Galeria da mediunidade - 190

Allan Kardec (Revista Espírita de 1867)



CONDESSA ADÉLAÏDE DE CLÉRAMBERT 

A Sra. condessa de Clérambert morava em Saint Symphorien-sur-Coise, Departamento do Loire; faleceu há alguns anos, em idade avançada. Dotada de inteligência superior, tinha mostrado, desde a juventude, um gosto particular pelos estudos médicos e se comprazia na leitura de obras que tratavam desta ciência. Nos vinte últimos anos de sua vida havia-se consagrado ao alívio do sofrimento com um devotamento inteiramente filantrópico e a mais completa abnegação. As numerosas curas que operava em pessoas consideradas incuráveis tinham-lhe dado uma certa reputação; mas, tão modesta quanto caridosa, disto não tirava proveito nem vaidade. Aos conhecimentos médicos adquiridos, de que ela certamente utilizava em seus tratamentos, juntava uma faculdade de intuição, que outra coisa não era senão a mediunidade inconsciente, porque muitas vezes ela tratava por correspondência e, sem ter visto os doentes, descrevia a doença perfeitamente; aliás, ela mesma dizia receber instruções, sem explicar a maneira por que lhe eram transmitidas. Muitas vezes tivera manifestações materiais, tais como transporte, deslocamento de objetos e outros fenômenos do gênero, embora não conhecesse o Espiritismo. Um dia um de seus doentes lhe escreveu que lhe tinham sobrevindo abscessos, e para lhe dar uma idéia, modelara o padrão numa folha de papel; mas, tendo esquecido de juntá-lo à carta, aquela senhora respondeu pela volta do correio: “Como o padrão que me anunciais em vossa carta não veio, pensei que era esquecimento de vossa parte; acabo de encontrar um esta manhã em minha gaveta, que deve ser parecido ao vosso e que vos remeto.” Com efeito, esse padrão reproduzia exatamente a forma e o tamanho do abscesso.

Ela não tratava nem pelo magnetismo, nem pela imposição das mãos, nem pela intervenção ostensiva dos Espíritos, mas pelo emprego de medicamentos que, na maior parte das vezes, ela mesmo preparava, conforme as indicações que lhe eram fornecidas. Sua medicação variava para a mesma doença, conforme os indivíduos; não tinha receita secreta de eficácia universal, mas se guiava segundo as circunstâncias. Algumas vezes o resultado era quase instantâneo, e em certos casos não se o obtinha senão após um tratamento continuado, mas sempre curto, em relação à medicina ordinária. Ela curou radicalmente grande número de epilépticos e de doentes acometidos de afecções agudas ou crônicas, abandonados pelos médicos.

A Sra. Clérambert não era um médium curador, no sentido ligado a esta expressão, mas um médium-médico. Gozava de uma clarividência que lhe fazia ver o mal e a guiava na aplicação dos remédios, que lhe eram inspirados; além disso, era secundada pelo conhecimento que tinha da matéria médica e, sobretudo, das propriedades das plantas. Por sua dedicação, por seu desinteresse moral e material, jamais desmentidos, por sua inalterável benevolência para os que a ela se dirigiam, a Sra. Clérambert, assim como o abade príncipe de Hohenlohe, deve ter conservado até o fim de sua vida a preciosa faculdade que lhe fora concedida, e que, sem dúvida, teria visto enfraquecer-se e desaparecer, se não tivesse perseverado no nobre emprego que dela fazia.

Sua posição de fortuna, sem ser brilhante, era suficiente para tirar qualquer pretexto a uma remuneração qualquer; assim, não recebia absolutamente nada, mas recebia dos ricos, reconhecidos por terem sido curados, aquilo que julgassem dever lhe dar, e o empregava para suprir as necessidades daqueles a quem faltava o necessário.

(Fonte: febnet.org.br)

(Trilha sonora: "Lela", Dulce Pontes)

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