Francisco Muniz -
Sob a epígrafe “Solene admoestação a Timóteo”, o versículo
11 do sexto capítulo da Primeira Epístola de Paulo a Timóteo traz a lição que
comentaremos neste dia 15 de junho, prosseguindo nosso estudo de algumas passagens
do Novo Testamento sob a inspiração da Doutrina dos Espíritos. O texto, copiado
da Bíblia de Jerusalém, diz o seguinte:
“Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas. Segue a
justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão.”
Aí temos um precioso conselho do Apóstolo dos Gentios, tratando
de nossa (não só de Timóteo naqueles tempos) necessidade de cultivarmos as
virtudes, a fim de conquistarmos os tesouros do céu, como alertou Jesus, um
pouco antes. No entanto, interessa-nos saber de que tipo de coisas Paulo pediu
que seu filho do coração fugisse, de modo que temos de conhecer os versículos
anteriores, carimbados com a epígrafe “Retrato do verdadeiro e do falso doutor”,
remetendo-nos à descrição dos falsos Cristos e falsos profetas feita por Allan
Kardec em O Evangelho Segundo o Espiritismo (*). Assim é que no
versículo 10 – para não irmos muito longe – o Apóstolo vaticina que “a raiz de
todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado desejo alguns se afastaram
da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos tormentos”.
Compreendemos, portanto, que, sendo homens de Deus, isto é,
pessoas comprometidas com o bem, o belo e a verdade, marcas da Criação, os
discípulos do Cristo haverão de palmilhar o caminho da justiça e da piedade
manifestando fé sólida e amor incondicional, perseverando na jornada redentora
sem violentar a integridade de quem quer que seja. Mas a estrada de quem
escolhe semelhante jornada é, necessariamente, ponteada de tentações, perigos e
desafios que são a via crúcis propiciadora das alegrias futuras, ainda que as
dificuldades pareçam às vezes insuperáveis. Por isso é que o Mestre nos pede,
desde dois mil anos atrás, que aprendamos a renunciar a nós mesmos e tomar
nossa cruz sobre os ombros, a fim de podermos de fato segui-lo.
Nessa caminhada, devemos estar atentos para não nos
desviarmos do caminho reto que leva à porta estreita, evitando as facilidades
que a vida material oferece aos incautos. A esse respeito, o Cristo explicou
ser larga a porta da perdição e o caminho que a ela conduz é espaçoso, sendo
muitos os que entram por elas; ao contrário, a porta da vida é estreita, tanto
quanto o caminho que a ela nos leva, daí serem poucos os que a encontram
(Mateus 7:13 e 14). Por essas imagens conseguimos depreender quanto de esforço
precisamos fazer no sentido de buscarmos e desenvolvermos as disciplinas
imprescindíveis ao crescimento espiritual. Segundo Kardec, “a porta da perdição
é larga, porque as más paixões são numerosas, e o caminho do mal é frequentado pela
maioria” (**).
No livro Nosso Lar, no qual o Espírito André Luiz
registra as desventuras experimentadas após sua desencarnação e consequente
chegada ao mundo espiritual, é narrado um episódio dos mais significativos em
relação ao assunto que ora abordamos. É quando D. Laura, mãe do enfermeiro
Lísias, realiza em seu lar um culto do Evangelho marcando a cerimônia de
despedida de familiares e amigos em razão de sua próxima reencarnação. Naquele
momento, André se admira ao ver a imagem do Espírito que seria na Terra o
esposo de D. Laura – já reencarnado, portanto – sendo transmitida num aparelho
semelhante aos nossos televisores. Em sua transcomunicação, esse Espírito
apelava aos familiares que ficavam naquela Colônia para que orassem por ele,
dando-lhe forças para não sucumbir às facilidades da vida material. Certamente,
há quem ore por nós também!
Notas
(*) Ver o Cap. XXI (“Haverá falsos Cristos e falsos profetas”).
(**) O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XVIII, item 5.
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