Galeria da mediunidade - 100

Francisco Muniz - 




MILTON GAÚCHO

O teatro espírita que se faz na Bahia deve muito a Milton Gaúcho, como deve a Maria Schüler, Jorge Lyrio e ouros expoentes dessa arte a serviço da divulgação do Espiritismo. Milton Gaúcho, desencarnado aos 88 anos, em janeiro de 2005, entretanto, é reconhecido também fora dos palcos espíritas, posto que, como ator, teve presença marcante nas grandes produções teatrais e cinematográficas realizadas na Bahia, com destaque para o filme O Pagador de Promessas, que conquistou a Palma de Ouro no festival de Cannes, na França. Nos anos 1990 ele emprestava seu talento ao Teatro Espírita Leopoldo Machado (TELMA, cujas instalações físicas estavam, então, em construção no bairro da Boa Viagem, em Salvador), do qual é diretor artístico.

Em 1997 Milton enveredou também pela literatura e publicou o livro Miltônias, uma obra de peso que, através de várias crônicas, procura desmistificar diversos aspectos observados na Igreja Católica, do ponto e vista da Doutrina Espírita. Segundo o autor, esse livro deu-lhe uma "grande honra", a qual é a de estar inscrito na "galeria dos malditos" do Catolicismo. Na obra, Milton cita, por exemplo, a campanha contra o Espiritismo encetada pelo então arcebispo primaz do Brasil, D. Avelar Brandão Vilela, que chegou a enviar uma carta ao jornal O Globo, pedindo a retirada do ar de um quadro de temática espírita veiculado no programa Fantástico, da Rede Globo.

Os comentários a respeito do livro foram os mais entusiásticos. Carlos de Brito Imbassahy, de Niterói, ressaltou o seguinte: "O livro tem o grave defeito de estar muito bem escrito, contendo excelente material e, de forma escorreita, apresenta assuntos deveras curiosos para se analisar. (...) Por sinal, todo o livro é um acervo primoroso de citações oportunas, trazendo inúmeras informações, em linguagem pesada, de estilista emérito". Na imprensa baiana, o colunista Juarez Conrado narrou, em A Tarde: "Pena, amigos, que o velho Milton Gaúcho não se alongasse mais em suas crônicas, abordando outros interessantes assuntos, como aquela complicada história da morte de João Paulo I, o 'papa do sorriso', na qual o autor se revelou um grande pesquisador, além de grande conhecimento de muita coisa que se passa (ou já se passou, há alguns séculos) nos bastidores da Santa Sé".

Além de suas atividades artísticas, Milton Gaúcho (nascido Milton Magalhães - o "Gaúcho" foi emprestado de um futebolista de seus tempos de garoto) militou no Espiritismo por mais de 40 anos e exercia a função de médium passista no TELMA, casa fundada e dirigida pelo reconhecido escritor Carlos Bernardo Loureiro. Ali, ele ensaiava, na época, duas peças espíritas; uma delas foi Pedras no lago, escrita por Lúcia Loureiro e encenada pela primeira havia 15 anos. Milton se ressentia da pouca atenção dos centros espíritas para com o teatro na Bahia, onde praticamente apenas o TELMA e o grupo de Maria Schüler davam ênfase a essa arte, que é, na opinião do próprio Allan Kardec, Léon Denis, Emmanuel e outros, um dos melhores meios de divulgação da Doutrina Espírita. "No Sul, raras são as casas que não têm seu grupo de teatro e chegam a fazer festivais por ano", dizia.

Do alto de suas oito décadas, Milton reconhecia que, agora, o Espiritismo está tendo muito melhor divulgação que no passado recente, ainda mais com o advento do programa Espiritismo via Satélite e da revista Visão Espírita - iniciativas do comunicador Alamar Régis Carvalho. Por essa razão, ele se declarava entusiasta do projeto da SEDA, idealizado por Alamar. Ele também salientou o aparecimento de vários novos escritores que têm contribuído para o trabalho de evolução da Doutrina, ampliando seu raio de ação e entendimento junto às parcelas leigas da população brasileira.

(Publicado originalmente na revista Visão Espírita n. 14 - Ano II - 1999)

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