Esta data no Evangelho (25 de junho)

Francisco Muniz -



A Bíblia de Jerusalém nos apresenta, mais uma vez, o sexto capítulo do Evangelho de Lucas, agora com seu versículo 39, colocado sob a epígrafe “Condições do zelo”, para os comentários que faremos hoje, dia 25 de junho, sob a inspiração da Doutrina dos Espíritos. O texto selecionado, que dá prosseguimento a nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento, é o seguinte:

“Disse-lhes ainda uma parábola: ‘Pode acaso um cego guiar outro cego? Não cairão ambos num buraco?’”

Em diversas ocasiões de sua pregação, Jesus se vale das metáforas do olho e da visão para se referir às nossas dificuldades, aos impeditivos que nós mesmos criamos na jornada em prol do despertamento para a realidade do Espírito imortal. “Se teus olhos forem bons, todo o teu corpo terá luz” (Mateus 6:22), disse o Mestre. Quando o perseguidor Saulo de Tarso teve o célebre encontro com o Filho do Homem no caminho de Damasco, a visão de tão intensa luminosidade provinda do Cristo deixou-o momentaneamente cego até que, através da mediunidade de Ananias, duas escamas fossem retiradas dos olhos do futuro Apóstolo dos Gentios. Na Parábola dos Trabalhadores da Última Hora, o senhor daquela vinha pergunta ao servidor que lhe cobrava um valor diferenciado, julgando haver trabalhado mais que seus companheiros: “Teu olho é mau porque eu sou bom?” (Mateus 20:15)

Os Espíritos nos dizem que nosso pior defeito é a miopia espiritual e a causa disso está em que dirigimos nossos olhos físicos muito mais para a observação do exterior, desprezando nossa condição essencial, eminentemente íntima, isto é, vai muito além do corpo de carne. Em razão disso, o psicanalista suíço Carl Gustave Jung dizia que “quem olha para fora sonha; quem olha para dentro desperta”. É dessa maneira que, compreendendo o que somos, vamos enfim acordar para a verdadeira Realidade e vivenciar o que Jesus chamou de Reino de Deus, deixando que a luz da vivência espiritual brilhe cada vez mais fortemente em nós, conforme o Mestre solicitou, ao final do Sermão do Monte (Mateus 5:16).

Precisamos, portanto, corrigir nossa miopia espiritual, porquanto para a superação da limitação visual de ordem física podemos usar os óculos e outros artifícios. Mas os óculos e as lentes de contato não modificam em nada nossa dificuldade de visão na esfera da alma, uma vez que olhamos e não vemos; se vemos, não enxergamos; se enxergamos, não compreendemos e sistematicamente negamos o que vemos. Assemelhamo-nos, assim, aos cegos junto a outros cegos, conforme a ponderação do Messias, todos correndo o risco de nos precipitarmos nos abismos da ignorância, fonte de todo os males. No entanto, a Bondade Divina jamais nos abandona e constantemente nos oferece os meios e a oportunidade para nossa correção.

Nesse sentido, convém sempre recorrermos, nós, espíritas, ao Prefácio de O Evangelho Segundo o Espiritismo, no qual seu autor, o Espírito de Verdade, que outro não é senão Jesus, o Cristo de Deus, salienta que “os Espíritos do Senhor ... vêm iluminar o caminho e abrir os olhos aos cegos”. O Espiritismo, assim compreendido, vem restabelecer o verdadeiro sentido do que antes – dois mil anos atrás – foi ensinado, “para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos”. Com tais ferramentas, o Evangelho e a Doutrina Espírita, que nos faculta a compreensão em torno da mediunidade, principalmente, temos as condições propícias para, com nosso esforço, fazer “as vontades do pai que está no céu”, dizendo “Senhor! Senhor!” do fundo do coração, para podermos entrar no Reino dos Céus...

Comentários