Esta data no Evangelho (23 de junho)

Francisco Muniz -



Próximo de finalizarmos este estudo de algumas passagens do Novo Testamento sob a luz da Doutrina dos Espíritos, nossos comentários de hoje, dia 24 de junho, vão abordar o versículo 6 do sexto capítulo do Evangelho de Marcos, que aparece sob a epígrafe “Visita a Nazaré”. O texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, traz uma informação curiosa:

“E admirou-se da incredulidade deles.”

É em O que é o Espiritismo, e também em O Livro dos Médiuns, que Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita, pondera acerca dos incrédulos, negadores sistemáticos que tudo admitem menos a verdade que se apresenta cristalina aos seus olhos, pelo simples fato de que ou não querem acreditar ou, o que é pior, têm plena convicção de que o que observam não existe! Ora, em diversas ocasiões, durante seu curto quão profícuo messianato, o Cristo nos chamou a atenção no sentido de desenvolvermos “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, a fim de compreendermos suas lições e as praticássemos, encurtando a distância que nos separa do Reino dos Céus.

Faz todo sentido, portanto, que Jesus se admirasse da incredulidade de seus concidadãos, os habitantes de Nazaré, uma vez que o viram crescer, conheciam seus pais e certamente observaram, minimamente que fosse, um fato que os fizesse curiosos ou impressionados a tal ponto que jamais esquecessem. No segundo volume do livro A história triste (*), intitulado “Hatte”, a autora espiritual registra o episódio em que o filho de Teia encontra-se com o jovem Jesus e, em razão do drama que o acompanha, cospe na direção do futuro Messias. A saliva cai no chão, aos pés daquele adolescente que aos 12 anos já sabia que devia cuidar das coisas de seu Pai, e no lugar onde caiu o cuspe brota de imediato uma flor.

Acontecimentos assim, e mesmo a conversa do menino nazareno com os doutores da lei no templo de Jerusalém, conforme narrado em Lucas 2:41-52, talvez se dessem à vista de algumas pessoas em Nazaré. Muitos daqueles que então se mostravam indignados ante a ousadia do Rabi ao se proclamar o Enviado das profecias de Isaías certamente foram seus companheiros de folguedos juvenis e devem ter observado um ou outro fenômeno inusitado ou simplesmente notavam o comportamento diferente do filho de Maria e do carpinteiro José. Por que, agora, manifestavam-se incrédulos? Em resposta, o Rabi declara que ninguém é profeta em sua pátria, simbolizando em Nazaré toda a Palestina, todo o planeta, porquanto muitos de nós ainda nos manifestamos incrédulos perante sua figura enigmática e sua mensagem libertadora.  

Numa leitura mais aprofundada, porém, vamos perceber que Jesus é, em nossa estrutura espiritual, o Eu superior dinamizando o eu inferior, representado pelo ego representado pela personalidade em sus diferentes manifestações. Voltado unicamente para o que conhece de sus experiências imediatistas, o ego não se deixa vencer facilmente pela instância superior e o Espírito imortal precisa então lutar o bom combate, na expressão paulina, a fim de que a instância inferior, ego-sonhada, ceda, aos poucos, lugar à condição que em muito o beneficiará, tornando-se cristo-pensada, como diria Huberto Rohden (**). Tudo isso quer dizer que, um dia, o ego se surpreenderá afirmando, como Paulo de Tarso, sua união com a dimensão máxima: “Já não sou eu que vivo, mas o Cristo vive em mim” (Gálatas 2:20)!

Notas  

(*) Obra do Espírito Patience Worth ditada à médium norte-americana Lenore Pearl Curran, traduzida no Brasil por Hermínio Miranda e publicada pela ed. Lachâtre em três volumes (“Panda”, “Hatte” e “Jesus”), mais um Anexo no qual é contada uma versão da história de Maria de Magdala.

(**) Ver, por exemplo, os livros A Metafísica do Cristianismo e Profanos e Iniciados, de Huberto Roden (ed. Alvorada).


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