O alfabeto divino - Movimento

Francisco Muniz -

Se prestarmos suficiente atenção, perceberemos que tudo está em constante movimento no Universo, onde nada é estanque: os corpos celestes descrevem suas órbitas uns em torno dos outros, fazem circunvoluções sobre si próprios e até mesmo nós, os homens, estamos submetidos a essa lei. A própria vida na Terra, desde os minerais, as plantas e os animais – toda a Natureza – conta a história dessa movimentação. No Evangelho de Tomé, livro considerado apócrifo, isto é, sem autenticidade reconhecida quanto à autoria, Jesus observa a seus apóstolos: “Se perguntarem o que vocês são, digam que são um movimento e um repouso.”

Podemos compreender esses dois estágios analisando nossa trajetória evolutiva, tanto do ponto de vista meramente humano quanto no aspecto espiritual: ora estamos na vigília, em ação com o corpo, ora o pomos para repousar, por ocasião do sono físico; ou, então, “repousamos” quando passamos pela experiência da morte e retornamos a nosso ambiente de origem. A Erraticidade, assim, pode ser considerada, até certo ponto, como um período de repouso do Espírito até que este se submeta a nova experiência reencarnatória, para outra vez movimentar-se em suas provas na carne.

Ainda no Evangelho de Tomé, o Cristo reforça seu pensamento dizendo, sempre aos apóstolos, que, se perguntarem o que somos, devemos dizer que somos transeuntes. Com efeito, transeuntes são aqueles que se movimentam, transitando de um ponto para outro; do ponto de vista espiritual, trata-se do trânsito de uma posição inferior para outra necessariamente superior, correspondendo às leis de progresso e de evolução. Não ficamos, portanto, no mesmo nível desde que criados por Deus para a Perfeição, seres perfectíveis que somos.

Não se trata, porém, do movimento que seja apenas agitação – e há muita agitação improfícua no mundo –, mas a atividade que representa o trabalho incessante com vistas ao aperfeiçoamento. Assim como não concebemos Deus descansando após o “sétimo dia” da Criação, porquanto temos o Cristo afirmando que “meu Pai trabalha desde sempre e eu também trabalho” (João 5:17-30), do mesmo modo devemos estar ativos em relação aos deveres que nos cabem cumprir durante a encarnação.