O alfabeto divino - Quietude

Francisco Muniz -



Em Deus a quietude impera, nada nele é agitação, porquanto o movimento do hálito criador – inspiração: vida manifesta; e expiração: vida em reconstrução - é pura harmonia, de modo que o ritmo da Divindade só é perceptível no silêncio que medita, observa e pondera. Por isso é que Jesus nos ensinou a procedermos à comunicação com o Pai celestial através da intimidade de nossas preces, salientando que ele nos ouve em segredo. Desse modo é possível compreender os versos de Gilberto Gil na música “Se eu quiser falar com Deus”, na qual o compositor baiano afirma ser necessário “calar a voz” para alcançar semelhante intento.

O aprendiz das verdades celestiais sabe, a propósito, da necessidade de se esvaziar por completo para que o Criador possa preenchê-lo em plenitude. Esvaziar-se das veleidades mundanas, das imperfeições da alma, das pretensões de conquistas na esfera material, horizontais, em detrimento das vitórias sobre si mesmo, verticais. É que um vaso impuro polui a água limpa que nele se coloca; antes de depositar-se o líquido precioso é imprescindível assear o vaso, livrando-o de toda a impureza. Esse líquido é a água viva que Deus derrama sobre nós e da qual o Cristo é o principal canal, vertendo-se em amor para saciar nossa sede milenar.

Se a prece é nosso instrumento de comunicação com a Divindade, precisamos também conhecer linguagens através das quais recebemos as respostas aos nossos pedidos, fazendo o imprescindível silêncio. As três linguagens de Deus aos homens, segundo Huberto Rohden, são a Música, a Mística e a Matemática. Não falamos da música dos homens, mas das harmonias inaudíveis que nos elevam aos caminhos das altas vibrações da alma. Léon Denis, em seu livro O Grande Enigma, vem falar da música das esferas, informando que todo movimento no universo, como o dos astros em sua caminhada cósmica, orbitando uns aos outros, é vibração musical. Ouvidos treinados conseguem captar essas harmonias.

Pitágoras, o filósofo grego anterior a Sócrates, foi dos primeiros sábios a intuir a Geometria Perfeita em seus estudos matemáticos, observando o esquema de crescimento das árvores e de animais como o molusco Nautilus. Essa mesma Geometria o sábio italiano Leonardo da Vinci utilizou na conceituação do “Homem vitruviano”, com o qual explicou a anatomia humana. Posteriormente, outro sábio italiano, Galileu Galilei, observando a órbita da Terra em torno do Sol, confirmando Copérnico e contrariando o pensamento então hegemônico da Igreja, afirmou que tudo vem de Deus e termina em Deus.

Quanto à Mística, é por ela que recorremos à fé e à prece para estreitarmos nossa relação com o Altíssimo. Em seu livro Divina Presença, no qual comenta a atuação do místico espanhol João da Cruz, o Espírito Yogashririshnam faz esta advertência, pela psicografia do médium baiano Elzio Ferreira de Souza (1926-2006): “Três amigos encontravam-se no campo, quando uma imensa luz de brilho inexcedível e singular transparência surgiu à frente deles vinda do horizonte. Um deles fugiu. O outro ficou paralisado e fechou os olhos com o anteparo das mãos. O terceiro mergulhou nela.” Um dia teremos a necessária coragem de fazer esse mergulho íntimo...


Comentários

  1. Respostas
    1. Tenho motivos para acreditar que você é minha amiga Marinalda (oxalá eu não esteja enganado) e lhe agradeço duplamente. Muita paz.

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  2. Maravilhosa explanação!Que Nossa Senhora do Silêncio e as divinas notas musicais embalem a sua vida.

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