Francisco Muniz -
E eis que voltamos ao capítulo 6 de Atos dos Apóstolos,
livro este escrito pelo médico e evangelista Lucas, amigo de Paulo de Tarso,
para abordar o assunto trazido pelo versículo 7, o qual comentaremos à luz da
Doutrina dos Espíritos. A epígrafe ainda é a “Instituição dos Sete” e o texto,
lido na Bíblia de Jerusalém, traz esta redação:
“E a palavra do Senhor crescia. O número dos discípulos
multiplicava-se enormemente em Jerusalém, e considerável grupo de sacerdotes
obedecia à fé.”
Uma vez, num dos últimos congressos de Espiritismo
realizados no antigo Centro de Convenções de Salvador, um ex-presidente da
Federação Espírita do Estado da Bahia, vendo-me nos preparativos de minha
atividade, antes do início dos primeiros trabalhos do dia, perguntou-me quais
eram as novidades do evento daquele ano. Eu não soube o que responder, porque
achava que ele devia saber que tudo era novidade, em se tratando de
Espiritismo, uma ciência novíssima na face escura do planeta, marcado pela
ignorância dos homens. Mas ele talvez pensasse que, em se tratando de
Espiritismo, nada havia de novo, uma vez que os assuntos se repetem
seguidamente, justamente para propiciar o aprendizado, que se faz entre nós
pelo processo tautológico (*).
Entretanto, as pessoas estimam novidades, embora relutem em
desapegar das tradições, e nem mesmo o Cristianismo se manteve infenso a esse fato.
Como somos herdeiros de nós mesmos, no ambiente espírita repetimos esse
comportamento e é comum ouvirmos alguns companheiros exclamarem já “saber” do
tema de certas palestras. Assim é que a sabedoria popular informa que, no
início, tudo são flores, vindo em seguida as provações; no tocante ao Cristianismo,
o Mestre avisara que depois de sua partida haveria perseguições que esfriariam
o ânimo de muitos de seus seguidores.
Lucas diz, porém, que o número dos discípulos se
multiplicava e até mesmo doutores da lei, que exerciam o sacerdócio no Templo
de Jerusalém, se interessavam em conhecer a nova doutrina. Contudo, para o
Cristo, o número de seguidores não constitui o fulcro de sua causa, mas a
adesão sincera de cada um ao projeto de transformação íntima, instalando o
Reino dos Céus no próprio coração, a partir da vivência consciente das lições e
dos exemplos que ele nos legou. A causa, portanto, é a irrestrita fidelidade a
Deus, porquanto “o Evangelho do Reino não se destina aos que se encontram
satisfeitos e confortados na Terra; destina-se justamente aos corações que
aspiram a uma vida melhor!” (**)
Por isso é que Paulo de Tarso, cognominado o Apóstolo dos Gentios, prognosticando como se fará o ensino das lições do Cristo no futuro, pontua: “E não mais ensinará cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: - Conhece o Senhor! Porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior” (***). Em seus comentários acerca de temas evangélicos, nos livros da Série Fonte Viva (ed. FEB), o mentor espiritual Emmanuel faz importantes considerações quanto à relação entre as multidões e o Mestre nazareno. No livro Vinha de Luz, por exemplo, ele diz (Cap. 47) que, ainda hoje, “o povo (...) inclina-se para o Cristo com a mesma fascinação do primeiro dia”, contudo, “indiscutivelmente, considerados num todo, achamo-nos ainda longe da união com Jesus, em sentido integral”.
Notas
(*) Do grego, tautologia é a repetição de conceitos
educativos visando à aprendizagem.
(**) Ver, a respeito, o capítulo 16 (“O testemunho de Tomé”)
do livro Boa Nova (Humberto de Campos – Chico Xavier); ed. FEB.
(***) Epístola aos Hebreus 8:11.
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