Francisco Muniz -
O tema de nossos comentários neste dia 14 de junho vem do versículo 29 do sexto capítulo do Evangelho de João, colocado sob a epígrafe “Discurso na sinagoga de Cafarnaum”, para continuidade do estudo de algumas passagens do Novo Testamento. Nossa abordagem, como já é sabido, é feita sob a luz diáfana da Doutrina dos Espíritos e o texto, copiado da Bíblia de Jerusalém, é este:
“Respondeu-lhes Jesus: ‘A obra de Deus é que creiais
naquele que ele enviou’.”
Uma vez escrevi (*) que ninguém ficava indiferente a Jesus,
o Cristo de Deus enviado ao mundo para esclarecer os homens quanto à sua
condição de Espíritos imortais necessitados de envidar esforços no sentido de
se libertarem das amarras materiais que os escravizam à inferioridade moral. Ninguém
lhe ficava indiferente, amando-o incontinenti, aceitando a mensagem
profundamente consoladora que trazia, ou odiando-o, repudiando suas palavras,
que, para as almas aferradas ao mal, eram como chicotadas por mostrarem a
verdade que tais consciências equivocadas teimavam em escamotear. Em razão
disso, até hoje, passados dois mil anos da passagem do Celeste Emissário pela
Terra, há resistência quanto à aceitação de sua mensagem de amor, bastando que
acreditássemos nele, que é e será sempre o caminho da Verdade e da Vida.
Segundo o médium mineiro Francisco Cândido Xavier, a grande
antena psíquica cujo trabalho abnegado junto aos Espíritos deu prosseguimento à
obra iniciada por Allan Kardec no século XIX, “o Cristo não pediu muita coisa,
não exigiu que as pessoas escalassem o Everest ou fizessem grandes sacrifícios.
Ele só pediu que nos amássemos uns aos outros”. Porque, embora amarmo-nos uns
aos outros possa parecer, às vezes, como subir uma íngreme montanha ou enorme
sacrifício, esse é o caminho do crescimento espiritual, também chamado de “salvação”.
Para que nos salvemos de nós mesmos, porém, o Amigo Divino aponta ser necessário
realizarmos a obra de Deus e essa obra, diz o evangelista, repetindo o Mestre,
é acreditarmos nele, como pediu-nos quando ensinou sobre as várias moradas da “Casa
do Pai”: “Credes em Deus, crede também em mim!” (João 14:1-12)
No que concerne ao Espírito imortal, a obra divina é ele próprio,
como criatura de Deus em processo constante de reconstrução, ou reeducação, despertando
para a Realidade verdadeira e, a partir daí, esforçar-se incessantemente para
alcançar a Perfeição proposta por Jesus, o que significa chegar à condição de
plenitude que é a união com o Criador, representada na frase de Jesus “eu e o
Pai somos um”. Para tanto, importa reconhecermos que, conforme entendeu
Pastorino (**), o Cristo está inseparavelmente vinculado a todos nós, em essência,
sendo a mais elevada instância espiritual de nosso ser, de modo que, para
chegarmos a Deus, precisamos ir a ele, viver nele efetivamente até conseguirmos
passar por ele, alcançando aquela dita, bendita, “perfeição”.
“Eu estou no meio de vós”, disse o Nazareno (Lucas 22:27), e
esse meio deve ser compreendido como a região mais profunda de cada um de nós,
o âmago de nosso ser espiritual, onde a dimensão crística se instalou e de onde
recebemos os apelos conscienciais para os esforços de amar e servir, porquanto
a frase completa anotada por Lucas é esta: “Eu estou no meio de vós como aquele
que serve”. Negarmos essa condição em nós mesmos, portanto, é mantermo-nos deliberadamente
na ignorância e no escravismo, sujeitando-nos aos enganos do personalismo,
expressão do materialismo que o Espiritismo veio combater, como bem informa Allan
Kardec nas páginas de O Livro dos Espíritos.
Notas
(*) Em meus livros Lições do Evangelho para a Vida Prática,
O Chamado (mensagens da Amiga Espiritual Irmã Rafaela) e Por Causa
Dele exponho esse pensamento.
(**) Carlos Torres Pastorino, autor de Sabedoria do
Evangelho (ed. Sabedoria) e Minutos de Sabedoria (ed. Vozes).
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