Francisco Muniz -
O versículo 14 do sexto capítulo de Atos dos Apóstolos, correspondente
à segunda parte desse livro, intitulada “As primeiras missões”, oferece o tema
dos comentários que deveremos fazer hoje, dia 22 de junho, no prosseguimento do
estudo de algumas passagens do Novo Testamento. Nossa abordagem, conforme já
informado, decorre do aprendizado da Doutrina dos Espíritos. Eis o texto,
colocado sob a epígrafe “Prisão de Estêvão” e copiado, como sempre, das páginas
da Bíblia de Jerusalém:
“Pois ouvimo-lo dizer repetidamente que esse Jesus, o
Nazareu, destruirá este Lugar e modificará os costumes que Moisés nos
transmitiu’.”
O evangelista narra o falso testemunho levantado contra
Estêvão, quando, para comprometer aquele que seria o primeiro mártir do Cristianismo,
disseram que ele pregava contra o Templo de Jerusalém e contra a Lei mosaica.
Estêvão não estava errado: Jesus realmente disse que, destruído o templo onde
se encontrava, ele o reconstruiria três dias depois, assim como afirmou ter
vindo para cumprir a lei. Entretanto, é preciso notar o simbolismo da linguagem
do Messias, que se referia ao corpo material, que é, em verdade, o templo do
Espírito imortal nele encarnado; e a lei que efetivamente deve ser cumprida é
aquela de origem divina, e não o código civil instituído por Moisés para
controlar os hebreus de entendimento estreito e coração endurecido. Por isso, o
Mestre, ao iniciar suas pregações, usava estas palavras: “Ouvistes o que foi
dito aos antigos; eu, porém, vos digo...” – e dava o ensinamento novo que até
hoje pelejamos para compreender e praticar.
Mas o templo referido por Jesus e Estêvão não é somente o
corpo, porquanto a palavra “lugar” certamente tem outra conotação e pode
indicar o estado (“status”) em que o Espírito se expressa, manifestando seus
sistemas de crença com relação à sua natureza própria e, também, à posição que
ele ocupa na vida, determinada pelo corpo que ele ocupa momentaneamente. Ou
seja: as ilusões criadas por sua mente, capazes de elevá-lo aos píncaros
celestiais caso faça a opção pelo bem, ou degradá-lo nos abismos de sua
inferioridade se a escolha recair sobre o mal, contrariando a Vontade divina.
Foi para promover essa revolução radical, levando o ser a revolver sua
intimidade a fim de resgatar sua essência divina da corrupção da matéria, que o
Filho de Deus veio ao mundo, para mostrar ao Homem seu verdadeiro lugar na Obra
da Criação.
Depreende-se, assim, que a mensagem libertadora do Cristo é
de cunho universal, atingindo toda a Humanidade, as ovelhas do rebanho que Deus
lhe confiou. Entretanto, grande parte desse rebanho segue transviada, isto é,
distante da proposta de renovação apregoada no Evangelho. É um erro pensar que
a mensagem evangélica seja localizada, dirigida unicamente aos seguidores
voluntários de Jesus, pois também estes (nós!), embora nos digamos cristãos,
também nos afastamos uns dos outros ao estabelecermos lugares de domínio, ou
atuação, quando o ideal é nos irmanarmos a fim de disseminarmos cada vez mais
as verdades transformadoras de que temos notícia desde dois mil anos atrás.
A bandeira sob cuja sombra nos abrigamos é aquela que
proclama bem alto os valores imortais “Deus, Cristo e Caridade”, conforme
salienta o Espírito Humberto de Campos no livro Brasil, coração do mundo,
pátria do Evangelho (*), que traça a missão espiritual da Pátria do Cruzeiro
perante as demais nações do planeta. Se para cá foi transladada a árvore do
Evangelho, que aqui encontrou solo fértil para as ações abnegadas dos novos
servidores de Jesus, o lugar de atuação dos “trabalhadores da última hora” é o
mundo inteiro...
(*) Psicografia do médium Francisco Cândido Xavier;
publicação da Federação Espírita Brasileira (1938).
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