Galeria da mediunidade - 185

JUANA INÉS DE LA CRUZ



Filha de pai basco e mãe indígena, ela retorna ao palco terrestre, em San Miguel Nepantla, uma pequena localidade a 80 km da cidade do México, em 12 de novembro de 1651 e recebe o nome de Juana de Asbaje y Ramirez de Santillana. Num século em que à mulher era vedado o aprimoramento intelectual, ela aprendeu a ler e escrever, aos três anos, acompanhando a irmã, em suas aulas. Aos cinco anos, começou a fazer versos. Foi criada na propriedade rural do avô materno, livre para correr pelos campos e pelo luxuriante vale agrícola. Às escondidas, retirava livros da biblioteca do avô, perdendo-se por horas na leitura. Aos 10 anos, ciente de que havia uma Universidade no México, desejou ser matriculada. Cientificada de que à mulher era proibido o ingresso universitário, desejou se disfarçar de homem para alcançar seu intento, naturalmente, não atendido.

Com apenas 12 anos, Juana aprendeu latim em vinte aulas e português, sozinha. Falava, além disso, a língua indígena, nahuatl. Seu progresso é devido à disciplina que se impunha. Ela estabelecia prazos para a conclusão de cada etapa de estudos. Caso falhasse, ela se punia, cortando cachos da bela cabeleira castanha. "Não é certo", dizia ela, "enfeitar com cabelos uma cabeça tão vazia de informações, o mais desejável dos ornamentos". Sua sede de saber era insaciável. Jovem, de finos lábios vermelhos, dentes brancos e bonitos, pele dourada e mãos expressivas, atraiu a atenção do Marquês de Mancera, que a convidou para dama de companhia de sua mulher, na corte brilhante de estilo europeu. Aos 13 anos, deve ter se divertido na corte alegre, desocupada, cheia de bailes e cerimônias. Floresceu naquela atmosfera fascinante, tendo aplaudida a sua poesia e as peças teatrais. Escrevia cartas amorosas, pessoais, atendendo alegremente a todos que lhas pediam.

No entanto, bem cedo cansou-se de toda aquela futilidade e recolheu-se para continuar a sua busca de saber. Acusada de desplante, de exibicionismo, o vice-rei a resolveu testar para se certificar se era somente fruto de esperteza superficial ou um dom divino, como ele suspeitava. Reuniu, perante a Corte, quarenta especialistas da Universidade do México para interrogá-la. Alguns desejavam humilhá-la, outros aplaudi-la. E a adolescente de 15 anos atravessou o salão, tomou lugar entre os professores e, durante horas, foi bombardeada por perguntas, a todas respondendo facilmente. A experiência foi sintetizada pelo vice-rei numa frase: "Era como um galeão real sendo atacado por uma porção de canoas."

Logo, ingressou no Convento das Carmelitas Descalças, com o intuito de ali ter saciada sua sede de saber. Os rigores dos jejuns, abstenção de qualquer conforto, a que ela não estava habituada, a levaram a enfermar e foi devolvida à Corte, três meses depois. Integraria, posteriormente, a Ordem de São Jerônimo da Conceição, menos rigorosa. Tomou os votos em 24 de fevereiro de 1669, com o nome de Sóror Juana Inés de la Cruz. Correspondendo-se com homens de letras, ciências e teologia, adquiriu fama, sendo procurada por intelectuais europeus e do Novo Mundo. Sua cela era cheia de livros, globos terrestres, instrumentos musicais e científicos. O tempo que ela dedicava aos exercícios mentais era o mais feliz. Foi pintora miniaturista, competente em teologia moral e dogma, medicina, direito canônico e astronomia. 

Sofreu terríveis pressões que exigiam que ela se dedicasse à vida monástica, exclusivamente. Corajosa, Juana defendeu o direito da mulher de saber. Para exemplificar, citava figuras femininas bíblicas. Saiu em defesa da educação das mulheres, pelo direito de serem professoras e pregadoras. Que espécie de pressões sofreu Juana não se sabe exatamente. Numa época de tantos preconceitos, sobretudo contra a mulher, não se pode aquilatar o que sofriam as monjas, encerradas nos conventos, no rigor de normas eclesiásticas, ditadas com exclusividade pelos homens. Então, a Monja da Biblioteca vendeu os quatro mil volumes da sua biblioteca, seus instrumentos musicais e científicos, ficando somente com os livros de devoção. Redigiu então dois protestos de fé e apelos de clemência ao tribunal divino, assinando-os com seu sangue.

Em 1695, quando a peste varreu a Nova Espanha, ela se dedicou a cuidar das companheiras enfermas. De cada dez monjas, morriam nove. Não havia praticamente tratamento algum, portas adentro do convento, mas ali ficou ela, atendendo uma a uma as suas irmãs, mesmo tendo sido advertida dos perigos a que, agindo dessa forma, mais se expunha. Contraindo a enfermidade, desencarnou aos 44 anos, em 17 de abril de 1695. É considerada a primeira feminista da América Latina, poetisa da escola barroca, dramaturga, filósofa. Conhecida como a Fênix da América, tem seus versos citados até hoje, suas peças teatrais representadas. Sóror Juana é a única artista que aparece nas notas mexicanas, além de Nezahualcóyotl, também poeta. Inicialmente, apareceu nas notas de mil pesos que, com a inflação, acabaram se tornando moedas. Depois do corte de três zeros, sofrido pelo peso, Sóror Juana saiu de circulação, brevemente, para reaparecer nas notas de duzentos pesos.

(Fonte: mundoespirita.com.br)

(Trilha sonora: "Bringa", Siba e a Fuloresta)

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