Francisco Muniz -
“Jejuar em segredo” é a epígrafe do texto que tencionamos
comentar neste dia 26 de junho, continuando – e já perto de concluir – nosso
estudo de temas do Novo Testamento. Nossa abordagem salienta o versículo 17 do
sexto capítulo do Evangelho de Mateus. Hoje, portanto, cabe-nos abordar o texto
seguinte, copiado da Bíblia de Jerusalém, sob a inspiração da Doutrina
dos Espíritos:
“Tu, porém, quando jejuares, unge tua cabeça e lava teu
rosto (...)”
“(...) para que os homens não percebam que estás jejuando,
mas apenas o teu Pai, que está lá no segredo; e o teu Pai, que vê no segredo,
te recompensará” – tal é o complemento do texto em destaque, correspondente ao
versículo 18. Bem se vê que o jejum, conforme o pensamento de Jesus, equivale a
todas as ações relativas à Lei de Adoração no âmbito do Espírito, ou seja, ao
modo desvestido de toda representação material de se fazer essa adoração.
Nossos atos de caridade, nossas orações, nosso comportamento íntimo, dizem
respeito unicamente à nossa consciência e à Divindade, que vibra profundamente
em nós, no mais recôndito de nossa essência espiritual. Quanto a isso, ninguém
precisa nem deve tomar parte, porquanto em muitos casos, senão em todos,
ninguém compreenderá o que se nos passa na intimidade de nós mesmos.
A essência do ensinamento do Cristo é toda oculta, quer
dizer, não se expressa através de rituais próprios do culto exterior, atendendo
à recomendação do Mestre quanto ao verdadeiro sentido da adoração: Deus deve
ser adorado em Espírito e verdade, e não no formalismo religioso dos homens. E é
essa essência que o Espiritismo procura reviver, limando do Cristianismo todas
as asperezas que as falsas concepções humanas, marcadamente materialistas,
impuseram à doutrina de Jesus, corrompendo-a. Por isso, o Espírito de Verdade, “que
é o próprio Senhor”, diz-nos André Luiz (*), fala, em O Evangelho Segundo o
Espiritismo (**), que “todas as verdades se encontram no Cristianismo; os
erros que nele se enraizaram são de origem humana (...)”. Compete-nos,
portanto, buscar o esclarecimento que nos faça capazes de discernir entre o
erro e a verdade, enxergando o sentido por trás dos símbolos tão ao gosto dos
homens.
É isso que significa, em nossa modesta apreciação, “ungir a
cabeça” e “lavar o rosto”, gestos representativos da postura do crente sincero
convidado a desfazer-se dos conceitos equivocados a fim de ser preenchido pela
sabedoria divina. É desse modo que pensam autores como Hermínio Miranda, que em
Nossos Filhos São Espíritos (***) afirma ser necessário desaprender tudo
quanto sabemos para conseguirmos apreender as informações novas – e o
Espiritismo é o que de mais novo há à disposição da Humanidade carente de
esclarecimento; e Huberto Rohden, para quem precisamos amar nossa ignorância,
reconhecendo-a, a fim de sermos plenificados em Deus. Semelhante postura decorre
do pensamento socrático (“Só sei que nada sei!”) e coaduna com o precioso
convite de Jesus, que nos recomenda conhecer a Verdade que liberta. Só assim
aprenderemos a jejuar de fato!
Notas
(*) Ver o livro Missionários da Luz, psicografia de
Chico Xavier, ed. FEB, 1945.
(**) Cap. VI (“O Cristo consolador”), item 5 das Instruções
dos Espíritos (“Advento do Espírito de Verdade”).
(***) Ed. Lachâtre, São Paulo, 1995.
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