Esta data no Evangelho (20 de junho)

Francisco Muniz -



“A esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme, penetrando para além do véu (...)”

Essa frase integra o penúltimo versículo, o de número 19, do capítulo 6 da Epístola de Paulo aos Hebreus, o qual deveremos comentar neste dia 20 de junho, prosseguindo nosso estudo de algumas passagens do Novo Testamento segundo a luz do Espiritismo. O texto, lido na Bíblia de Jerusalém, onde é colocado sob a epígrafe “Palavras de esperança e de encorajamento”, é ainda, nessa Carta, a tentativa de Paulo de Tarso demonstrar “o autêntico sacerdócio de Jesus”, de acordo com a Ordem de Melquisedeque.

É nosso dever, antes de prosseguirmos nestes comentários, decifrar o mistério oculto nas reticências entre parênteses e para isto vamos ao versículo 20, que fecha o capítulo: “(...) onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito sumo sacerdote para a eternidade, segundo a ordem de Melquisedeque”. Ninguém como Paulo compreendeu a grandiosidade do ensinamento e das ações de Jesus, o Cristo de Deus, o protótipo da Humanidade do futuro, o Messias que veio nos ajudar a redimirmos o passado criminoso, libertando-nos das peias da matéria a fim de adorarmos a Deus, em espírito e verdade, na intimidade de nós mesmos. Desse modo, cada homem, cada filho do Altíssimo que faça sua experiência religiosa com a eficiência possível, será, a breve tempo, também um sacerdote da Ordem de Melquisedeque (*), assim como o foi o Apóstolo dos Gentios.

Vamos reconhecer, portanto, que o “véu por onde Jesus entrou, como precursor” é o conhecimento da verdade relativa ao mundo espiritual, que se fez mais evidente devido à interpretação espírita, pelo esforço de Allan Kardec e, mais tarde, daqueles que deram continuidade e seguem complementando sua obra. Nesse aspecto, os holofotes recaem sobremaneira no trabalho inigualável do Espírito André Luiz, transmitindo-nos detalhes da vida no Além pela mediunidade abençoada de Francisco (Chico) Cândido Xavier, cuja desencarnação completa 20 anos neste junho de 2022. É graças à variedade das faculdades mediúnicas, que Paulo tratava como “carismas”, que a esperança se revela como “âncora da alma”, porquanto os Espíritos vêm nos dizer, pelo intercâmbio mantido com eles, que a morte não existe e, consequentemente, os seres que se amam não estão absolutamente separados nem “perdidos”.

Temos todos um destino chamado felicidade que se encontra na dimensão do Espírito imortal, longe das ilusões da matéria; é essa nossa fatalidade, segundo nos diz a Benfeitora Joanna de Ângelis, através da psicografia do médium Divaldo Franco. Tal pensamento só nos infunde mais esperança na obtenção do melhor e, considerando nossa posição perante o Cristo, esse “melhor” outra coisa não pode ser senão a constatação de nosso crescimento espiritual em pelo menos um centímetro além de nossa condição atual. Como se vê, não se trata de alcançarmos um enganoso “céu” de beatitudes, nem de escaparmos de um igualmente ilusório “inferno” de eterna condição; trata-se, em verdade, de vencermos a nós mesmos, naquilo que ainda apresentamos de imperfeito ou defeituoso. Ancorada na firmeza da esperança, a alma se sentirá, então, bastante segura para desenvolver as asas do amor e da sabedoria, com as quais singrará os mares da evolução certa de que atingirá o objetivo proposto: a Perfeição!

(*) Melquisedeque foi um rei que viveu no tempo de Abraão. Como ele era contemporâneo desse patriarca, obviamente não pertencia à sua linhagem, de modo que não fazia parte do povo judeu. Mesmo assim, a Bíblia diz que ele era sacerdote de El Elyon, isto é, do Deus Altíssimo, e seu sacerdócio era tão legítimo que o próprio Abraão pagou dízimo a ele, sendo por ele abençoado (Gênesis 14).

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