Francisco Muniz -
A relação entre pais e filhos é o tema dos comentários que
devemos fazer neste dia 18 de junho, quando homenageio meu filho, Caio, pelo
transcurso de mais um aniversário. Neste prosseguimento do estudo de algumas passagens
do Novo Testamento, calhou de abrirmos a Bíblia de Jerusalém na Epístola
de Paulo aos Efésios, onde encontramos, no capítulo 6, os versículos 1 a 4
(será mais útil agrupá-los, a fim de melhor observarmos o sentido do pensamento
paulino). Eis o texto, sob a epígrafe “Moral doméstica”, que abordaremos de
acordo com o aprendizado da Doutrina Espírita:
“Filhos, obedecei aos vossos pais, no Senhor, pois isso é
justo. Honra a teu pai e a tua mãe – é o primeiro mandamento com promessa –
para seres feliz e teres uma longa vida sobre a terra. E vós, pais, não deis a
vossos filhos motivo de revolta contra vós, mas criai-os na disciplina e
correção do Senhor.”
O falecido cantor Belchior cantava, em sua bela composição Fotografia
3x4, que “desses casos de família e de dinheiro eu nunca entendi bem”. Mas
talvez faltasse ao cantor cearense, como nos falta a todos que não fomos acostumados
a uma cultura marcada pelo cultivo de valores religiosos, a leitura dos
escritos de Paulo de Tarso. Nessa sua Carta aos Efésios (*), o Apóstolo dos
Gentios apresenta-se conselheiro, alertando a todos – até os dias de hoje! –
para que andemos com cuidado, “não como tolos, mas como sábios”, citando estes
versos: “Ó tu, que dormes, desperta e levanta-te de entre os mortos, que Cristo
te iluminará”. São conselhos oferecidos aos fiéis, na generalidade, às mulheres
e aos maridos, na especificidade de cada um, bem como aos filhos.
Todos temos deveres uns para com os outros e os dos filhos
para com seus pais são tão importantes quanto os dos pais para com eles,
principalmente em vista de que todos somos Espíritos imortais aprendendo a
conviver a fim de nos reconciliarmos perante as leis divinas, que preconizam a
harmonia entre os seres da Criação. Nessa passagem, Paulo salienta ser o quarto
mandamento do Decálogo (**) o primeiro feito “com promessa”, estabelecendo uma
finalidade em sua observação: a felicidade e uma vida dilatada na terra. A esse
respeito, importa conhecermos, ou recordarmos, o ensinamento espírita sobre o
assunto, explicado sob o ponto de vista da reencarnação. Para tanto, Allan
Kardec resgata a forma original do mandamento, que inclui a expressão “que o
Senhor vosso Deus vos dará” – “suprimidas na forma moderna do decálogo” (***) –
após as palavras “longa vida sobre a terra”.
Desse modo, compreendemos que a tarefa de educação dos
filhos transcende o tempo e é, em verdade, um esforço que fazemos, nós, os
pais, em benefício de nós mesmos, desde que saibamos ser bons filhos,
conscientes de nosso papel perante aqueles que nos trouxeram à experiência
física, sabendo que lhes propiciaremos igual oportunidade no futuro, trocando
de posição. Foi por esse motivo que Jesus perguntou, na casa de Simão Pedro,
quando lhe foram informar que seus familiares o estavam procurando: “Quem é
minha mãe e quem são meus irmãos?” (Mateus 12:46 a 50), porquanto a
reencarnação faculta a vivência de diferentes experiências com vistas ao
aprendizado comum. Assim, o filho de hoje pode ter sido o pai ou a mãe de ontem
e os pais poderão retornar como netos daqueles que foram seus filhos, tanto
quanto aquela que foi mãe numa existência pode experimentar a condição de pai –
e vice-versa –, o que é perfeitamente lógico, observando-se aí a justiça de
Deus, que quer que seus filhos tenham as mesmas oportunidades de progresso.
Notas
(*) Os fiéis da Igreja de Éfeso, cidade hoje pertencente à
Turquia, a mesma onde João, o evangelista, instalou, numa modesta casinha, a
Mãe do Senhor, Maria Santíssima.
(**) Os 10 mandamentos da Lei recebidos por Moisés no alto
do Monte Sinai, onde ficou, segundo o relato bíblico, durante quarenta dias em
contato com Iahweh (nome hebraico de Deus), pela via mediúnica.
(***) Ver o Cap. XIV, itens 3 e 4 de O Evangelho Segundo
o Espiritismo (“Honrai a vosso pai e a vossa mãe”).
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