Galeria da mediunidade - 37

Francisco Muniz - 


FERNANDO PESSOA

Um dos fenômenos que a Doutrina Espírita analisa com propriedade é a questão das personalidades múltiplas, tema fartamente abordado na literatura espírita e até mesmo em novela de televisão, a exemplo de Irmãos Coragem (Rede Globo), de Janete Clair, autora reconhecidamente simpatizante do Espiritismo. As múltiplas personalidades, segundo tais estudos, seriam um distúrbio explicado pela teoria da reencarnação, o que tem no poeta português Fernando Pessoa um exemplo emblemático. Seus biógrafos não relutam em admiti-lo médium, porquanto ele próprio assim se definia, após informar-se quanto às chamadas ciências ocultas, com destaque para a Teosofia, a Doutrina Secreta de Madame Helena Blavatski, e às teses de Allan Kardec. Segundo o crítico literário americano-português Richard Zenith, "a mediunidade manifestou-se em Fernando Pessoa como modelo de inspiração poética e como fenómeno espiritista. Tanto numa como noutra vertente, o escritor foi mais longe do que qualquer outro modernista português e só entre outros europeus podemos encontrar termos de comparação". Em Pessoa apresentavam-se pelo menos três outras personalidades: Ricardo Reis, Alberto Caeiro e Álvaro de Campos. "Três nomes criados por Pessoa, três scriptores manifestos, cada qual com vida própria. Todavia, ligados unicamente a Fernando Pessoa, pois, como o próprio poeta acentua: “pus no Caeiro todo o meu poder de despersonalização dramática”, “pus em Ricardo Reis toda a minha disciplina mental, vestida da música que lhe é própria”, “pus em Álvaro de Campos toda a emoção que não dou nem a mim nem à vida” - salienta o acadêmico potiguar Alisson Diego Dias de Medeiros, autor da tese "O imaginário da mediunidade no processo de escritura em Fernando Pessoa", defendida em 2012 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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