Esta data no Evangelho (8 de junho)

Francisco Muniz -



Uma querida companheira de lides doutrinárias usava a expressão “não é brinquedo, não” para se referir às lições por vezes duras que a vida nos oferece, desde que vendo-nos preparados para maiores esclarecimentos. Penso nisso ao ler, na Bíblia de Jerusalém, o teor do primeiro versículo do capítulo 6 da Epístola de Paulo aos Hebreus. É esse texto que comentaremos hoje, dia 8 de junho, dando prosseguimento ao estudo de algumas passagens do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina dos Espíritos. O texto integra a terceira parte dessa Carta paulina, onde é colocado sob a epígrafe “O autor expõe a sua intenção”. Leiamo-lo:

“Por isso, deixando de lado o ensinamento elementar de Cristo, elevemo-nos a uma perfeição adulta, sem ter que voltar aos artigos fundamentais: o arrependimento das obras mortas e a fé em Deus (...)”

Vamos, antes de emitir nosso parecer sobre essa curiosa frase do Apóstolo dos Gentios, mostrar o que se esconde nas reticências entre parênteses, indo até os versículos 2 e 3, fechando a primeira parte do pensamento de Paulo de Tarso: “(...) a doutrina sobre os batismos e a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos e o julgamento eterno. É isto o que faremos, se a tanto Deus nos ajudar!” Essas palavras foram pronunciadas após o ex-doutor da lei revelar a condição suprema de Jesus como sumo sacerdote da ordem de Melquisedeque, da qual já falamos anteriormente, mas aparentemente seus interlocutores não puderam aceitar suas ponderações: “Muitas coisas teríamos a dizer sobre isso, e a sua explicação é difícil, porque vos tornastes lentos à compreensão” (Hebreus 5:11).

O que Paulo quer dizer é que há duas expressões da doutrina do Cristo: uma, superior, aquela que o mestre transmitia diretamente a seus discípulos mais próximos, e a outra, elementar, oferecida ao povo, geralmente através de parábolas ou do exemplo. É forçoso reconhecer que a Doutrina Espírita, que Allan Kardec classificou como a terceira revelação de Deus aos homens, vale-se da expressão elementar do ensinamento de Jesus para fomentar nosso progresso espiritual com mais facilidade. A prática da caridade, o intercâmbio mediúnico (os tais batismos a que o Apóstolo alude) e o esclarecimento sobre o significado da morte física estão ao alcance da compreensão de todo aquele que se disponha a aceitar tais orientações sem espírito de sistema, conforme frisou o Codificador ao tratar da simplicidade do Espiritismo.

No entanto, o próprio Jesus havia declarado, conforme se lê no versículo 12 do capítulo 16 do evangelho de João, que “eu ainda tenho muitas verdades que desejo vos dizer, mas seria demais para o vosso entendimento neste momento”, condicionando ao Consolador prometido a realização dessa tarefa: “No entanto, quando o Espírito da verdade vier, Ele vos guiará em toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido e vos revelará tudo o que está por vir” (João 16:13). Isso significa que o Espiritismo ainda não cumpriu seu papel esclarecedor junto a nós, que precisamos nos esforçar um pouco mais no aprendizado para que, mais amadurecidos em nosso senso moral, possamos corresponder aos novos ensinos que virão.

Por isso é que o Espírito Erasto (*), que foi discípulo de Paulo de Tarso, conclama-nos à ação viril na preparação do mundo regenerado: “Ide, homens grandes diante de Deus, que, mais felizes que São Tomé, credes sem pedir para ver e aceitais os fatos da mediunidade quando mesmo não tenhais conseguido jamais obtê-los em vós mesmos; ide, o Espírito de Deus vos conduz”. É uma tarefa para a qual se exige coragem e determinação, porquanto há perigos a vencer na caminhada, mas não trilhamos sozinhos: “Que a vossa falange se arme, pois, de resolução e coragem! Mãos à obra! A charrua está pronta; a terra espera; é preciso trabalhar”.

(*) Ver O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX (“Os trabalhadores da última hora”), item 4 (“Missão dos espíritas”).


Comentários

  1. Chico, obrigada por mais esta pérola!!

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  2. Eu é que agradeço por sua deferência. Grande abraço.

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  3. Tô lenta nessa compreensão, como Paulo escreve ao Hebreus.

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  4. Obrigada amigo, por dividir suas reflexões tão oportunas.

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  5. O Evangelho nos solicita a partilha: "Deixai brilhar vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras". Grande abraço.

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