Francisco Muniz -
O capítulo 6 do Evangelho de Lucas começa com a narrativa sobre
“As espigas arrancadas”, que é a epígrafe do texto que devemos comentar hoje,
dia 4 de junho, destacando o primeiro versículo, cujo texto, retirado da Bíblia
de Jerusalém, é informado logo abaixo. Recordamos que nosso esforço, no âmbito
do estudo do Novo Testamento, é baseado no que aprendemos da Doutrina Espírita,
a chave com a qual descerramos os véus de mistério observados nas lições de Jesus.
“Certo sábado, ao passarem pelas plantações, seus
discípulos arrancavam espigas e as comiam, debulhando-as com as mãos.”
A frase, comentando um acontecimento da experiência de Jesus
com seus apóstolos e outros seguidores, poderia indicar um fato corriqueiro se
a ocorrência não tivesse tido lugar num dia de sábado. Com efeito, alguns fariseus,
assaz rigoristas, daqueles que fazem questão da aplicação da lei “ipsis literis”
(*), observavam a cena e censuravam o comportamento do grupo, porque entre os
judeus o sábado deve ser integralmente dedicado às atividades religiosas.
Porque pensavam que os discípulos do Messias não estavam apenas se alimentando,
mas principalmente trabalhando, pois arrancavam e debulhavam as espigas, o que
correspondia, aos olhos deles, à tarefa da colheita.
Ou seja, até mesmo o trabalho estava proibido no dia em que
todas as atenções deviam se dirigir para Deus. O Cristo, contudo, que disse ter
vindo para cumprir a Lei – bem entendido, a lei de Deus, consoante o Decálogo mosaico
e não as determinações civis de Moisés, conforme se encontra no Deuteronômio e
no Levítico (**) – fez-nos compreender que todos os dias são sagrados para Criador
e em todos eles nós somos chamados a trabalhar para o progresso comum. Entretanto,
herdamos e praticamos a cultura judaico-cristã, o que quer dizer que traços do
Judaísmo se misturam aos conceitos cristãos, graças à teologia da Igreja, que
instituiu, por exemplo, a sacralidade do domingo, palavra que significa, em
latim, “dia do Senhor”.
Também em razão disso é que nós, os espíritas, sentimo-nos
muito à vontade por entender que o Espiritismo nada nos proíbe, mas,
respeitando o livre arbítrio de seus profitentes, aponta para as responsabilidades
que nos cabem no sentido da promoção de nosso crescimento espiritual. Trata-se
de um trabalho contínuo na “vinha do Senhor”, que é nossa própria alma, que não
deve mais ser postergado, principalmente quando entendemos o espírito desta
frase de Emmanuel: “Se a bondade divina já te permite pisar na seara espírita,
não te limites à prece”. Emmanuel, que fora mentor do médium Francisco Cândido
Xavier, também nos diz que “os espíritas só têm um direito, que é cumprir seus
deveres”. Tais deveres, concordemos, foram assumidos primeiramente perante a
própria consciência (Deus em nós) e, depois, perante o Cristo, que avaliza
nossa reencarnação na Terra.
As responsabilidades do espírita se tornam bem mais
significativas ao admitirmos que somos desses trabalhadores da última hora
referidos no Evangelho, detentores, portanto, de conhecimentos mais dilatados e
por isso necessitados de meditar profundamente nestas palavras do Mestre
nazareno: “A quem muito foi dado, muito será cobrado”. Este enunciado encontra
sua real acepção pela interpretação espírita, através da qual compreendemos que
somos todos médiuns e, por nos sabermos instrumentos da Espiritualidade para a
disseminação do bem e da verdade junto aos homens, os “pequeninos do Pai”, não
podemos perder de vista um minuto sequer nossas atribuições.
Notas
(*) Expressão latina que significa “ao pé da letra”, ou “do
modo como está escrito”.
(**) Livros do Velho Testamento atribuídos ao grande
Legislador hebreu.
Gratidão
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