O alfabeto divino - Xis

Francisco Muniz - 



Esta penúltima “letra” do alfabeto divino poderia ser um simples sinal de interrogação (?), mas escolhi o nome da letra X de nosso alfabeto para caracterizar melhor o que representa o misterioso, ou desconhecido, no âmbito da Criação e da Divindade, remetendo-nos ao “X da questão”, seja para explicar ou simplesmente registrar a dúvida. Porque, é fácil e mister convir, Deus ainda é um mistério para nós, ainda que os Espíritos tenham lançado luz para o entendimento dessa questão ao afirmarem a Allan Kardec que o Pai criador e mantenedor de tudo quanto existe é “a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas”. Alguns de nós, manifestando a dificuldade de conceituar a Divindade, seja por mera ignorância, por certa má vontade que beira a descrença ou mesmo por esposarem crenças ainda politeístas, preferem se referir ao “Universo” como eufemismo de Deus: “O Universo me deu este presente”; “minha gratidão ao Universo”.  

Uma historinha ouvida do terapeuta Roberto Crema, um dos fundadores da Universidade da Paz, dá conta de um homem que saiu em peregrinação em busca da verdade. Certo dia, depois de muito caminhar, ele encontrou, na entrada de uma aldeia, uma criança segurando uma vela acesa numa das mãos. “De onde vem a luz?”, quis saber o peregrino, dirigindo-se ao menino que, mais que depressa, soprou a chama da vela, apagando-a, ao tempo em que também perguntava: “Para onde ela foi?” Nesse dia, o homem compreendeu que sempre haverá mistérios a resolver, dúvidas a considerar, perguntas buscando respostas. Inquieto, o homem lança seu olhar para fora e, utilizando seu grande potencial investigativo, constrói instrumentos como os telescópios espaciais, por exemplo, que o ajudam a perscrutar o desconhecido e algumas revelações o deixam boquiaberto ante a grandeza e infinitude do que seu orgulho ainda não permite admitir como criação divina.

Entretanto, mesmo que o completo conhecimento de Deus ainda não nos seja possível – segundo Paulo de Tarso, falando aos fiéis de Corinto, agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente (1Coríntios, 13:12) – há um mistério que o Homem é chamado a decifrar: ele próprio! Embora a Ciência já saiba bastante acerca do corpo humano, esse conhecimento abarca apenas a estrutura física da criatura encarnada, porquanto ela também é dotada de um componente metafísico que os cientistas não conseguem acessar muito facilmente. Em seu livro O Homem, o filósofo Huberto Rohden salienta que “o homem só pode ser compreendido quando visualizado à luz da sua realidade integral, como um fato físico e como um fator metafísico, como frisam Albert Einstein, Victor Frankl e outros representantes da ciência integral”.

O Espiritismo, englobando a essência das ciências positivas, talvez seja a única corrente de pensamento sobre a Terra a propor esse conhecimento integral do homem ao nos convidar ao trabalho – árduo, convém ressaltar – da reforma íntima, informando-nos da finalidade última desse processo, que é o encontro conosco mesmos. Graças ao aspecto trino da Doutrina, uma ciência filosófica de consequências moralizantes, respondemos satisfatoriamente às questões mais cruciais da Humanidade: quem e o que somos, de onde viemos, qual nosso papel da vida e para iremos ao findarmos nosso estágio na Terra. Para tanto, torna-se imprescindível aderirmos às disciplinas que levam ao autoconhecimento, a começar pela identificação com nossa imortalidade, pela constatação de que somos Espíritos criados por Deus para gozar da vida eterna o mais plena e conscientemente possível.

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