Galeria da mediunidade - 149

FREDERICA HAUFFE



Mais de 50 anos antes da vinda da codificação da doutrina espírita, em torno da alemã Frederica Hauffe, que nasceu em 1801, nas altas montanhas de Prevorst, aconteciam fatos até então inexplicáveis. Hauffe não tinha quase instrução, mas desde cedo aprendeu a conviver com acontecimentos que ela entendia serem naturais, como suas visões e premonições. A faculdade de ver espíritos desde a sua infância desenvolveu-se constantemente. Via também e facilmente identificava locais, sob a terra, onde havia água e metais. Mas, com os anos, essa naturalidade no convívio com seu potencial mediúnico foi dando lugar uma grande perturbação à jovem, como quando, no mesmo dia de seu casamento, sofreu forte abalo com a morte do ministro de Oberstenfeld, pessoa que exercia grande influência sobre ela, por seus ensinos, suas qualidades pessoais, por sua retidão.

Frederica Hauffe passou a se fechar. Seu comportamento foi se modificando e ali começaria a fase mais intensa de sua experiência, entre os anos 1822 a 1826, quando passou a entrar em demorados transes, sem que houvesse na época conhecimento sobre a realidade do espírito e seus possíveis desdobramentos. Em 1826, em situação à beira da morte, a médium foi levada até o dr. Justinus Kerner, que sem saber do que se tratava viu um mundo novo se descortinar. Tomada por sintomas que causavam espanto, Hauffe caía em transe todos os dias às sete horas. Por algum tempo, dr. Kerner ignorou a sua condição sonambúlica aguda. Mas, ciente depois do que se tratava, observou que ela mesma, quando em transe, sugeria-lhe a terapia dos passes como tratamento, ao que ele primeiramente resistiu. Percebendo, porém, se tratar de algo extraordinário, despiu-se de todo preconceito e adotou a terapia, aproximando-se cada vez mais dos assuntos que Allan Kardec mais tarde abordaria.

Dr. Justinus Kerner se dedicou intensamente ao caso. Sua determinação e coragem o transformaram possivelmente em um dos primeiros pesquisadores dedicados ao registro e ao estudo dos fenômenos psíquicos. Frederica Hauffe chegou a morar em sua própria casa em seu último ano de vida: 1829. O caso tornou-se conhecido, como “A vidente de Prevorst” e chegou a despertar o interesse de diversos pesquisadores, como Ernesto Bozzano, Albert de Rochas, Gabriel Dellane, Camille Flammarion. Até mesmo pesquisadores rivais do espiritismo notaram que, décadas antes de Allan Kardec, inúmeros fenômenos descritos nos livros-base da doutrina se apresentavam nas manifestações estudadas por Justinus Kerner.

Em suas anotações, publicadas em forma de livro posteriormente, ele deixa registros de que a sra. Hauffe era de tal forma sonambúlica que seu período de vigília era na verdade aparente. Dizia que em estado sonambúlico, ela reconhecia quando ele dava passes em um copo com água, pois que ela parecia mais escura que em estado normal. Em tal estado, escrevia versos profundos e trazia instruções médicas para ela e para outras pessoas. Era extremamente sujeita às manifestações espirituais de qualquer espécie, sendo citados por Kerner episódios inclusive de levitação. Em transe sonambúlico, ela falava frequentemente uma língua desconhecida, que parecia apresentar semelhança com as do Oriente. Dizia ser aquela a linguagem que Jacó falava e que só por meio dela poderia exprimir completamente os pensamentos da vida anterior.

As anotações de Kerner evidenciam que Frederica Rauffe fora portadora de excepcional mediunidade, através da qual produziam-se inúmeros fenômenos. O sonambulismo era apenas um deles. Considerado uma variedade da faculdade medianímica: poderia ser de fundo anímico, onde o sonâmbulo age sob a influência do seu próprio Espírito, quando ele é capaz de se manifestar com conhecimento e lucidez mais dilatados. Ou também medianímico; quando, podendo confabular com outro Espírito, poderia transmitir os conhecimentos dele de forma mais ampliada. Ao apresentar as suas conclusões sobre os fatos que vira e registrar, dr. Justinus Kerner deixa um recado em seu livro: “Considerem-nos como quiserem. Não quero discutir as ideias com ninguém. Peço apenas que não me caluniem, a mim nem aos que pensam como eu. Só um insensato poderá negar que somos imortais e que não existe outra vida.”

(Fonte: correio.news)

(Trilha sonora: "O divã", Roberto Carlos)

Comentários

  1. Como se explica tanta diversidade mediúnica, como a da Sra. Hauffe?

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    1. O Espiritismo oferece muito boas explicações. Primeiramente, recordando as palavras de Lucas em Atos dos Apóstolos, citando o profeta Joel: "E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda a carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão vossos velhos; até sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei do meu Espírito naqueles dias, e profetizarão." Depois, observando o que nos diz O Livro dos Espíritos, informando que Deus concede a mediunidade a todos os homens para que eles se apressem no caminho do progresso espiritual, ou moral. E, segundo Paulo de Tarso, há uma diversidade de carismas, ou seja, é imensa a variedade das faculdades mediúnicas, cada uma delas correspondendo às necessidades evolutivas do próprio médium e às necessidades daqueles aos quais ele, o médium, é chamado a servir em nome de Deus e do Cristo.

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