Discernimento e controle das comunicações

Francisco Muniz -



Iniciamos aqui uma série de comentários do médium baiano Elzio Ferreira de Souza (foto), já desencarnado, a respeito de temas espíritas capitais para o estudo da Doutrina e compreensão da mediunidade, a fim de auxiliarmos no burilamento das faculdades mediúnicas e morais do trabalhador da Casa e da Causa espíritas. Quanto ao assunto referente ao título, Dr. Elzio, como era conhecido no âmbito do movimento, pede, a princípio, que se consulte os versículos 4 a 11 do capítulo 12 da primeira epístola de Paulo aos coríntios. Aí, o "apóstolo dos gentios" faz referência ao que chama de dons divinos: "São diversos os dons espirituais, mas o espírito é um só; diversos são os ministérios, mas um só é o Senhor; há operações diversas, mas um só Deus que tudo opera em todos. É para utilidade que a cada um se concede a manifestação do espírito". Em seguida, passamos a palavra a Elzio, tal como inscrito em seu livro "Divina presença ‒ comentários mediúnicos a João da Cruz", ditado pelo Espírito Yogashririshnam (Ed. Circulus, Salvador, 1992).

A respeito do tema, consignou Kardec: "O isolamento do médium é sempre uma coisa deplorável para ele, porque não tem qualquer controle para suas comunicações. Não somente deve instruir-se com a opinião de terceiros, mas lhe é necessário estudar todos os gêneros de comunicação para compará-las; restringindo-se àquelas que obtém, por melhores que lhe pareçam, ele se expõe a enganar-se sobre seu valor, sem considerar que ele não pode conhecer tudo, e que elas giram quase sempre dentro do mesmo círculo" (O Livro dos Médiuns, n. 248).

O Espírito Agostinho. Em mensagem dada ao Grupo Espírita de Sétif, na Argélia, publicada na Revista Espírita de julho de 1863, lecionou: "Observai e estudai com cuidado as comunicações que recebeis; aceitai o que a razão não recusar; repeli o que a choca; pedi esclarecimentos sobre as que vos deixam na dúvida. Tendes aqui a marcha a seguir para transmitir às gerações futuras, sem medo de as ver desnaturadas, as verdades separáveis sem esforço de seu cortejo inevitável de erros" (Allan Kardec, Revista Espírita, julho de 1863, p. 227).

João da Cruz recomendava que se submetessem as palavras recebidas a exame de outrem, "confessor maduro" ou "pessoa discreta e sábia" (Subida, Parte II, cap. 30:5), não se dando importância ao que se recebesse, ainda que parecesse de grande valor, governando-se em tudo pela razão e pelo que a Igreja ensina (idem, cap. 30:7). Podemos advertir o critério da universalidade do ensino, na recomendação que faz para confrontá-las com o ensino da Igreja e com as lições do Evangelho (idem, cap. 21:4). Àquela época, quando as comunicações espirituais ainda não tinham alcançado a difusão atual, seria a doutrina católica o padrão de referência como doutrina aceita, além do próprio Evangelho. Não devemos admirar-nos do fato, quando ainda hoje, apesar das lições libertadoras de Allan Kardec, existem os que procedem de maneira análoga em relação ao Espiritismo.

Esclarecemos o leitor sobre o fato de que as edições das Obras Completas (de João da Cruz) da Editora Vozes e do Carmelo de S. José ‒ Fátima ‒ não trazem a parte final das recomendações constantes da cópia denominada Alcaudete, constante da edição espanhola da Biblioteca de Autores Católicos (BAC), a qual transcrevemos (o trecho inexistente naquelas edições encontra-se entre parênteses): "Só digo que a principal doutrina é não fazer caso disso em nada (ainda que mais pareça, senão governarmo-nos em tudo pela razão e pelo que já nos há ensinado a Igreja e nos ensina cada dia)".

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