Francisco Muniz -
Hoje, dia 3 de junho, nosso estudo do Novo Testamento, no
qual utilizamos a chave interpretativa do Espiritismo, leva-nos ao terceiro versículo
do sexto capítulo dos Atos dos Apóstolos. O texto, lido, como de hábito, na Bíblia
de Jerusalém, vem sob a epígrafe “Instituição dos Sete” e corresponde à
segunda parte (“As primeiras missões”) do livro escrito pelo médico Lucas,
amigo e cronista dos feitos de Paulo de Tarso e demais discípulos do Cristo; dito
isto, passamos aos comentários, após citá-lo, como segue:
“Procurai, antes, entre vós, irmãos, sete homens de boa
reputação, repletos do Espírito e de sabedoria, e nós os encarregaremos desta
tarefa.”
O sentido dessas palavras, possivelmente pronunciadas por
Pedro – feito naturalmente líder do Colégio Apostolar recomposto após a
defecção de Judas, tendo sido eleito Matias, pseudônimo adotado por Zaqueu quando
decidiu-se por seguir os passos de Jesus – constitui uma bela história: após as
primeiras perseguições, os “homens do caminho”, como os seguidores inicialmente
ficaram conhecidos, receberam a ajuda do doutor da lei Gamaliel, fariseu mentor
de Saulo de Tarso. Discursando em favor dos apóstolos no Sinédrio, Gamaliel pediu
aos “varões de Israel” que os deixassem em paz porque, se o que diziam e faziam
provinha dos homens, o tempo se encarregaria de destruir; contudo, se essa obra
procedia da parte de Deus, ninguém poderia destruí-la: “E não aconteça que vos
encontreis movendo guerra a Deus” (Atos 5:34-39).
Em decorrência, os apóstolos voltaram às pregações, “e cada
dia, no Templo e pelas casas, não cessavam de ensinar e de anunciar a Boa Nova
do Cristo Jesus” (Atos 5:42), de modo o número de convertidos à fé só
aumentava, dando vez aos ciúmes entre os grupos no âmbito da igreja primitiva.
É então que Pedro, em nome dos Doze, propõe a escolha dos Sete (*) diáconos,
por entender que “não é conveniente que abandonemos a Palavra de Deus para servir
às mesas”. Dentre eles, figurava Estêvão que, “cheio de graça e de poder”, isto
é, detentor de belos dons mediúnicos, “operava prodígios e grandes sinais entre
o povo” e atraindo o descontentamento dos tradicionalistas seguidores de
Moisés, culminando na prisão e morte desse primeiro mártir do Cristianismo (**).
No entanto, a frase que ora abordamos noz faz recordar as
orientações de Allan Kardec acerca da formação das sociedades espíritas,
conforme registrado no livro Obras Póstumas, especialmente no texto
intitulado “Projeto 1868”. Segundo o Codificador, seria imensamente proveitosa
a disseminação de grupamentos espíritas por toda parte, de modo que se houvesse
um centro espírita em cada esquina de cada grande cidade do mundo, haveria
muito menos prisões e hospitais na Terra. Isso acontecerá quando os homens se
puserem de acordo quanto ao que realmente importa no cuidado com as coisas
celestiais, dando a devida atenção ao componente mediúnico existente em todos
nós, em maior ou menor grau, para que se possa cumprir as determinações do
Cristo e seus apóstolos.
Enquanto isso não acontece, experimentaremos as
consequências das divisões internas, as famosas dissenções cujo resultado é a
multiplicação, embora vagarosa, dos grupos espíritas. É assim que dois ou três
buscarão outros simpatizantes e todos – não importando o número –, reunidos em
torno de um propósito comum, a causa do Cristo. Não é importante, pois, que
haja Centros grandes, mas Casas dedicadas ao labor da caridade e à difusão dos
conceitos que promovam a sabedoria decorrente do esclarecimento de todos.
Notas
(*) Em nota de rodapé, a Bíblia de Jerusalém informa que
esse número remete às sete nações pagãs que habitavam em Canaã, a terra
prometida que Moisés não conhecera, ao passo que os doze apóstolos remetiam às
12 tribos de Israel (Marcos 3:14 e seguintes).
(**) Mais uma vez recomendamos a leitura do livro Paulo e
Estêvão (psicografia de Chico Xavier; ed. FEB), no qual Emmanuel, seu autor
espiritual, narra a comovente história envolvendo esses dois grandes vultos da
cristandade.
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