Francisco Muniz -
Ao tempo de Jesus, aqueles que Allan Kardec nos apresentou como “obsessores” eram conhecidos pela alcunha de “Espíritos imundos”, os perseguidores desencarnados que há milênios não dão paz à Humanidade. Demônios, anjos malignos? Já foram chamados de tudo, mas, na atualidade, precisamos compreender exatamente o que eles representam para cada um de nós. Para tanto, vamos nos debruçar hoje, dia 21 de junho, sobre o texto do versículo 27 do sexto capítulo do Evangelho de Lucas, que é colocado sob a epígrafe “O amor aos inimigos”, conforme lido na Bíblia de Jerusalém:
“Eu, porém, vos digo a vós que me escutais: Amais os
vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam (...)”
A frase continua no versículo 28 e assim devassamos o
segredo das reticências: “(...) bendizei os que vos amaldiçoam, orai por
aqueles que vos difamam”. São recomendações de Jesus que sem o esclarecimento
espírita recaem somente sobre os encarnados, e assim mesmo com muita
dificuldade, pois podemos contar nos dedos aqueles que abnegadamente são
capazes de perdoar quem lhes tenha feito algum mal. No entanto, como a morte
não existe, nossos desafetos que partem da Terra pelo caminho do túmulo
continuam vivendo e alimentando sua animosidade para conosco e, agora
invisíveis, podem mais facilmente nos atormentar através de sua perseguição
insidiosa. Creem, com alguma razão, que lhes devemos alguma coisa e,
vingativos, fazem tal cobrança à custa de nossa tranquilidade, desejando que
experimentemos os mesmos tormentos que julgam lhes termos infligido.
Cegos para a Verdade, porém, e desprezando os estatutos da
Justiça Divina, os inimigos desencarnados, tanto quanto os encarnados que se
mantêm rebeldes ante os convites do Bem (a Parábola do Festim de Bodas é uma
bela metáfora desse comportamento), eles exercem sua ação perniciosa até o
momento em que a Misericórdia entra em cena, modificando seus planos nefastos.
É quando, cansadas de visitar consultórios médicos ou buscar ajuda nos templos
religiosos, suas “vítimas” (*) são encaminhadas a uma instituição espírita,
onde são tratadas e, principalmente, esclarecidas quanto ao que lhes acontece,
passando então a fazer uso da terapêutica recomendada em tais casos, com a
finalidade de diminuir ou cessar o efeito dessas relações infelizes: a adoção
dos conceitos evangélicos em sua vida, perdoando os perseguidores e a eles
pedindo perdão, modificando o próprio comportamento e o padrão de pensamento
adotado até então.
A transformação íntima, portanto, é o remédio mais eficaz
para não apenas corrigirmos nossas imperfeições e curarmos as mazelas que nos
afligem, mas, sobretudo, para aprendermos a amar a todos que cruzem nosso
caminho no rumo do crescimento espiritual. Segundo Allan Kardec, o amor aos
inimigos não é nem pode ser o mesmo que devotamos a quem nos quer bem, porque “esse
sentimento resulta mesmo de uma lei física: a da assimilação e da repulsão dos
fluidos” (**). Não se trata, entenda-se, de “ter para com eles uma afeição que
não está na Natureza, porque o contato de um inimigo faz bater o coração de
maneira bem diferente do de um amigo”, afirma o Codificador, salientando que
amá-los “é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; é
perdoar-lhes sem segunda intenção e incondicionalmente o mal que nos fazem; é
não opor nenhum obstáculo à reconciliação (...)”, até o dia em que nos
tornarmos realmente inofendíveis!
Notas
(*) Nessa área, é impossível dizer quem seja vítima ou
algoz, verdadeiramente, porque se estabeleceu um vínculo talvez milenar de
contínuas ações e reações que só se romperá com o perdão de parte a parte.
(**) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XI (“Amai
os vossos inimigos”), item 3.
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