Francisco Muniz -
Próximo de finalizarmos este estudo de algumas passagens do Novo
Testamento sob a luz da Doutrina dos Espíritos, nossos comentários de hoje, dia
24 de junho, vão abordar o versículo 6 do sexto capítulo do Evangelho de Marcos,
que aparece sob a epígrafe “Visita a Nazaré”. O texto, copiado da Bíblia de
Jerusalém, traz uma informação curiosa:
“E admirou-se da incredulidade deles.”
É em O que é o Espiritismo, e também em O Livro
dos Médiuns, que Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, pondera
acerca dos incrédulos, negadores sistemáticos que tudo admitem menos a verdade
que se apresenta cristalina aos seus olhos, pelo simples fato de que ou não
querem acreditar ou, o que é pior, têm plena convicção de que o que observam
não existe! Ora, em diversas ocasiões, durante seu curto quão profícuo messianato,
o Cristo nos chamou a atenção no sentido de desenvolvermos “olhos de ver e
ouvidos de ouvir”, a fim de compreendermos suas lições e as praticássemos,
encurtando a distância que nos separa do Reino dos Céus.
Faz todo sentido, portanto, que Jesus se admirasse da
incredulidade de seus concidadãos, os habitantes de Nazaré, uma vez que o viram
crescer, conheciam seus pais e certamente observaram, minimamente que fosse, um
fato que os fizesse curiosos ou impressionados a tal ponto que jamais
esquecessem. No segundo volume do livro A história triste (*),
intitulado “Hatte”, a autora espiritual registra o episódio em que o filho de
Teia encontra-se com o jovem Jesus e, em razão do drama que o acompanha, cospe
na direção do futuro Messias. A saliva cai no chão, aos pés daquele adolescente
que aos 12 anos já sabia que devia cuidar das coisas de seu Pai, e no lugar onde
caiu o cuspe brota de imediato uma flor.
Acontecimentos assim, e mesmo a conversa do menino nazareno
com os doutores da lei no templo de Jerusalém, conforme narrado em Lucas 2:41-52,
talvez se dessem à vista de algumas pessoas em Nazaré. Muitos daqueles que
então se mostravam indignados ante a ousadia do Rabi ao se proclamar o Enviado
das profecias de Isaías certamente foram seus companheiros de folguedos juvenis
e devem ter observado um ou outro fenômeno inusitado ou simplesmente notavam o
comportamento diferente do filho de Maria e do carpinteiro José. Por que,
agora, manifestavam-se incrédulos? Em resposta, o Rabi declara que ninguém é
profeta em sua pátria, simbolizando em Nazaré toda a Palestina, todo o planeta,
porquanto muitos de nós ainda nos manifestamos incrédulos perante sua figura
enigmática e sua mensagem libertadora.
Numa leitura mais aprofundada, porém, vamos perceber que
Jesus é, em nossa estrutura espiritual, o Eu superior dinamizando o eu
inferior, representado pelo ego representado pela personalidade em sus
diferentes manifestações. Voltado unicamente para o que conhece de sus
experiências imediatistas, o ego não se deixa vencer facilmente pela instância
superior e o Espírito imortal precisa então lutar o bom combate, na expressão
paulina, a fim de que a instância inferior, ego-sonhada, ceda, aos poucos, lugar
à condição que em muito o beneficiará, tornando-se cristo-pensada, como diria
Huberto Rohden (**). Tudo isso quer dizer que, um dia, o ego se surpreenderá afirmando,
como Paulo de Tarso, sua união com a dimensão máxima: “Já não sou eu que vivo,
mas o Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20)!
Notas
(*) Obra do Espírito Patience Worth ditada à médium
norte-americana Lenore Pearl Curran, traduzida no Brasil por Hermínio Miranda e
publicada pela ed. Lachâtre em três volumes (“Panda”, “Hatte” e “Jesus”), mais
um Anexo no qual é contada uma versão da história de Maria de Magdala.
(**) Ver, por exemplo, os livros A Metafísica do
Cristianismo e Profanos e Iniciados, de Huberto Roden (ed.
Alvorada).
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