Como será?

Francisco Muniz - 




Em "Soy loco por ti, América", o poeta José Carlos Capinam aponta três possibilidades para a morte (não a dele, mas a do "eu lírico"): susto, bala ou vício.

Trazendo para mim esses critérios, defini o modo como poderei partir daqui.

Não será por bala, que não ando frequentando quintais alheios, pois não cobiço (mais) a mulher do próximo, nem seu asno nem sua casa, como dizem as Escrituras.

Também não morrerei de susto, o que equivale tanto aos ataques e achaques do coração quanto aos paroxismos das emoções, que julgo ter sob controle. Os acidentes que podem nos surpreender ao virarmos uma esquina estão igualmente nesse critério.

Assim, só me resta o vício e ele diz respeito a tudo que assoberba a mente nos cuidados e descuidos em relação ao corpo de carne, agredindo-o pela maior (excessiva) ou menor (omissa) atenção a ele dispensada. Eis que então surgem as desordens orgânicas que comprometem o bom funcionamento do aparelho físico, e as doenças de médio ou longo curso que enfim respondem por nossa despedida da vida na matéria.

E quando o pano cair para minha apresentação neste palco, onde representamos um papel que não foi ensaiado, quero que a música de Noel Rosa seja a trilha sonora dessa última cena: "Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela..."!

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