Controle racional das comunicações

Francisco Muniz -



Damos prosseguimento à série de comentários do médium Elzio Ferreira de Souza, constantes de seu livro "Divina Presença", ditado pelo Espírito Yogashririshnam, a respeito de alguns tópicos da Doutrina Espírita, a partir de informações sobre a vida, a obra e o pensamento do místico espanhol João da Cruz (1542‒1591). Sobre este tema, ele começa chamando nossa atenção para o alerta que o Espírito Erasto faz em O Livro dos Médiuns, no parágrafo 230. Acompanhemos:

"Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios; não admitais, pois, senão o que for para vós de uma evidência indubitável. Desde que surja uma nova opinião, por pouco que ela vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica; o que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai audaciosamente; melhor repelir dez verdades que admitir uma única mentira, uma só teoria falsa" (Espírito Erasto ‒ O Livro dos Médiuns, n. 230).
 
Chamamos a atenção para o fato de que não basta que uma teoria tenha sido ensinada por Espíritos em locais e épocas distintas. Há sempre necessidade do exame de sua veracidade. Kardec informou, por exemplo, que "a teoria da formação da Terra pela incrustação de vários corpos planetários já foi dada em várias épocas por certos Espíritos e através de médiuns desconhecidos uns dos outros" (Revista Espírita, abril de 1860, p. 112 ‒ "Formação da Terra. Teoria da incrustação planetária"). Não há, no entanto, qualquer indício de que seja verdadeira. Entre os Espíritos existem também aqueles que não perderam o gosto pela formulação de teorias...

Por outro lado, mesmo os Espíritos de categorias superiores apresentam teorias divergentes, conforme assinalou Kardec no comentário à questão n.º 613 de O Livro dos Espíritos: Espíritos existiam que defendiam a teoria evolucionista, enquanto outros a teoria fixista. O próprio Kardec, apesar de transcrever as respostas dos Espíritos favoráveis à evolução, não só física como espiritual, inclinava-se para o fixismo, em 1860, na segunda edição de O Livro dos Espíritos (questões 59 e 61), embora devamos registrar que já em 1862 admitia ele, pessoalmente, a teoria evolucionista. É o que deixa claro o capitão Bourgès na sua obra intitulada Psychologie transformiste, évolution de l´intelligence:

"Quando Allan Kardec fez sua viagem espírita em 1862, ele veio nos visitar em Provins, onde nós estávamos na guarnição militar; tivemos a satisfação de ficar com o Mestre alguns dias junto a nós. Em suas conversações, ele não nos ocultou nossa origem animal e falou-nos do progresso que devia fazer o espírito para chegar à perfeição. Ele recomendou-nos sobretudo aprofundar todos os ramos da ciência, assegurando-nos que nos elevaríamos através dela e que acharíamos no Livro dos Espíritos os elementos para tudo conhecer e tudo compreender. Também, em 1869, nós lhe demos conta da marcha dos nossos trabalhos e da descoberta que críamos ter feito no estudo das obras de Darwin. Era a evolução do espírito tal como nós expomos hoje" (trecho citado por André Dumas, na introdução à edição francesa do livro Obras Póstumas, de Allan Kardec, intitulada "Allan Kardec ‒ sa vie et son oeuvre", p. XV‒XVI, que o recolheu na obra de Ch. Truffy, Causeries Spirites, 2ème causerie, p.157‒158).

Métodos de controle das comunicações mediúnicas

É ainda Elzio Ferreira de Souza quem, ponderadamente, lembra que nem tudo pode estar ao alcance da razão. Emmanuel, diz ele, em mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, no ano de 1938, intitulada ‒ A Ciência da Terra, agora recolhida na coletânea Ação, Vida e Luz (Rio de Janeiro, FEB, 1991, p. 104), refere-se às limitações da razão no exame de determinadas mensagens:
"Mas, embora reconhecendo esses fatos como deduções lógicas e racionais, temos trazido sempre ao vosso mundo de intuição muitas realidades em caráter profético, que, somente mais tarde, poderá a razão aceitar".

E isto ‒ acrescentamos nós ‒ mesmo após Kardec haver dito que "o primeiro controle é, sem contradita, o da razão". Mas o Codificador deixa implícito que haverá outros métodos de controle, como o da uniformidade: "A concordância no ensino dos Espíritos é, pois, o melhor controle; mas é necessário ainda que ela tenha lugar em certas condições." E o Codificador completa: "Esse controle universal é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo e anulará todas as teorias contraditórias" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução II: autoridade da Doutrina Espírita; controle universal do ensinamento dos Espíritos).

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