Francisco Muniz -
De volta ao sexto capítulo do Evangelho de João, nosso
estudo de temas do Novo Testamento nos leva hoje, dia 16 de junho, ao versículo
67, o qual comentaremos a seguir, sob a inspiração da Doutrina Espírita. O
texto, copiado, como é praxe, da Bíblia de Jerusalém, vem sob a epígrafe
“A confissão de Pedro”:
“Então, disse Jesus aos Doze: “Não quereis também vós
partir?”
Essa pergunta de Jesus, João a coloca como parte do longo discurso
na sinagoga de Cafarnaum, quando o Mestre se declara o Messias, “o pão descido
do céu”, sem ser devidamente compreendido, razão por que “muitos de seus discípulos,
ouvindo-o, disseram: ‘Essa palavra é dura! Quem pode escutá-la?’” (João 6:60) O
Cristo “sabia, com efeito, desde o princípio, quais os que criam e quem era aquele
que o entregaria. E dizia: ‘Por isso vos afirmei que ninguém pode vir a mim, se
isso não lhe for concedido pelo Pai’. A partir daí, muitos discípulos voltaram
atrás e não andavam mais com ele.” (João 6:64-66) E ante o questionamento do
Rabi, Pedro se confessa: “Senhor, a quem iremos? Tu tens palavras de vida
eterna e nós cremos e reconhecemos que tu és o Santo de Deus.” (João 6:68-69)
Dizemos, frequentemente, que não é fácil ser espírita, como
também não o é ser cristão, em razão das renúncias – algumas pessoas não
suportam o peso da palavra “sacrifício”, por não assimilarem seu real
significado – que os seguidores sinceros, ou realmente fiéis, do Cristo somos
chamados a fazer na correspondência à atenção aos apelos do Alto. De vez em
quando surge a notícia de um companheiro da Causa que desertou de nossas
fileiras; no início deste século XXI, toda uma instituição espírita tornou-se “de
repente” protestante. Até então, eu, particularmente, não entendia que pudesse
haver ex-espíritas, observando a excelência da Doutrina codificada por Allan
Kardec. Mas já vimos aqui que certas defecções ou dissidências servem ao
trabalho de ampliação da mensagem libertadora, formando novos núcleos de
atividade cristã.
O problema todo é nos colocarmos contrários ao Cristo por
não compreendermos ou não aceitarmos sua doutrina revolucionária, pois só ele é
o Caminho da Verdade e da Vida, ao passo que há, no mundo, muitos caminhos – as
religiões – que se apresentam como atalhos para se chegar a Deus apresentando
facilidades ilusórias a seus fiéis. Tal é a ação dos falsos profetas. Num de
seus livros da série Histórias que os Espíritos Contaram (*), o escritor
espírita Hermínio Miranda narra o caso de um antigo seguidor do Cristo que,
acreditando que a mensagem de Jesus, tal como proferida pelo Mestre, demoraria
muito para chegar a converter um grande número de mentes e assim pretendeu
mesclar às lições do Evangelho suas próprias noções. O resultado foi desastroso
para ele, que criou em torno de si densas trevas seculares que somente o amor
do Messias foi capaz de dissipar.
Ora, o que Jesus nos pede, desde dois mil anos atrás é que
acreditemos nele, nós que dizemos crer em Deus, e sejamos capazes de dar os
passos necessários para nossa transformação moral, o que não acontece da noite
para o dia. É certo que há aquilo que os falantes da língua inglesa chamam de “insight”,
aquele estalo que nos faz despertar quase que de inopino para a verdade de uma
ideia, mas isso é o resultado de um esforço prévio, quase inconsciente,
correspondendo a este dito: quando o trabalhador está pronto o serviço aparece
(*). Tal trabalho, contudo, é obra do tempo e temos toda a Eternidade para realizá-lo,
porque, embora a tarefa seja urgente, urgentíssima, não pode ser feita com
pressa.
Notas
(*) São três livros: O Exilado; A Irmã do Vizir; e A Dama da
Noite, publicados separadamente pelas Edições Correio Fraterno, de São Bernardo
do Campo, SP, ou em conjunto por várias editoras.
(**) Aforisma retirado do livro Nosso Lar (André Luiz
– Chico Xavier), ed. FEB.
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