Galeria da mediunidade - 140

Dirceu Machado -

PADRE FRANÇOIS BRÜNE


O Pe. François Charles Antoine Brune nasceu em Vernon a 18 de agosto de 1931. Vernon é uma cidade da França situada na região administrativa de Poitou-Charentes, no departamento de Vienne. Estende-se por uma área de 38,38 km2, com uma população de aproximadamente 26 mil habitantes. Sacerdote católico, François Brune é da ordem de S. Sulpício. É bacharel em Latim, Grego e Filosofia. Cursou seis anos de "Grand Seminaire", sendo cinco no Instituto Católico de Paris e um na Universidade de Tubingen, tradicional cidade Universitária situada na região central de Baden-Württemberg, Alemanha, a cerca de 30 km ao sul de Stuttgart. Tem cinco anos de pós-graduação em Latim e Grego na Universidade de Sorbone. Estudou as línguas assírio-babilônico, hebreu e hieróglifos egípcios. Tem Licenciatura em Teologia pelo Instituto Católico de Paris em 1960, e em Escritura Sagrada no Instituto Bíblico de Roma, em 1964. Foi Professor durante sete anos em diversos "Grands Seminaires".

Em 1987 ele conheceu, em Luxemburgo, o casal de pesquisadores de TCI (Transcomunicação Instrumental), Jules e Maggy Harsch-Fischbac, que haviam conseguido contato com os espíritos (voz e imagem), através de aparelhos eletrônicos. Padre Brune, movido pela curiosidade científica, participou de algumas experiências e, diante das evidências encontradas, decidiu pesquisar com mais profundidade o fenômeno, analisando todas as possibilidades, desde manifestações do inconsciente (coletivo ou individual), fraudes, até interferência de emissoras de rádio ou televisão, e acabou concluindo (como os demais pesquisadores) tratar-se realmente de "mortos" ou Espíritos. Certa feita, recebeu uma comunicação composta por diversas línguas, dirigida aos pesquisadores presentes: "Tacha, Raudive. Tev de Gratulation Konci! Pekainis. Tev nav ko eilt, Konsta". Essa frase contém uma mistura de sueco, inglês, um dialeto da Letônia e alemão, e significa: -" Obrigado Raudive. Parabéns para você Konst. Você precisa se apressar".

Pe. Brune resolveu publicar um livro relatando as conclusões a que chegou após um longo período de experimentações. O livro intitula-se Os Mortos Nos Falam e foi traduzido em 11 idiomas e vendido inclusive em livrarias católicas. O segundo livro escrito foi em parceria com outro pesquisador da Universidade de Sourbone, Rémy Chauvin, intitulado Linha Direta Com o Além. Em seu livro, Pe. Brune reuniu vários relatos historicamente comprovados, um deles envolvendo inclusive um Papa. Conta-nos Brune que, em 17 de setembro de 1952, o padre Gemelli, que era então presidente da Academia Pontifícia de Ciências, tentava filtrar a qualidade do som de gravações de canto gregoriano. Exasperado com os problemas técnicos encontrados, exclamou: "Papai, me ajude!". Órfão desde a infância, Pe. Gemelli costumava repetir essa invocação sempre que estava em dificuldade. 

Quando terminou a tarefa que estava fazendo, voltou a escutar a fita e, em vez da gravação do canto, apareceu a voz de seu pai que lhe dizia: "Mas é claro que vou te ajudar Zuccone, eu estou sempre perto de você (Zuconne era o apelido que seu pai lhe dera enquanto vivo e significa "abobrão"). O Pe. Gemelli foi contar tudo ao Papa Pio XII, mas este, em lugar de espanto, tranquilizou o sacerdote: "Isso nada tem a ver com Espiritismo. O gravador é um aparelho objetivo que não podemos influenciar. Essa experiência poderá, talvez, suscitar estudos científicos que confirmarão a fé no mundo do além". Em outra ocasião, o Papa João Paulo II, perante mais de 20 mil pessoas, na Basílica de São Pedro, em 2 de novembro de 1983, disse: "O diálogo com os mortos não deve ser interrompido, pois, na realidade, a vida não está limitada pelos horizontes do mundo".

A TCI (Transcomunicação Instrumental) teve início em 1959, na Suécia, quando Friedrich Jürgenson, gravando canto de pássaros, espantou-se ao ouvir coisas estranhas em meio à gravação. De começo, eram barulhos, sinais acústicos, Depois, eram vozes de pessoas falecidas, que falavam com ele e respondiam perguntas. As falas eram curtas e, por vezes, sem sentido. Jürgenson passou então a realizar as mais diversas experimentações e pesquisas até convencer-se de que eram mesmo espíritos que estavam se comunicando. Foi quando decidiu apresentar seus trabalhos a cientistas, técnicos em informática, parapsicólogos e jornalistas. Em 1964 publicou seu primeiro livro Les voix de l'Univers. Esse foi apenas o primeiro passo nas pesquisas de Transcomunicação Instrumental. Na Europa e nos Estados Unidos, cientistas e estudiosos passaram a desenvolver pesquisas, construir aparelhos e utilizar técnicas que foram ampliando as possibilidades de comunicação, que hoje acontecem através de computadores, rádio, fax, telefone, e com som e imagem por aparelhos de TV.

ENTREVISTA


Numa entrevista ao jornalista português José Lucas, na cidade de Óbidos, Portugal, o Pe. Brune deu as seguintes respostas que foram publicadas originalmente no Jornal de Espiritismo da ADEP, de Portugal e, posteriormente, na revista O Consolador, ano 5, n. 240:

JL: - Serão necessários novos paradigmas para que a Ciência descubra o Espírito?
Pe. Brune - Sim, creio que a Ciência deve adaptar-se a uma realidade que lhe escapa neste momento. Podemos fazer uma comparação: se eu for à pesca, para apanhar peixes tenho de lançar a linha e tenho de adaptá-la à posição do peixe. Não posso pedir ao peixe que siga o atalho que corresponde à posição da linha! As linhas são as teorias científicas para "apanhar" a realidade. Se conservo essa mesma linha, nunca conseguirei "apanhar" a tal realidade que me escapa. É, pois, necessário que a Ciência aceite mudar esses paradigmas, para se adaptar a novos níveis de realidade que de momento, repito, lhe escapam.

JL: - É verdade que no Vaticano há padres cientistas que pesquisam esta área?
Pe. Brune - Sim, tenho a certeza que existe uma pequena equipe, composta de dois ou três padres, que estão ao corrente e que conhecem estes fenômenos. Se fazem eles próprios as pesquisas, isso já não sei. Havia o padre Andreash Resh, que criou um Instituto de Parapsicologia, o Instituts für Grenzgebiete der Wissenschaft - IGW, em Innsbruck. Ele ensinou durante muitos anos os fenômenos paranormais num Instituto que dependia da Universidade Pontifical de Latrão. Ele abandonou esses cursos para se dedicar, agora, a outros trabalhos. Mas contou-me que, por vezes, alguns cardeais lhe chegaram a pedir se não poderiam obter quaisquer comunicações, por exemplo, das suas mães. (risos)

JL: - Que outros cientistas conhece que estejam a pesquisar esta área da comunicabilidade com o mundo espiritual?
Pe. Brune - Há muitos já, atualmente! Há o Sinesio Darnell, em Espanha, o Prof. Senkowski, o Hans Otto König, temos também, na Itália, o Daniele Gullà, o Paolo Presi e ainda mais, no Brasil, em França… Infelizmente, não há um nível científico muito elevado, em França, nesse campo. Seria preciso muito mais. Creio que o melhor trabalho está a ser feito, atualmente, em Itália. Houve resultados extraordinários com Adolf Holmes, na Alemanha, mas esse não era um pesquisador, era alguém que recebia uma grande quantidade de mensagens, de comunicações, mas que não tinha formação científica para fazer pesquisas. No Luxemburgo, igualmente, o casal Julles e Maggy obteve numerosas e magníficas comunicações, mas não possuía os meios intelectuais e laboratoriais para realizar essas pesquisas. Da mesma forma, o alemão Klaus Schreiber, falecido recentemente, não tinha os meios necessários para a pesquisa científica. Há muito poucos cientistas interessados nestes fenômenos, infelizmente muito poucos, mesmo.

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O Pe. François Brune esteve em Londrina, Paraná, em 2013, para participar de debate promovido pelo NEU - Núcleo Espírita Universitário. Sua participação foi marcante, deixando um testemunho indiscutível de que os fenômenos espíritas que levaram Kardec a codificar a Doutrina Espírita despertam interesse também na religião católica e em mentes científicas, como temos reportado nesta coluna. Padre François Charles Antoine Brune, católico, teólogo, pesquisador, professor, poliglota, é mais um exemplo de que Ciência e Espiritualidade podem caminhar juntas.

(Fonte: correioespirita.com.br)

(Trilha sonora: "Umbuzeiro da saudade", Luiz Gonzaga)

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