Galeria da mediunidade - 70

Francisco Muniz - 



JOSÉ SOARES GOUVEIA

Carinhosamente chamado de “Tio Juca”, José Soares Gouveia nasceu em Fortaleza (CE), a 28 de maio de 1898. Foi aluno do Colégio Militar do Ceará, optando, porém, pelo serviço público federal. Prestou concurso para Fiscal do Consumo, foi aprovado e serviu nos estados do Ceará, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro. Sua vida foi marcada por atividades corajosas e, no campo político, por episódios dramáticos. Sem temer consequências, denunciou uma figura de muito prestígio na política cearense, o que lhe custou transferência para o Rio de Janeiro, por pressão do Governador daquele Estado. A conversão de “Tio Juca” ao Espiritismo modificou-o profundamente. Suportou humildemente muitas calúnias. Sua característica era a sinceridade e natural inclinação para o bem, gostando de servir ao próximo. Desenvolveu sua mediunidade, principalmente a psicografia e a psicofonia. 

Radicado definitivamente em Salvador, desenvolveu importante obra assistencial, a “Casa do Tio Juca”. Com o aumento de internações de crianças e necessitados, apelou para os poderes públicos o reconhecimento de Utilidade Pública, que lhe daria o direito a subvenções oficiais. Todavia, estas não vieram e, em situação aflitíssima, apelou para a família, que o ajudou. O patrimônio moral de “Tio Juca”, certa vez, foi capaz de comover o Presidente Getúlio Vargas. O Presidente recusou-se a assinar o alvará de promoção e transferência de seu cargo de Fiscal do Consumo para São Paulo, a que fazia jus. O Oficial de Gabinete observou: 

“- Conhece, V. Exa., José Soares Gouveia?”
“- Conheço. Sua promoção fica para outra oportunidade”.
“- Permite-me, V. Exa,, mostrar-lhe esta carta?”

E o Presidente leu a carta de um Oficial do Exército, na qual o signatário exaltava, agradecido, a figura singular de “Tio Juca”, como paradigma de abnegação e solidariedade humana, relatando o seguinte: “O alto-falante do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, solicitava aos passageiros a caridade de ceder o lugar para um pai aflitíssimo, que só contava com aquele avião para comparecer ao ato fúnebre de sua filha, em São Paulo. ‘Tio Juca’ não pensou duas vezes. Deixou de festejar o seu aniversário com a família, onde era esperado com ansiedade, e ofereceu ao pai amargurado o seu lugar no avião”.

Com esse relato, o Presidente, sensibilizado, após a leitura do documento, ordenou ao seu secretário a lavratura do alvará em favor do “Tio Juca”, cujo desprendimento, como se vê, recebeu a recompensa através da consciência de um Governante. Toda a vida de “Tio Juca”, tão meigo e amigo das crianças e dos desvalidos, foi gratificante até o final de seus dias terrenos. Vítima de um enfarte do miocárdio, desencarnou em 4 de março de 1965, na Capital baiana.

(Fonte: Anuário Espírita 1998 - IDE - Instituto de Difusão Espírita/Araras-SP.)

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