Francisco Muniz -
A última das “epístolas católicas”, isto é, universais, a
Carta de Judas (*) não possui divisões em capítulos, de modo que valemo-nos do
versículo 17 do sexto parágrafo para fundamentar nossos comentários deste dia
24 de junho, dando prosseguimento ao estudo de algumas passagens do Novo
Testamento. Recordamos que nossa abordagem se faz sob a inspiração do
Espiritismo. Eis o texto, copiado, como se sabe, da Bíblia de Jerusalém,
colocado sob a epígrafe “Exortações aos fiéis. O ensinamento dos apóstolos”:
“Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras de antemão
preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo (...)”
Arnaud Rodrigues era um compositor “antenado”, tanto quanto seu
parceiro Chico Anysio, e juntos compuseram a bela canção “Tributo ao regional”,
cujos primeiros versos trazem uma insuspeitada verdade: “Não há considerações gerais a fazer/Tá tudo aí/Tá
tudo aí/Para quem quiser ver”. Pois não disse Eça de Queirós, repetindo o Eclesiastes (1:9), que não
há nada de novo sob o sol, e não afirmou William Shakespeare que há mais
mistérios entre o céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia? Assim, vale
recordar que Jesus insistia para que tivéssemos olhos de ver e ouvidos de ouvir,
porque efetivamente todas as informações de que necessitamos para evoluir estão
todas ao nosso alcance e quanto mais esforços façamos para merecê-las, mais
verdades nos serão reveladas à compreensão.
Cremos ser disso que Judas fala ao pedir
nessa epístola que nos lembremos das “palavras de antemão preditas”, ou seja,
de todas as lições que nos foram prodigalizadas a fim de providenciarmos o
imprescindível divórcio entre as trevas e a luz, entre a ignorância que nos
caracteriza e sabedoria que alcançaremos a fim de nos libertarmos da
inferioridade moral em que momentaneamente nos encontramos. Assim é que os
apóstolos nos legaram seu pensamento em palavras construídas de acordo com o
ensinamento imortal do Cristo Jesus e o grande, o maior desses exemplos vem da
incomparável façanha de Paulo de Tarso, o Apóstolo dos Gentios que numa só
existência passou de inimigo do Cristo a defensor intransigente das propostas
do Messias, por haver compreendido – depois de meditar durante apenas oito
anos! – a extensão e o significado da mensagem cristã.
No entanto, o texto em análise
exige conheçamos o complemento das palavras de Judas, oculto nas reticências entre
parênteses: “(...) pois vos diziam: ‘Nos últimos tempos surgirão
escarnecedores, que levarão uma vida de acordo com as suas próprias concupiscências
ímpias’. São estes os que causam divisões, estes seres ‘psíquicos’, que não têm
o Espírito.” Judas repete, em sua carta, o mesmo aviso dado por Jesus sobre o
aparecimento de falsos cristos e falsos profetas, homens interessados em
enganar os incautos para auferir vantagens materiais – e nestes tempos de
conturbação em que vive a Humanidade eles se multiplicam consideravelmente.
Porém, “não têm o Espírito”, isto é, não vêm da parte de Deus nem guardam qualquer
compromisso com o Cristo, embora o afirmem, iludindo os de boa fé.
“Tá tudo aí”... Mas, então, se é
assim, por que Deus precisa ocasionalmente enviar à Terra os reveladores de sua
vontade, sendo que as leis divinas estão inscritas em nossa consciência? – quis
saber Allan Kardec (**), recebendo dos
Espíritos Superiores a informação de que homem muito facilmente se esquece
desse fato. Ora, o mais recente esforço da Divindade nesse sentido é a Doutrina
Espírita, que não completou ainda dois séculos entre nós e, por isso, está
longe de cumprir seus objetivos, facultando ao homem o conhecimento profundo do
Evangelho e a consequente prática do ensinamento de Jesus, mediante o discernimento
entre o que é real e o que é ilusório, o que é permanente e o que é
transitório...
Notas
(*) O autor dessa epístola é certamente Judas Tadeu, uma vez
que o outro apóstolo com esse nome foi o “traidor”, chamado Iscariotes.
(**) Ver, em O Livro dos Espíritos, as questões 619 e
seguintes.
Meu amigo irmão Chico, bela passagem e belo comentário, essa doutrina consoladora ainda tão nova, porém tão rica de ensinamentos. Daí o belo ensinamento contido no Evangelho Segundo o Espiritismo, no cap. 6, item 5: “Espíritas!, amai-vos, eis o primeiro ensinamento. Instruí-vos, eis o segundo. Todas as verdades são encontradas no Cristianismo; os erros que nele criaram raiz são de origem humana. E eis que, além do túmulo, em que acreditáveis o nada, vozes vêm clamar-vos: Irmãos! nada perece. Jesus Cristo é o vencedor do mal, sede os vencedores da impiedade!” – (Espírito de Verdade. Paris, 1860.).
ResponderExcluirFraternal abraço e fica com Deus,
Filipe
Oi, Filipe, obrigado pelo abraço e pelas palavras estimulantes. Sim, temos na Doutrina Espírita o cumprimento da promessa quanto à consolação que nos chega pelo esclarecimento relativo à verdade da vida espiritual, fazendo-nos caminhar com segurança na direção de um futuro mais luminoso. Sigamos juntos e confiantes no amparo do Alto!
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