Galeria da mediunidade - 85

Francisco Muniz - 


JÉSUS GONÇALVES

Jésus Gonçalves (Borebi, 12 de julho de 1902 – Itu, 16 de fevereiro de 1947) foi poeta, músico e espírita divulgador da Doutrina Espírita durante fase crítica de sua doença, a hanseníase. Ficou órfão de mãe, aos 3 anos, quando ela morreu de um tumor no intestino, e seu pai era um humilde lavrador que pouco tempo tinha para o filho. Dessa forma, Jésus foi educado por um tio na cidade de Agudos. Aos 14 anos empregou-se como trabalhador braçal na Fazenda Boa Vista, em Borebi. Nessa época começou a aprender música e junto com outros companheiros animavam as quermesses e bailes com a Bandinha de Borebi. Aos 17 anos foi para a cidade de Bauru, onde frequentou a escola, mas não chegou a tirar o diploma do Ginásio. Casou-se aos 20 anos com Theodomira de Oliveira, que era viúva e já tinha dois filhas. Ainda tiveram mais quatro crianças. Na época, empregava-se como Tesoureiro da Prefeitura. 

Em 1930 sua esposa morre por causa de uma tuberculose. Apesar das enormes dificuldades em criar suas seis crianças, continuava a tocar e fazia parte da Banda da Prefeitura de Bauru como clarinetista. Atuava também como diretor e ator de teatro na cidade. Apesar de seu pouco estudo, apreciava a poesia e a prosa, colaborando ativamente nos jornais Correio da Noroeste e Correio de Bauru. Casou-se novamente com uma vizinha sua que lhe ajudava a cuidar das crianças, Anita Vilela. Aos 27 anos foi acometido pela hanseníase. Anita era estudiosa da Doutrina Espírita e tentava, em vão, esclarecer a mente materialista do ateu Jésus. Naqueles tempos os doentes eram obrigados a abandonar seus empregos e a viverem isolados da sociedade, trancados em suas casas ou então em leprosários. 

Aposentado prematuramente, Jésus passou a viver em uma moradia cedida temporariamente pela Câmara Municipal de Bauru. Apesar disso, continuou a escrever para o Correio da Noroeste. Seu compadre João Martins Coube cedeu-lhe o usufruto de um sítio, onde Jésus passou a cultivar melancias e outras frutas. Mas, em agosto de 1933, o Serviço Sanitário recolheu-o, afastando-o do convívio de sua família, e internou-o no Asilo-Colônia Aymorés (atual Instituto Lauro de Souza Lima), em Bauru. Fundou o jornal interno "O Momento", a "Jazz Band de Aymorés" e a equipe de futebol. Por não receberem grupos artísticos no asilo, fundou também o grupo teatral interno. Jésus sofria muito com problemas no fígado, buscava a transferência para o Hospital Padre Bento em Guarulhos. Mas suas cartas paravam nas mãos do Diretor do Sanatório Aymorés, que não queria perder seu mais ativo e dinâmico interno. Em 1937 conseguiu a transferência mas não conseguiu chegar até lá, as dores no fígado o obrigaram a parar em Itu, e ali ficou no Hospital de Pirapitingui. Lá, ele fundou, além da "Jazz Band", a Rádio Clube de Pirapitinguí e um jornal interno, o "Nosso Jornal".

Em 1943 Anita morreu, e no velório aconteceram diversos acontecimentos mediúnicos de clarividência de alguns colegas seus. Tempos depois Anita envia uma mensagem para ele de uma forma bastante íntima, e Jésus não teve dúvidas da veracidade das informações. Por ser extremamente materialista, buscou nos livros espíritas as explicações para o contato. Um dia, às voltas com suas dores no fígado, tirou um pouco de água e colocou em um copo dizendo: "Se Deus existe mesmo, dou cinco minutos para que coloque nesta água um remédio que me alivie as dores que sinto". E contou no relógio. Quando bebeu a água, sentiu que estava totalmente amarga. Chamou um companheiro que confirmou a alteração da água. E após dois minutos nada mais sentia em dores. 

Com dificuldades conseguiu recursos junto às comunidades espíritas para a construção do Centro Espírita Santo Agostinho, fundado em 1945. Passou então a atender as incorporações de familiares e desobsessões severas de quem o procurasse, permitindo a estes que voltassem à vida normal. Vinte dias antes de desencarnar, com a doença já tendo lhe consumido todo o corpo, e também as cordas vocais, foi à sessão espírita e, para a surpresa das 300 pessoas presentes, fez uma preleção de quase duas horas de elevados ensinamentos evangélicos. Ao término da preleção, Jésus simplesmente perdeu novamente a voz. Sofreu muito nos últimos dias, seu corpo estava completamente deformado pela doença, seu rosto transfigurado e seus órgãos começaram a parar, e lentamente morreu.

Chico Xavier não conheceu pessoalmente Jésus Gonçalves, mas mantiveram correspondência durante dois anos consecutivos. Após sua morte, Jésus passou a se comunicar usando da mediunidade de Chico Xavier. Escreveu poesias, relatou experiências em outras vidas e deixou mensagens evangélicas. Possui poesias publicadas em livros como Parnaso de Além-Túmulo Chico Xavier Pede Licença, entre outros. É de conhecimento na literatura espírita duas reencarnações de Jésus: de acordo com suas próprias revelações, ele relata sua vida na personalidade de Alarico, rei visigodo, no poema "Ante Jesus". E pela mediunidade de Divaldo Franco, Victor Hugo revela que Jésus foi o cardeal Richelieu.

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