainda jovem sentia necessidade de amparar os mais fracos, provendo-lhes do necessário para amenizar o sofrimento e assim podia auscultar a expressão de gratidão vinda dos olhos de cada um, experiência que lhe trazia imensa felicidade.

Vários relatos nos demonstram que a maioria dos espíritas que conhecemos nasceu em ambiente católico; alguns frequentam a Igreja e, com o passar do tempo, migram para outras denominações religiosas, como o Protestantismo e a Doutrina dos Espíritos. De acordo com dados estatísticos, o Catolicismo vem, nos últimos anos, perdendo um enorme contingente de seguidores, embora aqui não nos caiba comentar os motivos.

O jovem Manoel Dias, assim, por desconhecer os princípios que regem os segmentos ligados às doutrinas espiritualistas, conforme sua própria confissão, chegou a perseguir, como policial, indivíduos ligados às religiões de matriz africana, especificamente o Candomblé e a Umbanda. Na ocasião, já residia na capital do Estado.

Porém, um fato, marcante para ele, modificou sua relação com as várias correntes religiosas. Foi quando durante vários meses ficou prostrado no leito, sofrendo grave enfermidade cuja causa não foi diagnosticada pelos médicos. Isso o revoltou, porque era praticante de esportes e liderava um pelotão de elite da Polícia Militar, com o qual viajava pelo Brasil disputando lutas marciais.

Com a doença, seus membros inferiores não obedeciam aos comandos do cérebro e começaram a definhar, assim como todo seu corpo, que era musculoso, chegando Dias a pesar apenas 38 quilos! "Era pelo e osso!" - dizia. 

Com tristeza, pensou que iria morrer, pois seu corpo não respondia ao tratamento médico. Então, Dias preparou-se para o fim. 

Num daqueles dias de angústia, ele foi visitado por alguém que lhe indicou um Centro Espírita, pois sua enfermidade não era de cunho físico, ou seja, não era da competência dos médicos da Terra, só podendo ser tratada, portanto, por médicos espirituais.

No entanto, foi difícil para ele conceber essa sugestão. Em sua verdade, apenas Deus e "os homens do anel" (os médicos formados) poderiam salvá-lo.

Depois de muito relutar, e também por sentir que o tratamento adotado pela Medicina não surtia os efeitos desejados, enfim aceitou o conselho e foi, levado, ao Grêmio Espírita Deus, Cristo e Caridade, no Matatu, onde esteve sob os cuidados dos médiuns Sr. Narciso e D. Aurelina. Ficou completamente curado e a partir de então iniciou os estudo da Doutrina Espírita.

Empenhou-se nos livros e nos experimentos mediúnicos, aproximou-se de Narciso e Aurelina, descobrindo ser portador de vários tipos de mediunidade, como vidência, cura e audiência. Desenvolveu, desse modo, um belo trabalho na casa que o acolheu, o GEDCC.

Logo depois, Dias transferiu-se pra uma instituição recém-fundada na Av. Barros Reis, o Centro Espírita Pousada da Fraternidade Caridade e Amor, onde encontrou espaço para atuar com sua destacada mediunidade, junto aos Espíritos benfeitores.

Certo dia, ele, segundo declarou a amigos, foi avisado para evacuar as crianças que estudavam na escola mantida pelo Centro. Feita a evacuação, a casa ruiu, uma vez tendo sua estrutura comprometida. Não havendo outro local para as reuniões, "Seu" Dias transfere o Centro para o "playground" de sua residência, no bairro de Pernambués, onde a Pousada da Fraternidade funcionou até a aquisição de um terreno na Vila Laura.

Com a posse do novo local, construiu-se um galpão coberto com telhas de Eternit, tendo Dias de colocado á frente as obras. Uma vez pronto o salão, ele passou a acolher dezenas de seus adeptos. Na nova sede, o número de frequentadores e obreiros aumentou e foram diversificados os atendimentos. Exímio médium de cura, Manoel Dias criou um método próprio para tratar os males da coluna cervical. As pessoas vinham de longe, até de outras cidades, para serem beneficiadas pelo tratamento. Nas tardes de terça-feira, um grupo de pessoas dedicadas se reunia na Pousada para uma alegre sessão de musicoterapia. Dias afirmava que algumas doenças, inclusive a depressão, podiam ser curadas através da música.

No entorno da Pousada da Fraternidade, nas imediações do conjunto residencial Laura Catarino, há uma comunidade carente. Um dia, o médium Manoel Dias foi prestar auxílio a alguém de lá. Ao chegar, ficou estarrecido com as condições de penúria vivida por alguns moradores. De imediato, criou meios no Centro para socorrer essas pessoas, através da distribuição mensal de um farnel.

Certo dia, um homem adentrou o salão onde se realizada a reunião, foi até a mesa e, defrontando "Seu" Dias, pediu-lhe dinheiro, no que foi atendido. Percebia-se tratar-se de um drogado desejoso de satisfazer seu vício. Ao final da reunião, Dias esclareceu: "Aquele homem estava em crise de abstinência e se eu não o atendesse ele poderia sair e cometer um crime".

Costumava visitar os enfermos para levar uma palavra de consolo. Não tirava férias, o Centro só fechava quando era feriado nacional. Nesse ritmo, trabalhou até os 95 anos de idade, demonstrando enorme capacidade para os trabalhos espirituais. Dias desencarnou há quase 10 anos, em setembro de 2014, deixando um grande legado: os exemplos de amor à causa espírita. Seu nome e dedicação ficarão para sempre marcados na memória daqueles que tiveram a oportunidade de conviver com tão grande ser humano. Foram mais de três décadas dirigindo os trabalhos da Pousada da Fraternidade Caridade e Amor, fazendo de sua atuação um verdadeiro ato de amor, fraternidade e dedicação.

(Trilha sonora: "Hotel California", Pink Turtle)