Francisco Muniz -
No prosseguimento de nosso estudo de algumas passagens do
Novo Testamento, a Bíblia de Jerusalém nos oferece hoje, dia 7 de junho,
o versículo 15 do sexto capítulo de Atos dos Apóstolos para os comentários que
faremos sob a inspiração da Doutrina Espírita. O texto, apresentado a seguir,
trata de um tema da alçada da mediunidade, ferramenta da ciência espírita que
todos devemos estudar, uma vez reconhecendo-nos médiuns, seja em menor ou maior
grau, conforme conceituou Allan Kardec.
“Todos os membros do Sinédrio, com os olhos fixos nele,
tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo.”
Em nota de rodapé, os organizadores da Bíblia de Jerusalém
registram, citando passagens tanto do Velho quanto do Novo Testamento, que “o
aspecto de um anjo provoca um temor sagrado. O semblante de Moisés, ao descer
do Sinai, refletia o resplendor da glória de Deus e provocava o mesmo temor.
Igualmente o rosto de Jesus transfigurado. Os membros Sinédrio também assistem
a uma transfiguração de Estêvão, que vê a glória de Deus”. O evangelista
destaca apenas que os sinedristas “tiveram a impressão” de ver o que
efetivamente viram, porquanto o fenômeno foi real e sensibilizou não um, mas
todos eles, o que atesta a veracidade do acontecimento.
A “glória de Deus”, portanto, consiste em o Espírito ver-se e
mostrar-se tal qual é em sua essência de criatura divina, de modo que os
membros do Sinédrio também puderam ter uma pálida ideia desse estado espiritual, sem
compreendê-lo, porém. Deu-se com eles o que se pode chamar teofania: “em poucas
palavras, teofania é uma manifestação de Deus de forma visível
e captada pelos sentidos do ser humano” – informa a Wikipedia. Consideremos,
contudo, que toda a Criação, seja ela material ou espiritual, é uma
manifestação da glória de Deus, que nada faz imperfeito. Nós podemos experimentar
um momento de teofania ao lermos uma página edificante, ao meditarmos, ao
ouvirmos uma bela preleção que nos transporte para além de nós mesmos...
E, sim, é de
Estêvão que Lucas fala nesse versículo, relatando a prisão desse primeiro
grande mártir do Cristianismo, acusado falsamente de blasfemar contra Moisés e
contra Deus. Mediunizado, isto é, “cheio de graça e poder”, nas palavras do
médico grego Lucas, amigo de Paulo de Tarso, está sob a condução e proteção de
seu guia espiritual e do próprio Jesus, razão pela qual seu rosto se transfigura
perante os doutores da lei, dentre os quais se encontrava Saulo, o futuro
convertido de Damasco. Assim, mais que “temor”, o que se sente ao observar tal
fenômeno é inicialmente o espanto ante o inusitado, só assustando aos declarados
inimigos da Luz, por verem sua ação perniciosa de alguma sorte ameaçada.
É em O Livro dos Médiuns que Allan Kardec vai tratar das
questões alusivas aos médiuns e à mediunidade, ampliando os conceitos exarados
na segunda parte de O Livro dos Espíritos, sobre o mundo espiritual,
eminentemente causal, e sua relação com nossa realidade fenomênica, considerada
propriamente o mundo dos efeitos. Nessa segunda obra da Codificação espírita,
portanto, vemos que a razão precípua para os Espíritos se mostrarem
ocasionalmente aos homens é a demonstração da imortalidade com a finalidade de
nos fazermos menos céticos e incrédulos. É por nossa livre adesão a tais
princípios basilares da crença que Deus nos prova sua existência, conforme
dizem os Espíritos Superiores, conclamando-nos ao exercício da fé raciocinada para
torná-la cada vez mais sólida, para o que é imprescindível o estudo acurado da ciência
da alma que é o Espiritismo.
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